Os Caça-Certificados
O fenômeno pode não ser novo, porém, vem crescendo exponencialmente atrelado ao advento do uso cada vez mais massivo das Novas Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (NTDICs). O propósito dessa abordagem é trazer para o plano da reflexão a ocorrência da proliferação de estudantes interessados em obter certificações em detrimento do conhecimento, vale dizer, valorizar mais a obtenção do título (papel) do que propriamente a aprendizagem.
Por óbvio, a oferta em abundância de capacitações rápidas (microcredenciais), sobretudo impulsionadas tanto pelo mercado (instituições privadas) quanto por instituições públicas, corroboradas pelo paradigma das competências e reforçadas ao mesmo tempo pela lógica centrada nas metodologias ativas, cuja ideia é reafirmar o papel mediador do professor e a centralidade do aprendente no processo de construção do conhecimento, vem contribuindo para o aparecimento de tal fenômeno, ora chamado de “Caça-Certificados”.
Basta uma pesquisa atenta nos motores de busca e logo se observará muito de perto a ânsia dos estudantes (aqui considerados no espectro ampliado do ser que aprende) em obter certificações sem a devida contrapartida epistemológica. As ofertas vão desde cursos livres com duração de 5 horas (ultrarrápidos) a especializações, gratuitos e pagos, o leque de opções tem conduzido os estudantes à corrida desenfreada por um conhecimento apressado e, em grande parte, pouco eficaz.
A percepção que se tem é aquela “do quanto mais melhor” – quanto mais certificado puder postar nas redes sociais ou no lattes – melhores são as chances de inclusão no mercado, porém, esse mercado que fomenta a lógica do “vapt vupt” epistemológico não é o mesmo que absorve a suposta mão de obra “capacitada”, gerando, portanto, expectativas que posteriormente se transformarão em frustrações.
Recomendados pelo LinkedIn
É claro que o viés não é demonizar ou desclassificar as microcredenciais, mas chamar a atenção para o fenômeno que vem a reboque delas. Numa breve enquete realizada no Linkedin observou-se que as pessoas, aparentemente, estão ávidas por robustecer seus currículos virtuais de certificados, visto que ao responderem à pergunta “quantos cursos rápidos (5 a 40 horas de duração) você já fez simultaneamente?”, dos cem respondentes, 63% realizaram de 2 a 5; 18% de 5 a 10 e 19% acima de 10 cursos ao mesmo tempo!
A partir dessa constatação duas inferências são possíveis a priori: ou de uma hora para outra o sujeito realmente aprendeu a aprender facilitando a absorção do conhecimento ou a banalização do conhecimento tomou centralidade no processo ilusório e subjetivo de que o que interessa é a certificação. Seja lá como for, o fato lastimável desse cenário é que cresce na mesma proporção uma sociedade de indivíduos apressados, possuidores de conhecimentos superficiais e difusos.
Faz-se necessário repensar esse modelo “the flash” de certificação que ganha cada vez mais adeptos, ainda que a retórica seja a de que os cursos rápidos visam proporcionar apenas de maneira introdutória determinado assunto, ficando a critério do sujeito aprendente aprofundar ou não o tema, afinal de contas, cada um é responsável pela construção do seu próprio conhecimento, outro mantra que tem alimentado o fenômeno dos Caça-Certificados.
Analista | Teste de Software (CTFL) | Business Intelligence | Power Bi | Google Sheets | Oracle
1 aMeu caro amigo, ótima reflexão sobre o tema. Ao ler percebi que o texto cabe como luva para o meu caso. Agradeço ao Senhor que sempre me traz uma nova reflexão.