Os Desafios da Avaliação numa Abordagem por Competências


A sociedade contemporânea vem impondo muitos desafios a todos nós, educadores, especialmente aos docentes. Na era da informação e das redes sociais, provocar interesse e fazer da sala de aula um ambiente ativo e interativo, é uma necessidade urgente, quase de sobrevivência para as escolas.

Alguns autores contemporâneos já apontavam para esse caminho desde o início do século e agora o texto da BNCC, corrobora com esses princípios e nos impõe o desafio de mudar ou mudar! Isso mesmo, não temos escolhas. Há um documento normativo para ser cumprido a partir de 2020, e ele determina que o foco principal das ações pedagógicas deve estar no desenvolvimento de competências. No entanto, sabemos que a escola e muitos modelos de aula ainda carregam resquícios de uma influência positivista, onde há pouco lugar para a reflexão, contextualização e aplicação dos saberes. E se ainda hoje constatamos que os modelos de aula precisam mudar para atender às necessidades dos educandos, consequentemente os modelos de avaliação também. É impossível falar de avaliação sem falar de aula. Como afirmou Paulo Ronca,(1999) a prova é reflexo da aula. Portanto, está diretamente relacionada à sua arquitetura e às concepções de aprendizagem dos docentes. Mas ainda hoje, no cotidiano de muitas escolas, nos deparamos, às vezes, com uma lógica classificatória de avaliação, cuja finalidade principal é verificar se o aluno guardou na memória determinados conteúdos.

A aprendizagem, em sua essência, fica esquecida.

De acordo com Edgar Morin, a educação precisa se ocupar de instrumentalizar os educandos para lidarem com as questões da atualidade, das necessidades do planeta, num exercício constante de criatividade, para a construção de um mundo onde todos possam viver melhor. O ensino de conteúdos estanques não possibilita o exercício da criatividade, tão essencial para o desenvolvimento e sobrevivência da nossa espécie.

E criatividade se exercita por necessidade, a partir de problemas a resolver.

Morin considera a educação atual, centrada no ensino de conteúdos compartimentados, equivocada e inadequada à premissa básica do humano como ser complexo, diverso e único; inadequada também às exigências do mundo em constantes transformações. A visão disciplinar da escola se contrapõe à natureza humana. As competências passíveis de serem alcançadas pelos indivíduos em decorrência de sua interação com o mundo vão muito além da compreensão de determinados conteúdos. As perguntas postas ou os problemas a resolver na sociedade contemporânea, pressupõem sujeitos ativos, curiosos, e competentes.

Para Morin, a inteligência se desenvolve por meio de ações investigativas em busca da resolução de problemas. Para isso, é fundamental que os currículos escolares personifiquem os caminhos, cada escola a seu modo, (claro) para contextualizar conteúdos e permitir que sua aplicabilidade seja possível para os alunos.

A compreensão da realidade e a atuação dos indivíduos para a construção de um mundo melhor, exige cada vez mais uma visão multidisciplinar, global e sistêmica que se contrapõe ao ensino disciplinar privilegiado na maioria das escolas.

Dialogando com as ideias de Morin, o texto da BNCC (pg,13) contempla, de maneira clara que a aprendizagem deve estar relacionada com a mobilização de conhecimentos para “resolver demandas da vida cotidiana”. E como então “aferir” isso?

De acordo com Phillippe Perrenoud, (1999) a abordagem por competências, necessariamente precisa transformar “os procedimentos de avaliação”. Não é possível avaliar competências de uma única maneira, apenas por meio de testes padronizados; é preciso criar formas de observar o quanto os alunos colocam em prática as habilidades necessárias; é preciso pensar sobre o que o aluno deve saber e o que ele deve saber fazer a partir de suas aprendizagens. Rompe-se aqui com a lógica de mera memorização e retoma-se a já tão difundida e nem por isto praticada, Avaliação Formativa. Isso implica olhar para o todo e não para as partes; implica um olhar para o processo e não para os resultados, apenas. Nessa proposta de avaliação pretende-se saber quais as ações ainda são necessárias para garantir as aprendizagens.

Numa abordagem por competências, a melhor maneira de se avaliar é no processo mesmo, por meio da elaboração de propostas/atividades cujo eixo central seja a resolução de problemas, para que os alunos mobilizem as habilidades necessárias para resolvê-los. Os alunos precisam ser convidados a mostrar o que sabem, por meio de atividades desafiadoras, onde se espera serem capazes de aplicar o que aprenderam.

Nas palavras de Perrenoud, (1999)“ talvez a abordagem por competências na reformulação dos programas escolares não seja senão a derradeira metamorfose de uma utopia muito antiga: fazer da escola um lugar onde cada um aprenderia livre e inteligentemente coisa uteis na vida”.

Ótimo texto, Marília. Sim, precisamos de mudança conceitual, educar com horizontes globais. O Japão está estando um novo modelo para formar os "cidadãos do mundo" baseado em: 1. Aritmética 2. Leitura 3. Civismo, incluindo valor civil, ética, ecologia e meio ambiente 4. Computação 5. Línguas - leem 52 livros por ano. Interessante, não é? PS: Filipinas aprova lei que exige que os alunos plantem 10 árvores para se formar. E nós aqui rastejando...

Lilio Alonso Paoliello Jr

Sócio- diretor en LILIOP_tratamento da informação ltda.

3 a

Parabéns pelo texto!

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