Os desafios das relações de poder, autoridade e influência entre fundadores/lideranças de startups

O cenário de startups no Brasil se desenvolveu muito na última década com cada vez mais aceleradoras, investidores e claro, startups com produtos e serviços inovadores ganhando escala. Na mídia e nas redes sociais, tem ficado mais comuns e de fácil entendimento uma série de termos relacionados ao tema: unicórnios, modelo de negócio, go to market, vale da morte, venture capital, inovação aberta, marco legal das startups, incubadoras, aceleradoras. 

Tenho trabalhado nos últimos 10 anos no ecossistema de startups de impacto socioambiental, onde pude liderar diversos programas de aceleração de startups desde estágios iniciais até tração. Alguns desafios dessas empresas são muito evidentes e amplamente discutidos, como o acesso a capital, a construção de um produto/serviço ultra desejado que gere vendas recorrentes, a conquista de clientes e a construção de uma máquina de vendas, o processo de validação do modelo de negócio, entre outros.

Hoje, porém, vou introduzir alguns desafios que muitas vezes ficam em segundo plano nas prioridades dos founders, nas metodologias de apoio das aceleradoras, das notícias e estudos do mundo startupeiro. 

É consenso entre aceleradoras e fundos de investimento que para avaliar startups para ingressar em seu portfólio, um dos critérios mais importantes é a análise do grupo de empreendedores e equipe, visto que  o produto ou modelo de negócio podem mudar significativamente ao longo da jornada.

Apesar de muitos empreendedores terem alta capacidade de realização, conhecimento de seus mercados e outras habilidades importantes para criar uma empresa, vejo que existem muitos desafios ligados a como desenvolvem suas relações interpessoais, especialmente no que se refere ao uso de poder, autoridade e influência com os diversos stakeholders que interagem com os empreendedores ao longo de suas jornadas.

As dinâmicas entre sócios, equipe e mercado

Tenho percebido (e estudado) o quanto a forma de interação entre os sócios influencia a equipe e consequentemente, como a startup lida com questões como: estratégia de ida ao mercado (go to market), relação com competidores, marketing e todas as demais áreas. E essas análises me levam a questionamentos como:

Será que o desafio vivido em relação a equipe é porque os funcionários não eram bons o suficiente? Ou o relacionamento entre os fundadores acabou minando e provocando uma demissão em massa?

Por que a startup está demorando muito para ir ao mercado e começar a vender? Ainda não está certo ou é insegurança dos fundadores que está boicotando a estratégia da empresa?

Será que a startup recém investida está com um cap table saudável? O aceite da proposta dos investidores foi feito a partir de uma análise coerente e conversas maduras ou os empreendedores aceitaram o que foi proposto sem questionar? 

Aquela startup que está patinando e não tem avançado rapidamente, é por conta da crise ou das dificuldades do mercado? Ou tem a ver com a falta de posicionamento dos sócios, que sempre concordam em tudo e tem dificuldade em desagradar?

O foco nas relações interpessoais como solução

A oferta de conteúdos sobre desenvolvimento de negócios e inovação é extensa, desde conteúdos gratuitos no Youtube, pílulas no Instagram e até cursos em plataformas digitais ou universidades. Porém, é escasso o foco em conteúdos sobre relações interpessoais e desenvolvimento das lideranças das startups para lidarem com os desafios que estão por vir.

Acredito que para gerar bons resultados e escala, é preciso montar um modelo de negócios robusto que possa atender um grande mercado. Mas para isso acontecer, é preciso de um bom time de empreendedores e lideranças. Tenho presenciado diversos casos onde após o foco do grupo de fundadores em trocar feedbacks e analisar os seus padrões de comportamento e como influenciam a empresa, os resultados positivos começam a chegar rapidamente. São resultados como:

  • Mais agilidade na tomada de decisão, pela facilidade da comunicação e negociação
  • Mais confiança entre os sócios e lideranças, gerando menos centralização
  • Ambiente de trabalho agradável e leve, com consequente aumento do engajamento dos colaboradores
  • O desmonte natural da "rádio peão"
  • A possibilidade de desenvolvimento constante do time a partir de feedbacks maduros e objetivos
  • Empoderamento dos empreendedores para negociação de contratos e de investimentos
  • Melhoria dos produtos, quando há uma abertura maior para olhar para feedbacks e melhoria contínua

Reflexões que apontam o caminho

Deixo aqui, então, algumas reflexões importantes para empreendedores(as) de startups, na minha análise como líder de programas de aceleração e como estudioso de dinâmica dos grupos:

  • Quais conflitos entre sócios têm ficado embaixo do tapete, dando a impressão de que está tudo resolvido? 
  • Como a timidez ou o excesso do desejo de visibilidade dos fundadores impacta como a startup é vista? Como lida com a imprensa e as estratégias de marketing? 
  • Como se permitir contrariar sócios(as) que muitas vezes são amigos(as) de longa data?
  • Como lidar com o erro e com assumi-lo perante outras pessoas?
  • Como lidar com o sucesso e assumir todas as responsabilidades que vem com ele?
  • O que a startup se tornar uma autoridade no mercado tem a ver com a forma que os fundadores lidam com a autoridade?
  • Como a startup lida com a competição e o mercado em que atua? E os sócios e fundadores, como lidam com a competição entre eles?

A busca pelo autodesenvolvimento e autoconhecimento é um processo, que exige intenção e abertura para a mudança. No dia-a-dia e na famosa correria do mundo do empreendedorismo, percebo uma fuga muito grande quando empreendedores são provocados a analisar suas relações interpessoais, a trabalhar na comunicação transparente e assertiva com seus pares e demais stakeholders. 

Talvez seja a hora de trocar os famosos dizeres "está tudo bem", "a gente sempre se resolve", ou então, o "não tenho tempo para isso, preciso focar no negócio", por outros, dando a devida urgência para se empoderar como indivíduo e profissional, aprender a usar sua autoridade e influência de forma a construir uma vantagem competitiva.

E aí, faz sentido para você parar um pouco para pensar sobre isso? Amanhã, dia 22/05, falarei sobre o assunto em uma Live do Trivium Space. Basta se inscrever aqui no link: https://lnkd.in/diAJR66Q

Filipe Villanova Itacarambi

Project and Process Senior Manager | Business Transformation | Innovation | Agile | Program Manager | Customer Experience at BNY.

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Muito bom Felipe Alves ! Acredito que essa questão das relações entre as pessoas, passa pelo conceito de segurança psicológica, o quanto as pessoas se sentem seguras para falar e não serem mal avaliadas pela transparência, o quanto a liderança realmente está engajada em contribuir com o desenvolvimento das pessoas ou apenas dar os tapinhas nas costas para não ficar mal avaliado. A mudança dessa cultura passa por todas as camadas da empresa e principalmente a alta liderança tem que ser o exemplo nisto.

Thiago Iglesias, PhD

Innovation & Corporate Venture at Evertec | Speaker | Columnist | PMP®, PMI-DAC® | Global Volunteer at PMI and F1 in Schools

2 a

Muito bom o artigo, Fe, e extremamente pertinente. Lembrei, inclusive, de conversas com o Luis Vabo Jr, que destaca constantemente a importância das Soft Skills no desenvolvimento de pessoas e lideranças.

Lucas Bernar

Product @ ClassPass | Global Shaper

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Gostei

Luciano Paiva

Sucesso do Cliente | Success Plans | CS | QBR | Adoção e Retenção | Serviços Financeiros |Seguros | Gestão de Produtos | Marketing | Pós-Vendas | Planejamento Estratégico | Jornada do Cliente

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O fator humano como chave do sucesso, para além do modelo de negócios, serviços e ideiais. Parabéns pelo artigo!

Marcelo de Almeida Leal

Product Owner | Product Manager | Gestão de Projetos | Consultor de Projetos | Power BI | Estratégia | Product Marketing Manager

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Artigo massa amigo, trouxe reflexões importantes!

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