Os desafios do líder transformador

Muito se fala do ritmo das disrupções e da necessidade de entender a transformação como uma regra para a maneira como as organizações funcionam. Em geral, a tecnologia desponta como protagonista desse movimento. E não há nada de errado nessa visão – mas vale lembrar que as inovações não são entes com vontade própria.

Novos conceitos, recursos e práticas não vão abrir a porta da sua empresa como um sopro de vento e adequá-la à modernidade num passe de mágica. Antes, é preciso que alguém os convide para entrar, confirme a sua validade e ofereça condições adequadas. Eis a principal atribuição do líder transformador.

O tema das personalidades das lideranças é vasto. Existem classificações de todo tipo – e dificilmente um profissional se enquadra em apenas uma delas. Particularmente, gosto dessa faceta específica, do líder que assume a mudança como vetor de evolução gerencial e se empenha em levar adiante as medidas necessárias.

Crenças e convicções

Quem pretende se colocar nessa posição precisa estar atento a, pelo menos, dois requisitos. O primeiro deles é a crença. Não me refiro à fé no trabalho a ser feito ou nos resultados alcançados. Nesse sentido, o líder deve acreditar profundamente na importância do processo de transformação.

A mudança tem que ser encarada como um trajeto pelo qual a organização será conduzida. Não existe, porém, um destino único e determinado. A dinâmica atual das relações de negócio elimina a possibilidade de haver um ponto final nessa jornada.

Há, no máximo, pequenos pousos, algumas estações e respiros que fatalmente levarão a novas mudanças. A transformação, portanto, é um destino em si mesmo. Implantar esse mindset na cultura corporativa talvez seja a grande missão do líder transformador.

O segundo fator é a adaptabilidade. E aqui chegamos numa contradição, pois a regra para desenvolver essa competência é reduzir o número de convicções. No oceano das transformações, o líder navega sempre em parceria com o vento – mas não ao sabor dele.

O esforço precisa estar concentrado em, se possível, antever as mudanças de direção. E, mais do que isso, tornar a estrutura flexível e preparada o suficiente para aproveitar as oportunidades surgidas com as novas condições.

Começa por você

O líder transformador costuma estar diante de um desafio particular: se transformar junto com o processo. A gestão pode ser entendida como uma matriz que se estabelece no topo da operação e é replicada em diversos níveis. Essa matriz é a mente do líder. Antes de serem consolidadas na empresa, as transformações acontecem ali dentro.

A partir daí, a liderança tem algumas tarefas inspiracionais importantes junto à equipe. O estímulo ao engajamento e à compreensão do conceito de transformação é apenas um deles. Desconstruir preconceitos e realmente convencer o time quanto ao valor da mudança torna-se, muitas vezes, uma necessidade.

O líder transformador deve considerar os comandados como sua maior força. Eles precisam ter voz no processo. A complexidade do cenário de disrupção exige pontos de vista variados. E a análise dessa diversidade de opiniões reforça as mudanças de mentalidade do líder – o motor de onde tudo parte.

É nesse ponto que as exigências do líder transformador se misturam com as dos demais perfis. O trabalho dele, assim como o de todos os comandantes, dependerá da criação de laços de confiança, boas doses de sensibilidade e uma pitada de carisma.

Porque algumas coisas não mudam nunca. Nem devem.