Os desafios do modal ferroviário para uma logística eficiente
O comércio exterior brasileiro e o setor de logística, como um todo, esbarra em questões estruturais que, muitas vezes, criam dificuldades para uma prestação de serviços mais eficaz e produtos competitivos no mercado mundial. A malha ferroviária no Brasil desponta como um item preocupante ao analisarmos o pouco investimento e expansão ao longo dos anos, uma defasagem que pode ser sentida na sobrecarga do modal aéreo e rodoviário.
As ferrovias brasileiras apresentam uma malha ultrapassada, com baixa manutenção, vagões e locomotivas deteriorados com a ação do tempo, além de uma constante elevação no número de acidentes e problemas ligados a recepção de cargas em diversos pontos do país.
O progresso estacionado nos trilhos
Dom Pedro 2 foi um dos precursores e entusiastas do sistema de transporte ferroviário. Cerca de 10 mil quilômetros da malha brasileira foram construídos pelo imperador no século XIX. É possível notar, até hoje, as características daquela época, o que denuncia uma evolução ínfima ao longo das gerações. Um dado que comprova este cenário é o fato de o país ter, atualmente, pouco mais de 29 mil quilômetros de extensão em linhas de trens. É preciso ressaltar que, em 1950, o país iniciou um investimento maciço em rodovias, o que potencializou a estagnação do transporte sobre trilhos no Brasil.
Em média, o preço para construir um quilômetro de rodovia é de U$200 mil, enquanto o mesmo trecho ferroviário custa a bagatela de U$ 1,5 milhão. Outro agravante reside na demora na construção de ferrovias. Para abrir 500 quilômetros de estrada de terra são necessários seis meses, contra cinco anos para a entrega da mesma medida em malha ferroviária. Essa disparidade coloca uma lente de aumento na necessidade de buscar investimentos externo para a ampliação da malha ferroviária que, em contrapartida, resultaria em fretes mais baratos e uma logística mais fluída. Vale lembrar que o transporte é responsável, em média, por quase 60% dos custos logísticos de uma empresa, o que torna uma redução de custo nesta atividade uma alavanca para a margem e, consequentemente, para a rentabilidade das empresas.
As vantagens do Modal Ferroviário
Os empresários e prestadores de serviços do meio de logística são verdadeiros apoiadores da revitalização e investimento na malha ferroviária brasileira. As vantagens deste tipo de veículo estão ligadas a economia para o transporte de mercadorias a médias e longas distâncias, com um pequeno consumo de energia, por unidade transportada.
Econômico no transporte de mercadorias pesadas e volumosas a medias e longas distâncias (minerais, carvão, cereais, automóveis, etc.), o modal ferroviário apresenta aspectos ambientais relevantes, que devem ser considerados, tais como o fato de ser menos poluente e comportar uma quantidade acima da média, se comparado ao rodoviário: um trem de carga com 100 vagões tira das estradas cerca de 357 caminhões, o que significa menos poluição e menos acidentes.
O que esperar do Plano de Investimento em Logística (PIL)
O PIL foi um programa do governo, lançado em 2012 que, dentre outras medidas, estabeleceu a meta de construir ou melhorar 11 mil km de estradas de ferro. Dois anos depois, menos de um terço das obras haviam sido concluídas. O Plano trouxe um novo modelo de concessão, com o objetivo de atrair investidores e estabelecer novos papeis. Desde então, a Valec Engenharia, que até então ocupava-se com a construção e da operação, passou a monitorar o tráfego de linhas férreas num sistema parecido como das aerovias, onde são vendidas horas de voos às companhias.
O PIL possibilitou um diálogo maior entre investidores, agências e concessionárias, dando margem para uma esperança dentro do setor, para que o modelo criado seja atraente para todas as partes interessadas e reverbere positivamente no setor logístico nacional. Desde então, o país passou a contar com a retomada do desenvolvimento do setor ferroviário, com a criação de um eixo de interligação entre os diferentes sistemas de transportes espalhados pelo território brasileiro.
O programa vem enfrentando muitos problemas. Atrasos nas obras e embargos de órgãos públicos fiscalizadores são exemplos frequentes de empreendimentos que envolvem o governo. O que podemos fazer é acompanhar a evolução dos trabalhos e torcer para que o país entre de vez nos trilhos.