OS ESPELHOS

OS ESPELHOS

Nas escritas do poeta Hesíodo, em sua obra “A Teogonia”, está o mito das irmãs Górgonas. Medusa que foi originalmente a mais bela delas, era uma donzela, que trabalhava como sacerdotisa no templo de Atenas. Com o tempo Medusa passou a ser desejada pelos deuses e pelos os mortais. Sua beleza era tão grande que a vaidade lhe tomou e com isto passou a acreditar que era mais bela que a deusa Atena e a se vangloriar por isso. Por quebrar o voto de castidade a deusa Atena em um ataque de ódio transformou o belo cabelo Medusa, que ela tanto se orgulhava, em serpentes e deixou seu rosto horrível. Tornando-se uma criatura da mitologia grega representada como um monstro feroz, de aspecto feminino e com grandes presas. Agora, tinha o poder de transformar todos que olhassem para ela em pedra.

Medusa foi decapitada pelo herói Perseu. O herói cumpriu sua missão, matando a Górgona após olhar apenas para seu inofensivo reflexo no escudo, evitando assim ser transformado em pedra. Górgona era uma máscara e para os gregos antigos máscaras representavam o espelho.

O mito da Medusa pode nos auxiliar a uma reflexão mais profunda de nosso próprio processo identitário. Para a mitologia grega, este semideus decapitou Medusa após olhar apenas para seu inofensivo reflexo no escudo. O herói, que tinha as sandálias aladas, que o elevou-se no ar enquanto Atena segurava sobre a cabeça da Medusa um escudo de bronze polido que funcionava como um espelho, para que Perseu pudesse ver o que fazia sem olhar diretamente para o temível monstro. Assim conseguiu o herói lhe cortar a cabeça.

Górgora é a representação não do que queremos ver, mas do que realmente somos. Para suportar isto, será preciso outros instrumentos, como fez Perseu, que ajuda a lidar com este reflexo da realidade sem máscaras para nos proteger de nosso próprio ser.

Se queremos nos desfazer de nossas máscaras, é preciso olhar para espelhos e ver o reflexo sem as aparências para nos descobrirmos por inteiro. Espelhos que nos permitam nos reconhecer quem somos, da forma que somos ante os nossos valores, em vez de temermos nós mesmos, com medo de não conseguirmos atender aquilo que outro espera de nós, porque é isto que nos petrificará.

Se encontrarmos além da face as nossas imperfeições, isto nos libertará. Aquilo que nos faz ver, por inteiro, incompleto, imperfeito, sem hipocrisia, representa a nossa real identidade.

Encontrar nos espelhos quer dizer permitir a vulnerabilidade sem ter que provar nada para ninguém, para que possamos nos apresentar para nós mesmos, incompletos, mas conscientes que todos nós somos perceptíveis.

Espelhos que nos permita nos reconhecer quem somos, da forma que somos diante aos nossos valores, em vez de temermos nós mesmos, com medo de não conseguir ser o que outro espera de nós, porque é isto que nos petrificará.

Quando temos a coragem de nos ver no espelho, fica possível reconhecer os traumas do passado ou sofrimento atual e tudo que pode ou não nos prejudicar. Se encontrarmos além da face as nossas imperfeições, isto nos libertará.

Torna-se então real entender através da nossa visão, que ninguém está certo e ninguém está errado. Não é preciso usar ninguém para suprir as próprias fraquezas da vida, não é preciso ter que prejudicar alguém, prevaricar ou ter que angustiar o outro para suprir as próprias dores.

Então aquilo que nos faz ver, por inteiro, imperfeito, sem dissimulação, representa a nossa real identidade. E isto é o que poderá diferenciar as escolhas com a vida. Permitir aceitar como somos, nos faz livres e existir é parte desta liberdade, assim como tudo que nos representa a cada encontro com a vida. 

São estes espelhos que a cada dia nos faz ver um pouco mais da vida, de nós mesmo e da importância das pessoas no qual nos relacionamos.

Nestas reflexões que fazemos diante ao espelho é que nos ajudam a dar força para seguir nosso caminho da mesma forma que nos traz lucidez a tudo que passamos e reconhecer o mérito de todas as pessoas no qual estiveram junto em nossa jornada, mesmo daquelas que desistiram antes mesmo de entender qual era o sentido da união.

Estes espelhos também nos fazem perceber que nunca precisaremos trair e nem passar ninguém para trás. Muito menos procurar no outro a perfeição ou se iludir pela beleza. Eis, então, um motivo a mais para compreender a nossa essência, que apesar de nunca ser tão grande e perfeito como algumas pessoas esperava de nós, reconhecemos que somos também humanos e hoje podemos aprender a nos amar, e por isto mesmo, aceitamos de todo coração, as manchas que carregamos e que estão por trás da nossa história emocional e mental.

Por isso a importância dos espelhos em nossa vida, são eles que nos faz aprofundar o conhecimento de si mesmo e nos fortalecer emocionalmente, nos limitando a jamais apontar o dedo para um outro achando que isto nos libertará de nossas próprias angustias.

Diante isto, a única certeza que precisamos ter é que devemos nos esforçar sempre, para não repetir os mesmos erros. Esforçar sempre em se colocar no lugar do outro para tentar compreender a sua história, sem julgamento, sem as verdades, sem colocar nada que possa interferir na conscientização de tudo que representa você e o outro, empaticamente como um todo.

E se puder afirmar com toda a franqueza que o outro sempre terá as suas mãos para quando precisar de ajuda, a sua amizade quando se sentir só, o seu coração quando precisar se confortar, os seus desejos para outro ser feliz e seu amor para quando lhe faltar paz, você estará então muito mais perto de uma vida plena, alegradora e feliz.

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