Os mitos que eu ouvi ao empreender como mulher

Os mitos que eu ouvi ao empreender como mulher

É muito comum ao ver mulheres empreendedoras, a sociedade falar que a gente tem que ser uma coisa ou outra. Que é preciso replicar algumas normas: ou a gente é mãe ou a gente trabalha para ter sucesso. É notável também que muitas vezes a diferença entre você se denominar empreendedora ou empresária, não necessariamente é o tamanho da sua empresa, mas como você se enxerga ou te influenciaram a se enxergar, somada a pressão social que vem do não reconhecimento, ainda tem o outro lado que é o da auto-cobrança.

Mas por trás de toda essa carga a gente precisa entender também a nossa limitação. E o limite não vem algo como demérito, mas como fronteira: eu vou até aqui para conseguir trabalhar de forma saudável e equilibrada. Trabalhar enquanto eles dormem podem trazer resultados, mas a que custo? Além de dormir mal, pode trabalhar de forma pouca produtiva. Não existe empreendimento saudável, sem uma gestora saudável e eu demorei a descobrir isso e tive que sentir na minha própria pele.

De acordo com o Sebrae, 50% das empresas no Brasil fecham em menos de 2 anos. E eu acredito que nessa conta tem um pouco desse mito de que tem que a gente tem que dar conta de tudo. 

Mas se a gente der tudo, não sobra nada pra gente. A gente cai. Eu caí algumas vezes e foi ao fazer parte de uma rede de mulheres empreendedoras que fiz parte entendi a importância de abraçar o coletivo para lidar melhor com a nossa vulnerabilidade e ver nossas potências.

Foi na troca com outras mulheres que comecei a: "Como entender essa vulnerabilidade como lugar de força, de reconhecimento e de preparação?" E com isso não sermos enganadas pelos mitos que nos contam.

O mito da produtividade: "eu preciso e posso dar conta de tudo"

A gente tende a querer equilibrar vários pratos ao mesmo tempo, mas perceba que a produtividade é importante, mas ser estratégica também. Entender sua potências e habilidades, quais só você pode fazer, qual pode passar e quais outras pessoas especialistas podem fazer mais rápido e eficiente que você? Quando a gente faz muito essa questão de ser a super heroína que tem que dar conta de tudo a gente se acha incapaz porque a gente tenta fazer coisas impossíveis. 

O descanso também é produtividade e descansar também é ser produtivo.

O mito da mulher controladora. 

Na minha experiência pessoal, o Burnout veio do Microgerenciamento. E esse microgerenciamento é um problema, porquê se a gente fica cuidando de cada detalhe, cada vírgula, no fim do dia você passa fazendo bico, quando deveria pensar em coisas mais estratégicas. 

Se você micro gerencia todo seu time de colaboradores, você não tem tempo pra trabalhar. Aprendi que existe mais de uma maneira de um material ficar bom, não necessariamente do meu jeito, da sua cara. Existem outras coisas boas e de qualidade que pode ser feito e que também tenha "a cara" da pessoa com quem você está trabalhando. E se tratando de criatividade e comunicação, isso fica ainda mais claro. Mais importante do que microgerenciar é ter certeza que as atividades estão claras, o time está alinhado em relação a responsabilidades, funções, propósito da empresa e o objetivo e importância daquela entrega.

Entendi que rabalhar a motivação das pessoas colaboradoras, alinhadas com a visão da empresa é muito mais importante do que o microgerenciamento. 

O mito do amor ao trabalho

O amor ao trabalho vai até certo ponto. Principalmente para quem trabalha com impacto social e geralmente é muito apaixonada pelo que faz. Por amar o trabalho e principalmente a causa deles, as vezes fica difícil pensar em descansar, sabendo que há tantas pessoas precisando da gente, principalmente quem é do terceiro setor. No entanto, se você não estiver bem, não tem como atuar bem.

O propósito, o amor à causa, essa energia que faz a gente correr uma maratona é interessante para movimentar coisas. Mas a longo prazo não tem sustentabilidade sozinho. É preciso também se capacitar, buscar conhecimento sobre o mercado que está atuando, precificação correta, estratégia de marketing e vendas entre outros. Sua paixão pelo negócio é o começo, mas não é tudo. Além disso, um espaço de trabalho saudável tem outros pilares além do amor à causa: ambiente de grupo, trabalho colaborativo, remuneração adequada, estratégia para bom uso do tempo e do time.  

Por isso a gente precisa ser inteligente e estratégica. A motivação leva muito longe. Mas a estratégia e o planejamento dão rumo e levam ao objetivo final de forma mais sustentável. 

O mito do sacrifício gratuito

A questão de reconhecimento especialmente pra quem está no campo do impacto social também é um ponto importante. Não é só de prêmios e de impacto positivo que vive quem trabalha por uma causa.

O dinheiro também é uma forma de reconhecimento. A gente fica achando que só o impacto positivo preenche, mas ter a tranquilidade de receber o salário, pagar a conta de luz também é reconhecimento e também é saúde mental. 

Como a gente pode pautar uma remuneração de qualidade pelo nosso trabalho para além do propósito? 

Não há como salvar o mundo sozinha. O que a gente pode é contribuir através do nosso trabalho e chamar um monte de gente pra fazer isso junto. 

O mito da mulher forte

Como mulher a gente tem vergonha de assumir que está com medo, com insegurança. E saiba, você não é a única que está passando por isso. Quando você participa dessa rede, você vê que você não é a única. 

E percebe que o próprio sistema coloca a gente nesse lugar. Não é trabalhando até a exaustão que vai trazer resultado.

Você não vai salvar o mundo de você ficar sem dormir. Sem descanso você não vai estar com qualidade de trabalho nem de saúde para ajudar as pessoas que você quer ajudar.

Precisamos entender que a gente não é o trabalho. Mas que ainda assim perceber que o trabalho pode ser algo importante na nossa vida, é muito bacana. E ter uma vida pessoal não é ser menor, ser mãe, ser mulher não é ser menor.


Por isso é tão importante a gente falar sobre isso cada vez mais e a gente se conectar como rede para entender nossas impostoras. E nesse fim de mês do empreendedorismo feminino eu trago essas reflexões, talvez algumas também em tom de desabafo, mas que pra mim fez tanta diferença no meu dia a dia, na esperança de que possa gerar algum tipo de conforto e identificação. 

Quais outros mitos você conhece ou já te afetou? Vamos nos fortalecer como rede.

Helena Portilho

Comunicação original para impacto socioambiental e inovação | Gestão de Projetos | Impacto Social

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Uau! Foi muito importante ler isso. Sinto que são mitos e expectativas de um mercado de trabalho que usa nossos propósitos e paixões contra nós, mas adoro observar tuas atitudes e ver que dá pra fazer diferente. O impacto que você  causa sendo única, sendo você, criando rede e questionando os mitos é gigante. Obrigada! 

Rani Duarte

Gestora de Projetos Culturais | Mestra em Design- UFPE | Comissão de Projetos Ministério da Cultura (MINC) | Pesquisadora| Empreendedora| Fundadora do" Que Padrão é Esse?" e “EmpreendaELAS!”

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Parabéns, Bruna! Você conseguiu expressar bem tudo que vivenciamos diariamente no Empreendedorismo Feminino. Que possamos estar cada vez mais juntas, fortalecendo unas as outras! Conte comigo!✨

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