Os Rumos do Microsoft Excel

O Excel é a ferramenta de escritório mais usada no mundo, com mais de 1 bilhão de instalações. É uma ferramenta tão versátil, que com ela é possível controlar desde finanças pessoais até mesmo criar sistemas multiusuários para controlar a construção de um shopping.

Por muitos anos, o maior concorrente do Excel foi sua versão anterior, e os Gerentes de Programa de Redmond tinham que levar a criatividade cada vez mais ao limite para inovar funcionalidades nas versões mais novas. Também, pudera: com a versão do Excel 5, lançada em 1994, já era possível usar VBA e criar tabelas dinâmicas, recursos que por si só conseguem resolver a maioria dos problemas de Excel da atualidade:

Com a crescente informatização dos trabalhos em todo mundo, o leque de atuação do Excel começou também a crescer. Por exemplo: o surgimento do VBA permitiu que fossem criadas automatizações de tarefas no Excel, nascendo o segmento de Desenvolvedores. Em 2010, passaram a surgir ferramentas de análise de business intelligence que hoje compõe o Power BI.

Atualmente, o Excel se encontra tão diversificado, que é possível ter especialistas em uma de suas áreas que quase nada sabem a respeito de outra. Já participei duas vezes de um seminário na sede da Microsoft em Redmond (EUA), chamado MVP Summit, que, entre muitas atrações, reúne MVPs (especialistas) de Excel de todo mundo numa sala junto com o time de produto da Microsoft. Estou falando de algumas das pessoas que dominam melhor o Excel no mundo. Lá, conversei com profissionais que são excelentes em Power BI, mas pouco ou nada sabem de VBA. O oposto também aconteceu. Tem também os que não sabem sobre VBA ou Power BI, mas dominam fórmulas, gráficos, estatística e dashboards como ninguém. E tem também os que tem um bom conhecimento de todas as áreas, mas com algumas lacunas cá e lá.

Power BI

O time de produto da Microsoft está fazendo um trabalho excelente e dois fatos comprovam o sucesso: a comunidade técnica online e offline crescem mais a cada dia e o Microsoft Power BI - solução da Microsoft adotadas por empresas com o uso dessa ferramenta - vem ganhando cada vez mais mercado, tomando espaço de gigantes como a QlikView, Tableau e Watson.

O Power BI permite que usuários com limitados conhecimentos de banco de dados extraia informações de forma fácil e monte seus próprios dashboards, sendo considerado então uma solução de SSBI (Self Service Business Intelligence).

O que podemos esperar para o futuro do Power BI? A minha maior aposta está na integração do Power BI com inteligência artificial. Em massas de dados gigantescas, algoritmos cada vez mais especializados nos indicarão as variáveis mais significativas com cada vez mais precisão e velocidade, assim como simulação de cenários, predições e combinação de variáveis.

Desenvolvimento

O VBA (Visual Basic for Applications) é uma linguagem de programação baseada em Basic, hospedada dentro do Excel (e outros aplicativos do Office) que automatiza tarefas em planilhas. O período de ouro do VBA foi do final da década de 90 até 2002, quando a Microsoft lançou o .NET e passou um trator em cima da comunidade de VB6 e VBA. A partir daí, começou uma série de desastres que dura até hoje.

Muitos desenvolvedores do VB6, contra a própria vontade, migraram para o Visual Studio e começaram a aprender o VB.NET. Outros grupos, por ter um background de programação diferente, adotaram o C#, que também faz parte do framework .NET. Administradores e DBAs foram premiados em 2006 quando a Microsoft lançou o PowerShell (também baseado em .NET) e adotaram rapidamente a ferramenta, uma vez que antes estavam sujeitos ao terrível VBScript. É de se esperar que desenvolvedores e power users de Office fossem desfrutar de alguma nova solução .NET também, certo? Bem, mais ou menos.

A Microsoft separou demais usuários de desenvolvedores. Apresentaram uma solução .NET para Office, chamada de VSTO, que possuía uma série de problemas, sendo o principal deles o fato de precisar do Visual Studio para desenvolver. Em outras palavras: o VBA, agora um filho renegado da Microsoft, continuou dentro do Excel, com cada vez menos suporte da Microsoft.

Estamos em 2017 e podemos afirmar que o VSTO não foi exatamente um sucesso, tanto é que frameworks de terceiros (como Add-in Express) são muito populares, já que contornam deficiências do VSTO. O resultado disso tudo é que a maioria dos desenvolvedores de Excel no mundo ainda usam o VBA como ferramenta de trabalho, mesmo com a falta de suporte da Microsoft. No entanto, já se passou tempo demais, a ponto do próprio VSTO começar a ser desestimulado pela Microsoft.

Office Addins

A Microsoft passa a ser cada vez mais uma empresa de serviços ao invés de uma de software, forma como ficou conhecida. Entre os vários motivos dessa mudança, podemos destacar que o Microsoft Office está presente em várias plataformas - sendo as mais notáveis Windows, Mac, Web e iPad. Logo, a Microsoft tem o objetivo de entregar a mesma experiência nessas plataformas a todos os usuários, e uma vez que programas feitos em VBA ou VSTO rodam apenas no Office para Windows, há a necessidade de entregar a mesma experiência em todas as plataformas.

Em 2012 foi criada uma extensibilidade para Office chamada Agave: com ela, é possível escrever código em JavaScript e mostrar código num painel da aplicação, em que é mostrada uma página escrita em HTML com estilização CSS. Infelizmente, o projeto teve baixa adoção, passou por uma reformulação e relançou como Apps for Office, que também não deslanchou pelos mesmos motivos, sendo relançado como Office Apps. Não acabou por aí: após continuar em baixa, finalmente consolidou-se (espero) com o nome Office Addins. A figura mostra um exemplo em ação:

A Microsoft não está poupando recursos para o desenvolvimento e crescimento do Office Addins, numa tentativa desesperada de criar um concorrente que consiga fazer com que desenvolvedores larguem o VBA. Depois de tantos fracassos, acho que aprenderam algo essencial se quiserem que isso realmente aconteça: democratizar o desenvolvimento de Office Addins, criando uma IDE própria de desenvolvimento dentro do Excel, retirando a obrigatoriedade de precisar de Visual Studio para desenvolver.

Conclusão

O Excel vai passar a interagir cada vez mais com fontes de dados externas, incluindo a internet. Hoje, apenas com poucos cliques de mouse, conseguimos criar visualizações profissionais e dinâmicas, e isso tende a melhorar no futuro.

Além disso, (quase) tudo o que você faz no seu Excel para Windows também será possível fazer no Excel para Web, Mac, iPad e celular, já que o paradigma de automatização está passando pela migração - embora lenta - promovida pelo Office Addins.