OS SINAIS DE ABRIL
Os mercados tiveram um desempenho simbólico em abril. Após um início de ano marcado por bolsa em alta e dólar em queda, o começo do segundo trimestre contou uma história diferente e pode ser um sinal de reavaliação dos riscos globais.
Depois de o Banco Central norte-americano ter comunicado uma estratégia de retirada mais rápida dos estímulos concedidos durante a pandemia, a guerra na Ucrânia e a nova onda da pandemia na China reforçaram as preocupações com o crescimento global.
De fato, a combinação de pandemia na China e guerra na Europa produz impactos diretos sobre produção e consumo, prolongando os desequilíbrios de logística e de cadeias produtivas. Novas pressões em preços de bens industriais e matérias-primas representam novos choques em um cenário já complicado, reforçando a urgência da retirada de estímulos monetários nos Estados Unidos.
Não por outro motivo, entrou no radar dos investidores o risco de uma recessão global ou, na melhor das hipóteses, de uma convergência mais rápida do crescimento em direção à média histórica. Várias instituições vêm revisando para pior suas projeções de PIB.
A desaceleração global, no entanto, não deverá ser homogênea. Com uma economia mais aquecida, é natural que o ciclo de aperto monetário norte-americano esteja à frente do observado na Europa e na Ásia, o que implica um quadro de dólar forte no mundo. Em conjunto, menor demanda global e dólar alto tendem a limitar a continuidade das altas dos preços de matérias primas, o que leva a riscos adicionais para os mercados emergentes, tradicionais exportadores de commodities.
Neste ambiente, o Brasil também oferece seus riscos. A combinação de inflação em alta, juros elevados e incertezas políticas deve afetar negativamente renda, crédito e confiança. Ou seja, além de um menor impulso externo, fatores domésticos também contribuem para um quadro de menor crescimento.
Recomendados pelo LinkedIn
A inflação, em particular, preocupa. Após diversos choques pontuais em 2021, os índices de preços mostram uma importante disseminação de reajustes. A média dos vários conceitos de núcleos indica uma inflação corrente próxima a 8% ao ano. O IPCA-15 de abril, no dado acumulado em 12 meses, alcançou 12% ao ano e mostra uma aceleração em relação ao já preocupante patamar de 2021.
O problema é que os novos choques globais alcançam a economia brasileira em um momento de incertezas econômicas e políticas crescentes, com o debate eleitoral elevando as dúvidas sobre a agenda fiscal e a dinâmica da dívida pública. O resultado deverá ser riscos maiores, menor atratividade aos fluxos de capitais e maior pressão cambial. Um cenário que certamente mantém o viés altista para as projeções de inflação de 2022 e 2023, como indicam os valores respectivos da mediana das expectativas de inflação de 7,9% e 4,1%. Mesmo que haja uma mudança de tendência da inflação a partir de agora, a inflexão dificilmente será suficiente para trazer o IPCA rapidamente para as metas.
Neste caso, o Banco Central brasileiro deverá continuar pressionado, uma vez que cresce a probabilidade de não cumprimento das metas de inflação por três anos consecutivos. Esta pressão deverá implicar um ciclo de aperto monetário mais longo, com juros mais elevados por mais tempo.
Este ambiente não favorece o crescimento local. Além da desaceleração global, inflação, juros e ruídos políticos deverão levar a um pior desempenho da renda, crédito e confiança. O atual otimismo em relação ao desempenho da economia deverá perder intensidade com indicadores mais fracos de atividade no segundo semestre, apontando para um quadro preocupante em 2023.
O cenário à frente, portanto, parece carregado de más notícias no Brasil e no mundo, o que sugere que o desempenho das bolsas e do câmbio em abril possa não ter sido algo pontual. É provável que os mercados já estejam atribuindo probabilidades crescentes a um ambiente de maior turbulência.
CEO PeerBr e CEO Adiante Recebíveis SA, C-Level, Adviser Digital, Investidor
2 aÓtimo artigo Padovani. Pós pandemia combinado com guerra no mundo e cenário eleitoral no Brasil não passarão em branco para os negócios e para os brasileiros no dia a dia! Obrigado pelo bom resumo!
Gestor CVM de Carteiras e Fundos de Investimentos/Administrador de Recursos - CGA - ANBIMA
2 aParece-me a ficha caiu! Dolar forte no Mundo e um embate politico interno nada tranquilizador, ja que inflação é hoje o mal global, certamente deve secar o fluxo externo visto no 1°Tri/22!
Innovative Strategic Leader | Expert in Sales, Negotiation, and AI | Driving Growth & Operational Excellence
2 aJoao Camargo