Os territórios do livro
O que vivemos de há uns anos para cá é o mais estranho momento para o livro. Ao mesmo tempo que caminha para a extinção provocada pela deserção dos leitores, tornou-se um produto de consumo massificado, em que a aquisição é feita sem honra, carinho ou veneração. Os relatórios globais são contraditórios. Há casas de publicação global a revelarem aumentos de venda, há observatórios a apontar sem apelo o abandono. A grande dificuldade, parece-me, que ando nas universidades e nas escolas, é a de convencer uma larga maioria de contemporâneos, que de modo nenhum são apenas os mais jovens, de que o livro continua a ser o mais potente objecto de aquisição de conhecimento e de construção ilimitada da imaginação. No interior dos vários territórios do livro, para mim o mais fascinante é o de encontrar uma edição fascinante de um texto marcante. Os que percorrem este território, chamados bibliófilos, ou coleccionadores, estão em demanda do texto que consideram único impresso num objecto cativante. Neste território, nós portugueses sofremos. Na esmagadora maioria dos nossos grandes textos, o objecto é mau e feio. O referido território tornou-se um mercado, de nicho mas global, dominado pela edição anglo-saxónica, especialmente a americana, a que normalmente se chama de livro raro. O mercado assenta exactamente no que referi. Textos classificados de marcantes pela humanidade, depositados em objectos de material superior, e com um "design" de gosto distinto. A partir daqui, contam vários pormenores. "First edition, first impression", dedicatória do autor, edição limitada. É muito interessante acompanhar a evolução dos preços, que para os autores contemporâneos se situa entre as centenas e os milhares de euros. É, penso, sempre um preço justo porque no essencial é o preço de um texto que nunca nos abandona, impresso num objecto que foi feito com carinho e gosto. Deixo aqui três operadores de topo do mercado.
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ESCRITOR em PJ VULTER - JUST READ IT, SOCIÓLOGO pela NOVA FCSH, e Técnico de Gestão Outsourcing
5 aNão sei se concordarei consigo; em parte. Para mim, o livro vale pelo conteúdo; e o livro, depois de lido, viverá dentro de quem o leu. Pareceu-me - a mim, é claro - que apela a uma certa idolatração do objecto; que defende que a saída está na construção de objectos de adoração para guardarem os conteúdos que fazem um livro... Não sei se o entendi bem... Se sim, não concordo consigo; acho que a chave está em tornar o livro mais acessível em todos os aspectos. É claro que se fala de uma perspectiva bibliófila, não concordará comigo; e eu o entendo. Também não sei se apostar em nichos, como parece ser a sua aposta, salvará o livro, mas não salvará os escritores. E convém sempre lembrar que sem eles não haverão livros... Uma temática interessante, contudo, que faz pensar; e pensar é sempre preciso e precioso. Bom texto.