Paciente no Centro da Transformação Digital da Saúde

Começando pelo óbvio, a transformação digital é um tema central nas reflexões de conselheiros e gestores da área de saúde. Afinal, embora vivamos em um mundo predominantemente analógico e manual, o avanço digital e automatizado progride diariamente. Não é prudente, nem inteligente, ficarmos passivos diante dessa evolução.

Compreende-se que existe uma distinção, ainda que sutil, entre medicina e saúde. Simplificando, a medicina pode ser vista como a ciência, enquanto a saúde representa um estado de bem-estar e a gestão do negócio da medicina.

No campo da medicina, a inovação é acelerada. Há inúmeras novas tecnologias de diagnósticos, moléculas e terapias sendo pesquisadas globalmente. A medicina é altamente regulada e, ao mesmo tempo, propensa a avanços em áreas como genética, radiologia, robótica, células-tronco e nanotecnologia.

Já a saúde é um pouco mais complexa. Além da pressão regulatória, ela envolve a complexidade de lidar com o público e a realidade socioeconômica do país.

Sabemos que a transformação digital não se resume à tecnologia: ela envolve produtos, processos e pessoas. Este último aspecto é, a meu ver, o mais complexo, pois abrange cultura, expectativas, sentimentos, desejos, medos e sonhos. Pessoas são mais do que casos de saúde ou números em prontuários eletrônicos.

É essencial colocar o paciente no centro dessa transformação. O avanço tecnológico, desde a telemedicina até o uso de inteligência artificial para diagnósticos precisos, deve ser um meio para melhorar a experiência e os resultados dos pacientes.

Para que a revolução seja eficaz, precisamos entender o que os pacientes consideram um bom desfecho. Isso envolve ouvi-los ativamente e entender suas expectativas, medos e esperanças. Os pacientes devem ser parceiros ativos no processo de cuidado.

Enquanto os médicos se concentram nos aspectos técnicos e resultados clínicos e os enfermeiros na experiência do paciente e apoio durante o processo de cura, os gestores avaliam bons desfechos do ponto de vista operacional e financeiro. Mas, e o paciente? O que ele considera um bom desfecho?

Para o paciente, isso envolve não apenas a melhoria física ou a cura, mas também aspectos emocionais, psicológicos, informativos e práticos de sua jornada de saúde, como não interromper o trabalho, manter relacionamentos amorosos, sentir confiança no futuro e vivenciar momentos importantes, como o nascimento de um neto.

Inclui também o entendimento sobre sua condição de saúde, prognósticos, tratamentos disponíveis, confiança nos profissionais de saúde, impacto financeiro, entre outros.

No entanto, enfrentamos um desafio crítico para incluir o paciente nessa transformação: o letramento digital. A lacuna no letramento digital pode criar barreiras significativas no acesso aos cuidados de saúde.

Essa realidade é mais complexa ao considerarmos as disparidades socioeconômicas. Portanto, enquanto avançamos com soluções digitais inovadoras, precisamos também facilitar o acesso e entendimento de todos, independentemente de seu background digital.

O caminho a seguir é claro: desenvolver soluções inclusivas e acessíveis, levando em conta o letramento digital de nossa população. A transformação digital na saúde deve ser uma jornada coletiva.

Parece paradoxal, mas a tecnologia oferece a maior oportunidade de humanizar a saúde, tornando-a mais acessível e sustentável. Se a transformação digital perpetuar a passividade e distanciamento do paciente, estaremos apenas aprimorando a desumanização da saúde.

A centralidade nos pacientes é o cerne da transformação digital na saúde. Focando neles, todo o resto acompanha e tem maior chance de sucesso.

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