Pacientes com claustrofobia: como lidar? - para operadores de exames de diagnóstico por imagem.
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Pacientes com claustrofobia: como lidar? - para operadores de exames de diagnóstico por imagem.

"O intuito deste artigo é passar informações de como um paciente com claustrofobia se sente, indicando técnicas para abordar pacientes neste caso. Artigo feito por um Técnico/Tecnólogo de Radiologia que possui sintomas de claustrofobia".

O que é?

Conhecido como medo de lugares fechados, a claustrofobia é muito mais comum do que imaginamos e atinge cerca de 25% da população mundial, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). É uma fobia ou medo exagerado e irracional em ficar em ambientes fechado e com pouca circulação de ar. Ela pode ocorrer em elevadores, salas pequenas, transportes públicos, entre outros. Em geral, ela não é considerada uma doença isolada, mas sim um sintoma do distúrbio de Agorafobia, que é um transtorno de ansiedade onde pessoas ficam nervosas em ambientes desconhecidos ou com multidões, ou onde percebem que tem pouco controle na situação. Os principais sintomas da Claustrofobia são:

  • Medo intenso ou pânico;
  • Hiperventilação;
  • Suor excessivo;
  • Episódio de claustrofobia seguido de desmaio;
  • Formigamentos nas extremidades das mãos;
  • Pressão no peito;


Claustrofobia X Profissionais da área de saúde

Nós, Operadores da Radiologia, podemos observar pessoas que sofrem deste distúrbios no momento que elas necessitam realizar um exame de imagem radiológica, tais como: Tomografia Computadorizada, Ressonância Magnética, PET-Scan, e até mesmo Raios X.


Ilustração da realização de um exame de Ressonância Magnética de campo fechado.


Em 2015, eu descobri que tinha claustrofobia enquanto cursava a extensão técnica em Ressonância Magnética. Em uma aula prática, disponibilizei-me para me passar como paciente para realizar um exame de ressonância magnética, para que os colegas de classe pudessem observar como funcionava um exame de RM, na prática. Deitei na mesa de exames, posicionei a bobina para realizar um exame de crânio, e quando o professor começou a entrar com meu corpo na maquina de RM, eu comecei a apresentar os sintomas típicos da claustrofobia (que ate então, era desconhecida por mim), que foram: hiperventilação, suor excessivo e taquicardia. Nesse momento, pedi para que fosse interrompido imediatamente o andamento do exame, pois não o conseguiria fazer. Naquele momento eu (e tenho certeza que muitos técnicos/tecnólogos) pensei que fosse uma "frescura" e me senti muito envergonhado. Esses são os sentimentos dos pacientes que possuem esse problema.

Como mencionado no parágrafo anterior, eu também tenho claustrofobia (por ironia do destino...rs), e isso me deu outra visão sobre a abordagem a pacientes nessa situação. Atualmente trabalho realizando exames de PET-CT e Ressonância Magnética, e esses exames são os que possuem os maiores relatos de pacientes com claustrofobia.

Um ponto curioso (e que me deixou triste e envergonhado com alguns colegas de profissão) foi que recebi relatos pacientes que afirmaram ter apresentado os sintomas de claustrofobia no momento que iam realizar o exame e o profissional que os atendeu agiu de forma incorreta, apressando-os, falando em tom de voz inadequado, deixando-os cada vez mais nervosos. Isso é muito mais sério do que imaginamos. O paciente pode inclusive desenvolver um distúrbio de ansiedade com essa atitude do profissional. Entendo que em muitos serviços as agendas estão cada vez mais lotadas e com horários encurtados, que estamos expostos ao estresse contínuo, mas devemos olhar o lado social que a nossa profissão exerce no público.


Técnicas para atender um paciente com claustrofobia

Vale ressaltar que as técnicas que serão apresentadas neste artigo, podem variar de paciente para paciente, devido a particularidade de cada um. Essas técnicas são as que eu utilizo, e que possuem resultados positivos. Se você tiver alguma técnica que difere das apresentadas, ou queira discutir mais sobre, apresente-se nos comentários abaixo. Será um prazer discutir mais sobre o assunto.

  • O primeiro passo, é o que aquele velho ditado diz: "a primeira impressão é a que fica". Tom de voz adequado e boa apresentação são os carros chefes para passar uma boa impressão ao paciente. A organização do setor também tem uma grande importância. O ambiente se torna ainda mais incômodo ao paciente quando encontra-se desorganizado, sujo. O ambiente organizado faz com que o paciente sinta-se mais a vontade, além passar confiança para realizar o exame. As salas de exame geralmente são escuras e frias. Acenda todas as luzes, e coloque o cobertor no paciente. Isso fará com que ele fique mais confortável a realizar o exame.
  • Ao abordar o paciente, ele precisa ter confiança em você. Converse com ele de forma adequada, explicando como o exame funciona (sem termos técnicos, ok?), tais como o posicionamento, tempo de exame, o que eventualmente pode acontecer (injeção de contraste, por exemplo), tudo de forma serena, sem pressa. A pressa aliás, faz com que deixe o paciente ainda mais nervoso. Converse com ele, de forma que você deixe claro que o exame não irá começar sem a autorização e consentimento dele. Certifique-se que os dispositivos de comunicação com a sala de procedimento estejam funcionando, como a campainha (no caso da RM), o dispositivo de comunicação com a sala de exame e etc. Se possível for, teste esse dispositivos na frente do paciente.
  • Posicionamento do paciente para a realização do exame. É de grande importância que o paciente esteja bem acomodado, confortável. No caso da Ressonância Magnética, o uso das almofadas, como os apoiadores para joelhos por exemplo, se tornam itens indispensáveis. Nós precisamos criar um ambiente agradável para conseguirmos sucesso na realização do exame.
  • A empatia é algo que se torna indispensável. Mostrar preocupação com o paciente e respeito com o seu distúrbio se torna uma obrigação. Se isso não acontecer, o paciente jamais terá confiança em seguir o exame.
  • Faça um teste mostrando até onde o corpo do paciente ira entrar no Gantry. Essa técnica é muito boa para o paciente pegar confiança em quem irá realizar o seu exame. Enquanto faz esse procedimento, converse com o mesmo, afim dele ter a certeza que você está ali do lado dele e não vai sair correndo (acredite, esse é um dos maiores medos deles).
  • Evite conversas paralelas com outros colegas de trabalho na sala de exame. O ideal é estar somente o técnico e o paciente na sala. Os pacientes que têm claustrofobia sentem vergonha dessa condição, então quanto mais privacidade, melhor.
  • Caso necessário e caso seja possível, chame o acompanhante do paciente para estar presente no momento do posicionamento do exame. Essa pessoa pode se tornar uma importante ferramenta para convencer o paciente de que ele se encontra em um ambiente confiável e confortável para a realização do exame.


O paciente procura um serviço para a realização de um exame de imagem porque ele realmente precisa. Só por esse motivo já torna um incômodo ou estressante ao paciente. Em vista disso, mais do que nunca precisamos praticar o atendimento humanizado.

Parabéns, excelente. Todos precisavam ler esse artigo e relato . Não só técnicos e tecnológos, como nós biomédicos, que trabalhamos com RM. Quando comecei em 2006, também me passavam que era "frescura". Mas fui observando que não era e sempre ensinei meus estagiarios s dar atenção diferente ; e não lidar como frescura ou "piti". Tenho grande êxito, na realização de RM, em pacientes com fobia por causa da humanização com o paciente.

Aceno Neto Martins Reis

Biomédico | Imaginólogista | Técnico | Tecnólogo em Radiologia | Especialista em Ressonância Magnética - EEP - INRAD- HC - Faculdade de Medicina da USP.

4 a

Parabéns pelo belo texto!

VERONICA SANTOS SCHNEIDER

Tecnologa em Radiologia | Hospital Moinhos de Vento

4 a

Já passei por várias situações com pacientes claustrofobicos e usei várias técnicas descritas nesse artigo! Acho que todos locais deveriam pensar um pouco mais no atendimento mais humanizado! Parabéns pelo artigo.

Carolina de Oliveira Mendes

Bióloga | Análises Clínicas | Gestão da Qualidade | Gestão de Saúde | Administração Hospitalar

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Muito bem escrito e esclarecedor, obrigada por compartilhar.

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