Padrões

Padrões

Hoje me maquiei, depois de sei lá quantos dias de quarentena , até perdi as contas…

… e arrumei o cabelo, pois tinha uma reunião importante e queria estar “apresentável”. Afinal, não poderia ligar a câmera do computador e “assustar” meu cliente.

Esses pensamentos ficaram em minha cabeça até eu me ver pronta no espelho. Estava “apresentável”: maquiada e cabelo arrumado. Pronto, podíamos começar!

Só que naquela fração de segundos entre estar pronta e me ver no espelho, refleti: – estou bonita, estou bem, em paz com a minha aparência, mesmo que o cabelo estivesse natural e o rosto também.

Parei, sentei-me no sofá e ali fiquei por longos minutos.

Padrões!! Essa palavra ficou ecoando na minha cabeça e preciso compartilhar. 

Passamos a vida nos domando e tentando usar um número a menos do manequim. Muitos de nós vivem em busca do dito “certo”, status. O melhor carro, o melhor celular (precisa ser iPhone, senão a foto fica ruim!) e aquele emprego em uma multinacional.

Lembro-me de estar na escola e receber apelidos como: Olivia Palito. Sim, hoje seria considerado bullying.

Eu era a mais magricela, aquela cheia de espinhas no rosto e com o cabelo mais crespo e rebeldes do universo. Não fazia parte do dito “certo” da minha juventude.

Naquele instante da minha vida passei a me domar e buscar entrar nas caixinhas da vida (família, amigos, faculdade, trabalho etc).

Na época do ensino fundamental a guerra era com o físico. Eu usava duas calças para ter mais “corpo”, vivia com o cabelo amarrado para esconder os cachos, construí em meu subconsciente a certeza de que era feia.

Nos anos seguintes, descobri o alisamento para o cabelo e adivinhem só?! Passei a viver para isso. Pobre do meu cabelo, juro que não sei como ele aguentou, na verdade não sei como meu organismo aguentou as inúmeras vezes que alisava os cabelos com aqueles produtos que me faziam chorar e arder os olhos.

Cabelo alinhado? Ok! Um item a menos fora dos “padrões” que me impus. Mas espera ai! Eu me impus ou foi a sociedade?

Era verão e não suportava o calor, decidi parar de usar duas calças e passei a tomar suplementos alimentares. Vivia acreditando por anos no que me falavam: que eu “ganharia corpo”. A tentativa de me domar seguia firme e forte!

Posso contar sem pudor algum que passei a minha adolescência e início da vida adulta escrava de padrões de beleza. Me maltratei!

Aí você deve estar lendo isso e se perguntando, mas por que contar isso agora?

A resposta é simples: Eu estava há mais de 30 dias sem usar maquiagem, aprendi que minha juba (cachos) matinal é linda. Conclui que usar salto alto e meia calça faz eu me sentir poderosa, mas vestir moletom em plena quarta-feira à tarde me traz um conforto inexplicável.

Eu desacelerei ao longo dos anos, passei a me cobrar menos, passei a entender que estamos expostos a “padrões” sejam de beleza, status ou outros. O fato é que estamos vulneráveis a esta situação e tomamos ela como “normal”. 

O pior não é acostumar-se, o pior é ser o arauto destes “padrões” e levar os outros consigo.

Os anos passaram e em 2020 veio a quarentena. Meus caros, a quarentena é uma caixa de pandora espetacular, basta decidirmos como usar.

Eu descobri inúmeras coisas neste momento (descobrir é fácil, praticar é o desafio, mas isso é papo para outro momento) das quais inclusive já contei para vocês. Mas essa é nova, o conforto de um bom pijama ou aquele casaquinho super macio vem sendo minhas paixões nestes dias. 

Não me entenda mal, devemos nos arrumar, nos sentir bem com a nossa imagem, nosso emprego, status e seja lá o que nos der satisfação. Devemos ser verdadeiros com o nosso íntimo e viver tudo isso pelos motivos certos!

Uso salto alto em um dia que não desejo usar na vida normal. Amigos, faço isso para seguir os “padrões”. Hoje vejo que o único motivo certo para passar mais de 12 horas sobre um salto 15 é a minha paz e satisfação pessoal.

Então, use moletom, deixe o cabelo natural, seja feliz e chega de auto sabotagem!

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