Pagando o Pato nas MPE

 A reunião estava marcada para 10:30hs num local próximo à avenida Paulista, e como é de costume quando vou a compromissos perto de casa, dou total preferência por caminhar, pois essa região traz insights infinitos sobre a vida, os negócios e as relações humanas, assuntos que me interessam sobremaneira. Próximo ao Conjunto Nacional, sol escaldante, ao lado da banda que tocava Billie Jean numa formação de sax, trompete, guitarra, baixo e bateria vi uma vitrine horizontal (vulgo pano no chão com objetos expostos para venda) com diversos trabalhos artesanais, característicos da região. Uma jovem sentada ao lado da vitrine e um rapaz com uma criança linda e bem cuidada no colo, em pé, me chamaram a atenção. Era um casal. Cheguei na reunião que tinha como objetivo encontrar formas de ajudar os nano, micro e pequenos empresários a melhorar suas empresas. Como quebra-gelo falamos sobre a transição política que estamos vivendo, seus reflexos na macroeconomia do país, a transição de centro para direita ou ultradireita que vivem os EUA e a Europa, sobre inteligência artificial, big data, de como nossos filhos exploram a infinidade de informações disponíveis atualmente, mas muitas vezes não fazem nada com isso, e sobre clássicos da literatura mundial. Era um grupo multidisciplinar e a dinâmica da conversa foi se acelerando, pois as ideias sobre o tema central começaram a pipocar. O modelo criativo escolhido foi o famoso “levanta que eu corto”. E tome bolada na cara! Como é normal nessas dinâmicas, fomos direcionando o bate-bola para a questão central, e chegamos numa discussão sobre qual a quantidade eficiente de dinheiro cada microempresário poderia ter para produzir seu trabalho, e como cada um conseguiria gerir esse dinheiro para atingir os seus objetivos de ganho, margem, tempo de retorno etc. Será que o segmento de MPE, que representa quase a totalidade das empresas de serviços e comércio no Brasil não iria se lambuzar se tiver acesso a uma linha de financiamento barata, partindo do princípio que é isso que falta para alavancar esse importante e desprezado setor da economia? Confesso que ficamos alguns segundos paralisados nesse ponto da partida. Nenhuma bola cruzou a rede, até que lembramos das políticas social democratas recentes no nosso país, onde a ajuda financeira para a população acontecia (e ainda acontece) sem que se ensine esse cidadão a transformar esse recurso em novos ganhos, através da potencialização de suas habilidades profissionais ou do desenvolvimento de alguma, independente das limitações regionais que conhecemos, mas adaptadas a elas, em nosso imenso território nacional. Como criar um modelo que consiga ajudar mais de 6 milhões de MPE (2011), que apontam um valor agregado na economia na ordem do trilhão de reais (696 bi 2013) antes do final da década, sem rasgar dinheiro, sem que ele escorra pelo ralo das incompetências empresariais típicas de um setor historicamente desprezado pelos órgãos governamentais? Vamos dividir esses aproximadamente 6 milhões de microempresários em 3 grupos: Primeiro, aquele que tem a grande maioria das competências para botar a mão na bolada e fazer o seu negócio ser melhor. É um pequeno grupo, e precisaria de acompanhamento. Segundo, aquele que não sabe o que produzir ou produz algo com baixo nível de qualidade. Esse precisa se encontrar na cadeia produtiva, além de tomar um banho de loja nos conceitos de produção e gestão. E o terceiro sabe o que produzir, gosta do que produz e o faz muito bem, mas não conseguiria utilizar qualquer dinheiro para melhorar sua produtividade (e esse é o indicador onde nós passamos as maiores vergonhas em rankings pelo mundo). Esse é o casal de artesãos da Paulista. Aqui precisamos ensinar tudo! Quem não dança, balança a criança, mesmo ao som de Michael Jackson!

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