Pandemia e Aprendizagem, 4 anos depois

Pandemia e Aprendizagem, 4 anos depois

Há 4 anos, estávamos nos dando conta que a pandemia de COVID-19 deveria ser levada a sério e que a solução não seria tão rápida quanto se pensava incialmente. Começávamos a nos ajustar para um longo período de isolamento social, que gerou marcas profundas em todos nós.

Para os estudantes da Educação Básica, o impacto foi ainda maior. Passadas as restrições sanitárias, as escolas abriram seus espaços novamente para indivíduos que não eram os mesmos de antes. Voltaram ao presencial com a escrita prejudicada, atenção difusa, foco reduzido, pouca tolerância ao contraditório, uso nada saudável do celular e com habilidades sociais comprometidas. Depois de tanto tempo, será que se conseguiram superar esses problemas?

A resposta que mais me identifico é: No geral, os estudantes demonstraram uma recuperação surpreendente. Mas alguns - provavelmente - nunca irão aprender como antes. Esse foi o tema de um excelente artigo do The New York Times , publicado em janeiro deste ano, que destrincha o cenário educacional dos EUA pós pandemia.

Uma das pesquisas citadas é do The Educational Opportunity Project, projeto da Stanford University que desde 2009 avalia as oportunidades de educação do país norte-americano. Uma das métricas utilizadas é a nota das provas de matemática, feitas por alunos entre 8 a 14 anos, entre os anos de 2016 a 2024, destacando as mudanças pré, durante, e pós COVID.

Notas de matemática entre 2016 e 2023. Fonte: NYT

As lacunas são representadas por x.x anos de atraso. Conforme a pandemia avançou, a lacuna de apreensão dos conteúdos e construção de repertórios na disciplina aumentou. Em 2022 estava constatados de 6 a 7 meses de atraso em média.

Para combater esse quadro, as estratégias de recuperação da aprendizagem foram diversas, como por exemplo aulas extras (fora do turno e nas férias escolares), tutorias com grupos reduzidos, políticas de promoção da saúde mental e apoio às famílias em situação de vulnerabilidade.

No cenário nacional, um estudo da Datafolha , encomendado pela Fundação Lemann mostra que, no ano passado, 1/3 dos estudantes do Brasil não avançaram ou caminharam devagar nos processos de alfabetização e letramento. Na mesma pesquisa, pessoas entrevistadas confidenciaram que a formação de professores, a ampliação do uso de tecnologias educacionais e a promoção de programas de reforço são caminhos fundamentais para recuperação. Dentro do mesmo tema, a UNICEF apresentou dados que demonstram o aumento do percentual de crianças entre 7 e 9 anos que não sabem ler nem escrever, após a pandemia, dobrando de 20% para 40%.

Apesar das realidades dos EUA e do Brasil serem bem diferentes, um fator preocupante as une: o aumento da desigualdade. As populações mais vulneráveis sofreram com estruturas mais precárias, profissionais qualificados que buscam no mercado instituições capazes de pagar mais em detrimento do ensino público, e falta de aporte financeiro. No geral, pelo período mínimo de 1 ano e meio da pandemia, era comum nas escolas particulares de excelência aulas síncronas, diárias e com carga completa; enquanto em instituições públicas e particulares de menor investimento lutavam para entregar uma lista de exercícios semanal.

Mesmo nos cenários onde houve recuperação, é visível que a geração de crianças e adolescentes que passaram pelo isolamento levarão desafios até a vida adulta.

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