PANDEMIA E HOTELARIA: SOU HOTELEIRO PROGRESSISTA

As pessoas limitadas se incomodam com o termo PROGRESSISTA pois logo pensam em política. Infelizmente tentar reduzir as reflexões com argumentos rasos ( e muitas vezes raivosos ) são mazelas dos tempos radicais que vivemos atualmente. E justamente por estarmos vivendo tempos assim , é que devemos nos esforçar individualmente para termos conversas com conteúdo e produtivas para eliminarmos o crescimento ou a manutenção de lideranças de mindset fixo que tanto prejudicam o nosso setor. 

Progressismo é um conjunto de doutrinas filosóficas, éticas e econômicas baseado na ideia de que o progresso, entendido como avanço científico, tecnológico, econômico e social, vital para o aperfeiçoamento da condição humana. E na minha opinião , ser progressista ou ter atitudes progressistas ajudaria muito na evolução da hotelaria brasileira atual , de gestões conservadoras e tradicionais. 

Hoje vejo as gestões da hotelaria , com algumas raras exceções , estagnadas , com práticas arcaicas e burocráticas , muito atrasadas em relação as empresas e segmentos referencias do mercado. Enquanto estas empresas trabalham com recrutamento de colaboradores com base em soft skills , na hotelaria ainda prevalece o processo todo em hard skills , até em bandeiras que se consideram disruptivas. Estas empresas estão adotando e investindo em treinamento de metodologia agile para suas gestões , enquanto na hotelaria , os processos de gestão são os mesmos durante décadas , burocráticos e repetitivos , com grande rejeição das lideranças em receber e implementar novas ideias. Estas empresas tem uma conectividade rápida com os últimos acontecimentos da sociedade , adaptando sua comunicação com seus clientes sobre seus produtos ou serviços , alinhada aos fatos. 

Na hotelaria , sinto que as divulgações de reaberturas ou semelhantes estão desconectadas da realidade , principalmente sobre as informações de pesquisas sobre o que os clientes dizem para a retomada das viagens. Geralmente nos resultados destas pesquisas , segurança sanitária aparece em primeiro lugar e vejo divulgação de reaberturas de hotéis em cidades e regiões com alto número de contágio , óbitos e com praticamente todos os leitos ocupados. Não sou contra as reaberturas , mas é valido divulgação com estimulo de retorno as viagens nestas condições ? Quando os hotéis estavam fechados , analisando os cenários , no planejamento de marketing e comercial , as divulgações foram pensadas desta forma , mesmo nestas condições ? Na maioria das pesquisas de consumo durante e pós pandemia, os clientes estarão atentos as empresas que saibam comunicar-se de uma forma assertiva e humana , visando a sua segurança antes do lucro. 

Claro que quando você se propõe a ser progressista num setor majoritariamente conservador e tradicional , existe uma enorme resistência as suas opiniões e sugestões , devido ao medo que as mudanças podem gerar para quem esta acostumado e acomodado a este perfil de gestão. Na minha opinião , não ter pessoas progressistas na hotelaria é um dos motivos de estarmos com problemas antigos como desunião do setor , concorrência predatória , faturamento , etc , que persiste durante anos e nos prejudica em todas as crises. Progredir e evoluir , além de fundamental , é questão de sobrevivência financeira para muitos hotéis até o final do ano , pois nos próximos meses a crise afetará gravemente o nosso segmento até a possível retomada das viagens em larga escala nos próximos anos. 

E é possível ser progressista em um setor ou empresa conservadora e tradicional ? Sim, tenho vários exemplos de líderes corporativos progressistas que revolucionaram suas empresas através de gestões inovadoras e ideias disruptivas. Cito o case de sucesso do Howard Schultz , executivo de revolucionou a Starbucks Coffee Company , criando um novo conceito para venda de café e cafeterias. Tem o lema que é "um negócio de pessoas servindo café, e não negócio de café, servindo pessoas ". Schultz iniciou sua carreira na Starbucks em 1982 como diretor de operações de varejo e marketing. Após um ano de benchmarking na Itália , apaixonou-se pelo modo como o café era vendido como uma experiência e não apenas um produto. Apresentou o novo modelo para o negócio para os fundadores da empresa , que foram resistentes e ele acabou saindo da mesma. Em 1985 para fundou sua própria empresa ,Il Giornale Café , aplicando o novo conceito que ele acreditava , foi um grande sucesso e em 1987 comprou a Starbucks , fundindo as duas empresas. Durante anos , ele manteve a gestão com foco na experiencia do cliente , cuidando muito bem dos seus colaboradores , superou muitos desafios gerados pelas crises econômicas globais , sempre se mostrando estratégico e atualizado e em 2016 deixou a gestão da empresa como a maior rede de cafeterias do mundo , com 25 mil lojas em 75 países , com valor de mercado de $ 86 bilhões de dólares. 

E mesmo após dois anos da sua saída da gestão da companhia , o foco nas pessoas foi mantido e deixou um grande exemplo de conectividade com acontecimentos da sociedade. Em maio de 2018 , após alguns casos seguidos de racismo contra negros em algumas lojas da rede nos EUA , o CEO da companhia Kevin Johnson , pediu desculpas públicas sobre o ocorrido e fechou as 8 mil lojas no país para realização de treinamentos antirracistas para equipe. E a empresa mantem a filosofia de gestão de sempre estar conectada a causas importantes da sociedade. 

E por isto anseio por mais lideranças progressistas na hotelaria , para desconstruir este perfil de gestão tradicional e conservador atual visando a necessária evolução do nosso setor. E encerro este artigo com uma lição e alerta do Howard Schultz: " Se os executivos de qualquer marca de consumo acreditarem que eles podem criar relevância enquanto estão sentados em suas torres de marfim , eles estão contrariando os fatos , pois qualquer negócio que adota o status quo como forma de operar estará marchando em direção a falência "