A pandemia e as subjetividades
A finitude é uma condição estrutural do ser humano, mas normalmente nos “defendemos” dela, velando-a no esquecimento. Entretanto, um evento contingencial, uma pandemia, nos coloca diante de nossa fragilidade e vulnerabilidade, o que costuma provocar angústia e certa desorganização. Segundo Freud, as três principais fontes do sofrimento humano são: a força incontrolável da natureza, a convivência com os outros e o fato de sermos mortais. Vivemos um momento em que esses três aspectos convergem em um único acontecimento, afetando a todos. Um vírus que nos ameaça e nos afasta do convívio social.
O medo de adoecer, de perder pessoas queridas, a ameaça de morte, as incertezas quanto ao trabalho e ao futuro, a restrição das interações sociais e o contato excessivo com poucos têm provocado adoecimento psíquico. Para alguns, o momento tem sido vivido com pânico e sofrimento intensos.
De alguma forma somos todos afetados, mas não da mesma maneira, já que contamos com recursos sociais e subjetivos diferentes. Em momentos como este, a palavra que pode aliviar não é uma palavra geral endereçada a todos, mas a palavra específica, singular de cada um que sofre, podendo identificar e nomear, a sua maneira, como ele sofre, de que forma ele é particularmente afetado por uma angustia que nos assola a todos, mas a cada um de um jeito diferente. É poder falar desse afetamento o que é terapêutico e organizador em situações de crise como a que atravessamos.
Ticiana Dias Villela (Psicóloga e Psicanalista)