Parábola do macaco mecânico - ou, receita para criar seu inferno pessoal nos relacionamentos de trabalho.

Parábola do macaco mecânico - ou, receita para criar seu inferno pessoal nos relacionamentos de trabalho.

Há cerca de uns 12 anos ouvi de um colega de trabalho o conto que reproduzo a seguir, em resposta a algumas atitudes um tanto inadequadas que eu teimava em ter, no dia a dia:

"O sujeito estava viajando, tranquila e confortavelmente, por uma estrada vicinal e deserta, pensando nas mazelas da vida. Do nada, o pneu de seu carro simplesmente fura. Maldizendo a situação, lá vai ele abrir o porta mala e pegar o step e ferramentas, quando percebe que está sem o macaco. A estrada é afastada de tudo... Não tem sinal de celular. É noite. Não passa por ali uma viva alma. Seguir com o carro como está, é impossível. O que fazer? Enquanto olhava para o aparente nada, mentalmente adjetivando a sua sorte com conceitos que fariam muita gente corar, ele percebe a luz de uma casa, ao longe, entre as plantações que cercavam a estrada. Resolve ir até lá e pedir ajuda, ver se consegue um maldito macaco emprestado.

No caminho põe-se a pensar - e vou fazer o favor ao leitor de omitir, na descrição da sua linha de pensamento, muitas das palavras de baixo calão que lhe invadiam a mente: Caramba, está noite. Já estou com as mãos e roupas sujas por mexer no pneu e ferramentas. O dono da casa não vai querer abrir a porta e me atender. Ele vai achar que sou um ladrão ou pedinte. E se chegar a me atender, vai ser pior ainda, vai me ver assim sujo e vai se negar a emprestar o macaco. O cara tem lá o macaco e só porque é de noite e porque estou sujo e não muito bem vestido ele não vai querer me emprestar. Isso não é justo. Não é culpa minha ter furado o pneu aqui. Uma pessoa que não ajuda as outras assim não presta, não vale nada. As pessoas são todas realmente umas filhas da #@$%!. Como maltratam os outros assim sem saber a situação que estão vivendo... Estou indo lá pedir ajuda, e o cara vai simplesmente me humilhar?! Não vai adiantar de nada... 

E nessa linha o sujeito foi pensando, e pensando, e inventando situações em sua mente em que seria maltratado e humilhado pelo dono da casa... E chegou finalmente lá, após longos minutos caminhando. 

Ao ser atendido, simplesmente gritou: 'seu filho de uma p#$@!, pega essa p$%#@ de macaco que você tem e não quer emprestar, e enfia no seu c#... '. Deu as costas e voltou pro seu carro, deixando lá o outro cara sem entender nada... "

Não sei se a parábola realmente carece de explicações ou comentários. Mas vou teimar em tecer alguns. Eu nunca me esqueci dessa história. Ela teve um efeito profundo sobre mim, mas provavelmente se passaram vários anos até que isso fosse realmente observável.

Nós não podemos supor o pior do outro, em nossas relações. Em particular, nas relações de trabalho. Se o trabalho do outro não saiu da forma que você esperava, não necessariamente ele é acomodado, ou inconsequente, nem está tentando acabar com você ou com a empresa, fazendo tudo errado. Podem existir, e muitas vezes de fato existem, outras razões, muito mais inocentes. Por exemplo: restrições técnicas, restrições de recursos, falta de compreensão da situação ou do problema, falta de conhecimento, problemas pessoais... Sobretudo, você não pode considerar as atitudes dos outros como ataques pessoais. Não confunda objetividade com agressividade. Não confunda erros, nem mesmo incompetência, com má intenção.

Converse. Dialogue. Entenda como pensam e pelo que passam seus colegas de trabalho. Espere sempre o melhor e não se sinta ofendido se receber o pior. Faça as coisas direito, bem feitas, mas seja tolerante e flexível com o que os demais fazem. Não crie tempestades em copos d'água. Não crie infernos em sua mente, porque, a partir dali, eles se materializam em sua vida.


Joao Lyma

Analista de Redes Senior at ITS Brasil Telecom

5 a

Erivania Loreto olha que legal!

Renato Santana dos Santos

Freelancer Translator/Supervisor de RH na SELJ/SP

7 a

Belo texto! Facilitaria muito termos essa atitude aberta em relação aos problemas dos outros, e sermos tratados assim também!

Dário Junior

Analista de Redes Sr na UOL - Universo Online

7 a

Realmente algo que temos de refletir bem mais. É sempre difícil se colocar no lugar do outro.

Roberto A.

CTO | Diretor de TI | Superintendente de TI | Executivo de TI

7 a

muito bom!

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