Para aprender inglês: Inbetween Days - The Cure
The Cure, durante a promoção da turnê do album “The Head on the Door”

Para aprender inglês: Inbetween Days - The Cure

A letra de hoje é “In Between Days”, da banda britânica The Cure. Escolhi essa letra por dois motivos.

O primeiro é que sou fã do Cure. Acredito que a coletânea deles, “Standing on the Beach”, foi o disco que eu mais escutei na minha vida, seguido de perto por “Rocket to Russia” dos Ramones e “The Queen is Dead” dos Smiths, mas ainda assim, ouvi mais o do Cure.

O segundo motivo é que, sem o contexto correto, a letra dessa música vai te levar a pensar numa situação completamente diferente do motivo pelo qual ela foi escrita. Neste caso em particular não é nem uma questão de tradução, porque mesmo as pessoas que tem o inglês como língua nativa não entendem a letra como deveriam, porque ela fala de uma situação particular, que só os fãs da banda conhecem. O que quero mostrar aqui é que, se você não sabe sobre o quê o cara está falando, certamente vai entender a mensagem de uma maneira equivocada.

Como sempre, o website oficial do The Cure pode ser visitado se você clicar aqui.

Letra em Inglês

In Between Days - The Cure

Yesterday I got so old
I felt like I could die
Yesterday I got so old
It made me want to cry

Go on, go on
Just walk away
Go on, go on
Your choice is made

Go on, go on
And disappear
Go on, go on
Away from here

And I know I was wrong
When I said it was true
That it couldn't be me and be her
Inbetween without you
Without you

Yesterday I got so scared
I shivered like a child
Yesterday away from you
It froze me deep inside

Come back, come back
Don't walk away
Come back, come back
Come back today

Come back, come back
What can't you see?
Come back, come back
Come back to me

And I know I was wrong
When I said it was true
That it couldn't be me and be her
Inbetween without you

Without you
Without you
Without you
Without you
Without you
Without you
Without you
        

Tradução em português


Entre Dias - The Cure

Ontem eu fiquei tão velho
Eu senti que poderia morrer
Ontem eu fiquei tão velho
Isso me fez querer chorar

Vá em frente, vá em frente
Só vá embora
Vá em frente, vá em frente
Sua escolha está feita

Vá em frente, vá em frente
E desapareça
Vá em frente, vá em frente
Para longe daqui

E eu sei que estava errado
Quando disse que era verdade
Que não poderia ser eu e ser ela
No meio sem você
Sem você

Ontem eu fiquei tão assustado
Eu tremi como uma criança
Ontem distante de você
Isso me congelou profundamente por dentro

Volte, volte
Não vá embora
Volte, volte
Volte hoje

Volte, volte
Por que você não consegue ver?
Volte, volte
Volte para mim

E eu sei que estava errado
Quando disse que era verdade
Que não poderia ser eu e ser ela
No meio sem você
Sem você

Sem você
Sem você
Sem você
Sem você
Sem você
Sem você
Sem você
        

Comentários

À primeira vista essa é uma música que descreve um triângulo amoroso e o fim de um relacionamento. O garoto estava num relacionamento ruim que fazia ele se sentir velho, pensava que poderia morrer a qualquer momento e tinha vontade de chorar. Acabou discutindo com a garota e terminou o relacionamento, mandou ela ir embora, disse que a escolha dela estava feita, que deveria desaparecer e ir embora para longe dali.

Então, subitamente, ele admite estar errado — e aqui a coisa complica, porque a letra tem duplas negações e algumas coisas meio que ficam no ar. O texto em inglês é: “and I know I was wrong when I said it was true”, que pode ser facilmente traduzido como “E eu sei que estava errado quando disse que era verdade”. Traduzir é fácil, entender, nem tanto. O cara disse que estava errado quando anteriormente disse que era verdade. Ótimo, então ele parece ter se arrependido do que disse anteriormente, agora que entendeu que estava errado quando disse que era verdade, então, não, não era verdade!

E o que não era verdade? A resposta em inglês é: “that it couldn't be me and be her inbetween without you”. Não era verdade que “não poderia ser ele e ser ela no meio sem você”. Se não era verdade que não poderia, então significa que sim, poderia ser ele e poderia ser ela que se colocaram no meio dessa coisa toda. O resultado foi que o cara ficou sem alguém — a namorada — já que nos versos anteriores mandou ela embora, mandou desaparecer, coisa e tal. Que frase difícil, que construção complicada! Dupla negação já é difícil em português, quanto mais em inglês!

Então, como eu disse, à primeira vista essa música parece ser sobre um triângulo amoroso. O garoto estava num relacionamento ruim, apareceu outra garota e de alguma forma ele se envolveu com ela. Ele brigou com a garota com quem mantinha o relacionamento, falou que a culpa não era dele, nem da garota nova, terminou o relacionamento, mandou a namorada ir embora, mas, depois disso, percebeu que estava errado. A culpa era dele, sim, e da outra garota também!

Nessa altura, ele inverte tudo o que falou até agora. Disse que ficou assustado, tremeu como uma criança e ficou congelado por dentro quando estava longe dela. Ele pede que ela volte, volte para ele, será que ela não consegue perceber que eles precisam ficar juntos?

Essa música tem várias ambiguidades. Para começar, o ritmo é bem animado, mas a letra é depressiva e dividida em duas partes, a primeira pedindo que alguém se afaste, mas em seguida, pedindo que a pessoa volte. Tudo parece ser sobre um relacionamento amoroso que não deu certo, mas, bem, não é bem assim.

O contexto

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O guitarrista Robert Smith, o baixista Michael Dempsey e o baterista Lol Tolhurst fundaram o The Cure em 1978, na cidade de Crawley, na Inglaterra. O primeiro trabalho lançado, “Three Imaginary Boys”, ficou conhecido por ter uma capa que não mostrava os músicos e nem o nome do álbum. Essa escolha foi feita de maneira totalmente arbitrária pela gravadora, assim como a escolha das músicas a integrar o disco, e isso causou um descontentamento muito grande em Robert Smith, que a partir dali fez questão de garantir o controle criativo de todos os aspectos dos próximos álbuns da banda. Logo depois do lançamento desse disco, o baixista Simon Gallup substituiu Michael Dempsey.

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Robert Smith e Simon Gallup acabaram desenvolvendo uma amizade muito forte. Smith tinha uma namorada de infância, Mary Poole, e os três estavam sempre juntos. Entre 1979 e 1982, o The Cure estourou. Num curto espaço de tempo, eles se viram com uma quantidade muito grande de fãs, com shows e mais shows sendo marcados. Fama, dinheiro, turnês, álcool, drogas, e no meio disso tudo, Mary Poole estava sempre com a banda, e inclusive algumas músicas escritas por Smith foram dedicadas a ela.

Os fãs adoravam a voz e a música, mas também o cabelo, a maquiagem desleixada, enfim, adoravam o visual de Robert Smith. Os executivos das gravadoras perceberam isso e começaram meio que a forçar o resto da banda a adotar aquele visual punk-gótico. Simon Gallup nunca aceitou isso muito bem, porque ele sentia que cada membro da banda tinha a sua própria individualidade, e apesar de Robert Smith ser a cara da banda, Gallup não sentia que Smith era o líder do grupo, ou algo assim. Por causa disso, e também devido à constante presença de Mary Poole, Gallup e Smith começaram a se desentender.

Em 1982, durante a turnê do álbum “Pornography”, ao tentar sair de uma casa noturna depois de uma apresentação, Simon Gallup foi confundido com Robert Smith e cobrado pelas bebidas que este havia consumido. Gallup ficou indignado, primeiro porque julgou que, por ser parte do show, ele não deveria pagar nada. Em segundo lugar, ele imaginou que se estava sendo cobrado pelas bebidas consumidas por Robert Smith, este sairia sem pagar. O baixista se sentiu relegado a segundo plano e começou uma discussão com o pessoal do clube. Quando a coisa começou a esquentar, Robert Smith se aproximou para ver o que estava acontecendo. Como Gallup estava muito alterado e gritando com todo mundo, Smith se colocou na frente dele e mandou-o calar a boca. Gallup deu um soco na cara de Smith, que revidou com outro soco, e os dois literalmente caíram na porrada. Esse incidente levou a vários outros desentendimentos e disputas, até o ponto em que, depois de uma desavença durante um show em Bruxelas, na Bélgica, Simon Gallup decidiu deixar a banda.

Gallup fundou uma nova banda chamada Cry, mas logo o nome foi mudado para Fools Dance. Smith continuou no The Cure, mas paralelamente tocou guitarra na banda Siouxsie and The Banshees, e participou também de várias outras bandas pequenas. Ao que parecia, tanto Smith quanto Gallup estavam descontentes e ambos admitiam ter feito besteira.

Dois anos depois, em 1984, Smith pediu que Gallup voltasse para o The Cure, e ele aceitou. No ano seguinte eles lançaram o álbum “The Head on the Door”, cuja primeira música era “Inbetween Days”, onde Robert Smith conta, à sua maneira, os desentendimentos, o afastamento, a admissão de culpa e o pedido para que o grande amigo voltasse à banda.

“Ah! Mas que parece ser sobre um triângulo amoroso e um namorado infiel, parece!” — você diria.

Sim, parece, e talvez isso seja proposital.

Talvez o Robert Smith quisesse que as pessoas em geral interpretassem a música de uma maneira mais literal, mas, com certeza, para Simon Gallup e também para os fãs da banda, o sentido estava bem claro.

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Volte na letra e veja que toda a parte do “go on, go on”, corresponde às brigas. A parte do “I know I was wrong” é uma admissão de culpa pelo baixista ter deixado a banda. Veja que “be me and be her” são referências a Robert Smith e a Mary Poole. “Come back, come back” é obviamente um pedido de retorno. O nome da música, “Inbetween Days”, os “Dias do Meio”, correspondem ao tempo em que Robert Smith ficou esperando o amigo voltar a tocar com ele.

Obviamente, essa não é a explicação “oficial” do significado da letra. É só a minha interpretação de fã, à luz dos fatos que fazem parte da história da banda, mas que pode estar equivocada. Você pode aceitar essa minha tentativa de trazer o contexto da vida dos integrantes da banda para o momento em que eles escreveram a letra da música, ou pode pensar que estou viajando e achar simplesmente que é uma história sobre a infidelidade em um triângulo amoroso. Não importa no que você acredite. O que importa é que você tenha um olhar crítico sobre textos em inglês, e tente ir além da tradução literal.

E é isso que temos para hoje!

Eu havia mencionado Beatles na semana passada, e agora prometo que a próxima será deles!

Se tiver alguma sugestão, deixe nos comentários!

Impecável!!! Eu vivendo aqui em Londres não encontraria tão impecável interpretação para esse momento que a banda viveu no passado! Great Job!!

Reynaldo Jesus ☁

SAP Certified SuccessFactors Consultant SR

4 m

Muito bom!!!

André Canário de Mello

Comunicação Interna | Corporativa | Endomarketing | Cultura Organizacional

2 a

Muito bom!

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