Para onde vão as notícias que eram publicadas no papel?
Jornais impressos têm se valido de muito soro ao longo dos últimos anos. Há centenas em estágio terminal. Muitos sucumbem e morrem. Nos Estados Unidos, mais de um a cada cinco jornais (mais de 20%) encerraram as atividades desde 2004. Ou seja, quase 1.300 comunidades estadunidenses perderam completamente a cobertura de notícias. No Brasil, somente em 2018, seis negócios de mídia fecharam, incluindo três jornais impressos e 28 revistas.
E para onde vão as notícias que eram publicadas no papel? Feito meias ou tampas de caneta que somem, vão parar no Reino Perdido do Beleléu ou estariam numa espécie de limbo da informação? Quando um jornal de papel morre, infelizmente, morre também um pouco da comunidade: seus sonhos, desejos, angústias, saberes. Fecham-se rotativas, reduz-se a leitura da realidade. Lembro do saudoso Alberto Dines (1932-2018), que tão bem tratou o tema: “Os sinos não dobram quando fecha um jornal, mas dobram pelo jornalismo. Nenhum jornal é uma ilha – menos um jornal, menor a imprensa. Menos um diário, menor o continente, o mundo, a humanidade”.
Quem acompanhava os jornais O Norte e Jornal da Paraíba (o primeiro extinto em fevereiro de 2012; o segundo, em abril de 2016), certamente, ainda hoje sente falta de algumas reportagens que eram publicadas nesses veículos. Mesmo com a versão digital do Jornal da Paraíba, o leitor não encontra nos textos da web um conteúdo equivalente ao das pretinhas impressas em papel.
Jornal de papel é caro. Notícia na web, mais barata. E por que não conseguimos localizar nos sites e nos portais as notícias que interessam ao dia a dia da comunidade? Há excesso de textos prontos enviados por assessorias de imprensa, há um sem fim de narrativas cansativas, sem um pingo de criatividade, há muito espaço e pouca pauta diferenciada. Há também muita informação que está aí, ansiosa para germinar, mas não que não encontra terreno para tal.
No livro “Guia de Estilo Web”, a jornalista Luciana Moherdaui aponta como uma das características do meio digital o fato de ser “possível publicar notícias do tamanho da curiosidade de qualquer leitor”. Ou seja: no ambiente virtual, espaço não é um problema. Dá para ir a fundo nos temas, dá para brincar com a forma de narrar (exercitando não apenas a criatividade textual, mas também produzindo reportagens multiformes), dá para oferecer ao leitor informação melhor.
Volto a perguntar: por que tantas notícias iguais, tanto mais do mesmo, tanta informação que nem sequer serve para embrulhar peixe (porque não está no papel)? Seria ingenuidade minha ignorar que as redações estão cada vez mais enxutas, que faltam equipamentos e tempo, e que há muito veículo vivendo à custa do suor e da pouca experiência de estagiários.
Agora, se o que se faz é mais do mesmo, é indiferente para o internauta visitar site A ou B. Se todos (ou quase!) publicam os mesmos fatos, com o mesmo estilo (pobre), com o mesmo texto padrão (que parece ter sido feito por um robô), o público vai se contentar com um ou outro mesmo. Na verdade, vai no vácuo, seguindo sempre o site/portal que costuma acessar todos os dias. Menos por preferência e mais por comodismo.
Talvez seja preciso resgatar, já que há espaço sobrando para isso, a narrativa em sua melhor essência. Há fatos interessantes ao nosso lado que merecem ser contados, passados adiante. Pode ser algo grandioso ou simples, mas que desperte a atenção, ou apenas afete o dia a dia do cidadão comum – que é a maioria de todos nós. Milhares de histórias, um sem fim de personagens morreram com o fechamento de jornais. Será que também teremos de cantar o réquiem para o jornalista como narrador?
(artigo publicado originalmente no jornal A União, edição de 14 de abril de 2019)