Para onde vai o crushing de soja na China
Momento é de boas margens e duas preocupações: baixa oferta de grãos do Brasil em janeiro e incerteza nas relações com os EUA
Tem dois fatores que ajudam a sustentar as projeções de crescimento para a demanda chinesa de soja nesta safra 24/25: margens de esmagamento superiores às da safra anterior e uma relação de troca entre ração e suínos em níveis bem superiores aos dos últimos anos.
SOJA | CHINA - Crushing Margin (US$/ton)
Ainda assim, os esmagadores chineses têm algumas preocupações neste momento.
Uma delas é de curto prazo e tem tudo a ver com o que acontece no Brasil. Como o plantio não avançou como se esperava em setembro e acabou se concentrando do início de outubro em diante, uma parcela maior da nossa soja só chegará ao mercado a partir de fevereiro.
Por isso, a indústria chinesa está encontrando dificuldades para fechar compras de soja para janeiro. Foi o que Fabio Meneghin , fundador da Veeries ouviu na semana passada nas visitas que fez a duas esmagadoras – a Hopeful Grain e a Bohy Industry –, como parte da viagem em parceria com a StartSe Agro a Beijing e Shangai.
O outro ponto de atenção tem a ver com as eleições americanas da semana que vem. As indústrias temem que uma vitória do republicano Donald Trump possa reacender a guerra comercial iniciada por ele em 2018 – e que na prática reduziu bastante as compras de soja americana pela China por pelo menos duas safras (um espaço que foi ocupado principalmente pelo Brasil).
A economia chinesa em nova fase
Outro destaque desta viagem, segundo Fabio Meneghin : dá para perceber de forma muito concreta a mudança de fase da economia chinesa que, mais madura, deve crescer de agora em diante a taxas menores (para os padrões chineses) do que no passado recente.
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A infraestrutura está praticamente consolidada – em nível de altíssima eficiência – e as obras de construção civil são bem menos presentes do que no passado. Veja mais sobre essa viagem aqui, aqui e aqui.
O longo prazo não é mais como era antigamente
Tem dois fatores importantes para considerar nas projeções de longo prazo para o mercado global de alimentos: o crescimento no número de pessoas consideradas obesas e à reação a essas estatísticas, que se materializa no crescimento das vendas de medicamentos como o Ozempic, utilizados por pessoas que buscam perder peso mais facilmente.
No artigo de outubro publicado pelo site The Agribiz, Marcos Rubin , fundador da Veeries, mostra como esse é um fator de importância emergente para o longo prazo do agronegócio. Os medicamentos supressores de apetite podem ter como efeito colateral a supressão da demanda de alimentos.
Esse é só um exemplo de uma série de aspectos que por si só podem transformar os cenários de oferta e demanda de produtos agrícolas, entre os quais incluem-se fatores relacionados às inovações para aumentar a produtividade das lavouras, mudanças no comportamento dos consumidores e o desenvolvimento de alternativas sintéticas a commodities como carnes, café e açúcar (o que foi tema de outro artigo do Marcos Rubin – clique aqui para ler no Linkedin).
Curtas
- As projeções de uma safra de soja superior a 170 milhões de toneladas indicam que 2025 será mais um ano de estresse na logística, cujo limite será mais uma vez testado (veja mais).
- A área irrigada por pivôs centrais no Brasil saltou de 1,6 milhão para 2,2 milhões de hectares de 2022 para 2024, segundo um estudo recente da Embrapa. O Oeste da Bahia concentrou pelo menos 15% desse crescimento: são da região dois dos cinco primeiros municípios em área irrigada do país (São Desidério e Barreiras).
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