Pare, Escute e Aja

Há poucos dias estive numa conferência sobre Liderança Feminina e uma das intervenções tocou-me particularmente, ao focar um tema sobre o qual é urgente e premente agir, mas que não está a ser cuidado devidamente em muitas instituições e organizações: saúde e bem-estar. Saúde física e mental, bem-estar do corpo e da mente.

A pandemia isolou-nos e ensinou-nos a viver em espaços restritos e restritivos, em que o contato profissional privilegiado, para muitos de nós, se fazia através das duas dimensões de um ecrã e o ser humano rapidamente se habitou. Para além de aprendermos novas maneiras de viver, trabalhar, de nos relacionarmos na família e com a família, de fazer compras e de olharmos o outro ser humano, criamos rapidamente hábitos de sobrevivência e de proteção individual e coletiva.

A pandemia desapareceu, mas alguns hábitos ficaram e outros tiveram de ser adquiridos por imperativo de novos modelos de trabalho, por opção e por imposição, e muito do que tinha ficado suspenso durante estes 2 anos, a nível de cuidados de saúde, física e mental, deixou um rasto indelével, com consequências ainda não totalmente apuradas. 

A pandemia intensificou aquilo que designamos por multitasking, potenciado pela utilização de tecnologia, ao facilitar a interação com o outro, gerindo diversas tarefas em simultâneo. A meu ver, multitasking é a melhor maneira de fazer várias coisas mal em simultâneo ou saltitar de tarefa em tarefa, num frenesim que impede o resultados desejados e no timing  pretendido, com a agravante de ser apelidado como uma capacidade feminina.

Multitasking não tem género, tal como não produz bons resultados. 

A pandemia também nos deixou o designado burn-out e que há alguns anos, antes de usarmos tantos estrangeirismos, era designado como esgotamento; uma doença não muito frequente, mas que impunha respeito e uma baixa médica geralmente de longa duração.

O burn-out é um estado de exaustão física e mental causado por um estado de stress prolongado, que ocorre sempre que nos sentimos assoberbados, incapazes de dar resposta ao que estamos a fazer e de lidar com o quotidiano. Os sintomas são relativamente fáceis de detectar: fadiga, irritabilidade, ansiedade, má qualidade do sono ou insónia, depressão e apatia, e tem consequências que podem ser graves. Mas se os sintomas são fáceis de detectar pelo próprio e pelos outros, nem sempre são fáceis de aceitar ou, ainda que aceites, não temos tempo para lidar com eles; não temos essa veleidade....

Dito isto, impõe-se a pergunta: como lidar com sintomas de burn-out em si próprio, num colega ou num colaborador?

O que resiste, persiste, e muitas vezes a pressão social e profissional é tão grande, que ficar em negação relativamente a estes sintomas, o pode levar a consultar um profissional de saúde tarde demais, já não no início, mas no meio do processo. 

Acredito que sempre que uma organização considera que o bem-estar é uma prioridade na vivência da sua cultura organizacional e implementa medidas para que os colaboradores tenham estilos de vida mais saudáveis, o impacto é muito significativo. Contudo, acredito que o cuidado individual é imperativo na resolução mais rápida deste problema de saúde.

Liderança significa liderar a sua própria vida, fazer as suas escolhas, impor limites de uma maneira positiva e respeitá-los. Ser um leader, significa cuidar do corpo e da mente, na sua globalidade: física, mental, espiritual, institucional e espiritual. 

Liderança, na certeza de que o equilíbrio nunca é uma métrica ou uma solução one size fits all, mas o que queremos individualmente e que passa por ter tempo para parar, escutar o corpo e a mente, e agir. Exercício regular (que pode ser tão simples como caminhar ou correr), horas de sono de acordo com a sua faixa etária, uma alimentação cuidada e personalizada, uma prática de meditação e gratidão diárias, o desenvolvimento da sua intuição, escutando o que sente no seu âmago, e uma prática espiritual, que pode ser somente a conexão com o outro, estão ao alcance de cada um de nós. 

Páre, escute o seu corpo e a sua mente e aja. Hoje! E se detetar sintomas nos círculos em que se move, não deixe de verbalizar um alerta ou de estender uma mão. 

Já tinha refletido sobre isto? Já detetou estes sintomas?

Então, páre, escute e aja!

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