Parece que Morpheus tinha razão...
Em meados do ano 2000, nós fomos impactados com a brilhante obra cinematográfica “Matrix”, que retratava o conflito entre a realidade real e a realidade ilusória, e a busca de Morpheus pelo O escolhido, aquele que seria capaz de abrir os olhos das pessoas que estavam presas na ilusão, presas na Matrix.
Quando assisti esse filme pensava que isso seria impossível, questionarmos a realidade a ponto de a mesma ser uma ilusão, mas agora percebo que o filme é mais real do que imaginava.
A maioria das pessoas, hoje, vivem nesses dois mundos: o virtual e o real. Vivemos em realidades parelelas e tentamos convergir as duas para supri a necessidade mais primitiva do ser humano: a sensação de prazer.
Quando nos deparamos com essa necessidade, somos capazes de fazer coisas inimagináveis. Quem nunca sucumbiu com excessos de photoshop pelo simples prazer de sentir-se aceito? Ou ate mesmo, apagou uma foto porque a mesma não atingiu determinado número de likes?
O mundo virtual foi criado a partir da nossa realidade “real” para facilitar o nosso cotidiano. Porem, agora, o mundo virtual tornou-se a realidade de muitas pessoas. Isso não é ruim mas em dado momento, torna-se bizarro. Pessoas dividem a sua vida em vida real e vida virtual, passam a viver e retratar algo no mundo virtual que não reflete no mundo real.
Quando nos comprávamos um lanche no Mcdonalds, queríamos o lanche como o da foto mas ao abrir a caixinha, o nosso lanche era menor e não tão bonito e isso causava uma sensação de engano muito grande. Essa é a sensação que muitas pessoas tem ao se deparar com blogueiras, influencers ou ate mesmo nós, meros mortais. Quem nunca ouviu a frase: ah meu amigo é mais bonito nas redes sociais do que pessoalmente.
O que nós estamos vivendo? Qual a nossa realidade? Para Frederik Travis, neurocientista norte-americano, em entrevista para o portal Uol: “somos nós que criamos a nossa própria realidade. Ela não é formada por objetos concretos externos. O que acontece com esses objetos é que podemos conectá-los com o nosso entendimento de mundo, com experiências e impressões do passado... criando constantemente diferentes tipos de realidade.” ...ou seja, a realidade é uma vertente pessoal do que nós acreditamos ser real ou não.
Mas observo, que para milhões de pessoas no mundo pós advento da nossa querida “MATRIX” chamada carinhosamente de “REDES SOCIAIS”, a nossa existência passou a estar vinculada a este mundo virtual.
Porem existem limites nesses dois mundos que ultimamente não tem sido respeitados.
Estar nesses dois mundos e atuar em ambos mantendo a sanidade esperada a um mortal comum e educado nesta sociedade e cultura atuais, tem se tornado uma tarefa desumana e o maior tormento desta geração.
É mais comum encontramos personagens do que pessoas reais, produtos de uma realidade virtual, verdadeiras personificações de fotos editadas com power filtros e beuaty apps.
O perigo da coexistência entre mundo virtual x mundo real é entender e separar o que é real e o que é o virtual e seu papel real na nossa real realidade.
No mundo real nós temos limitações naturais como alimentação, sono, cansaço, etc.
No mundo virtual, temos a noção de que podemos ser e fazer o que quisermos e é nesse momento que devemos refletir sobre quem somos... seres reais virtualizados ou seres virtuais tentando ser reais...
Não podemos eliminar a importância do mundo virtual no nosso cotidiano, mas a nossa existência não pode depender única e exclusivamente dele.
Com o advento da internet aprendemos muitas coisas, exploramos novos mundos e abandonamos práticas antigas. Evoluir é um exercício diário mas com a internet, o que antes era rápido, hoje é a base da velocidade da luz, trazendo tanto benefícios quanto malefícios.
As redes sociais, antes criadas para aproximar as pessoas, agora são o real motivo para o afastamento das pessoas. Nós nos aproximamos de amigos distantes, mas nos afastamos de amigos próximos... você já leu ou ouviu isso, com certeza.
Gostaríamos de usar o Instagram para retratar momentos de felicidade, como um álbum de fotos, porem despertamos e aprofundamos doenças como ansiedade, depressão e ate mesmo, em resultados mais drásticos, o suicídio.
O mundo virtual existe para servir o mundo real porem em dado momento, a nossa existência se comprometeu, influenciada pela supremacia da importância da virtualidade perfeita e acabada dos modelos de sucesso e que tem a resposta certa, o produto certo... a VIDA NA MATRIX!
Nós podemos acreditar na realidade que quisermos, como afirma Travis, mas é urgente que pensemos e construamos arcabouços mais reais e complexos do que tem sido exibido, vendido e se transformado em objeto de desejo e não de vida e da tão desejada humanização das relações, tal qual o ESCOLHIDO Neo e sua amada Trinity, mentoreados pelo Eterno mentor, Morpheus, bendita saga, escrita por Lilly e Lana Wachowski, duas mulheres fora de seu tempo, inspiradas por Orwell em seu “profetismo” e ilimitadas em sua genialidade como Jobs e Spielberg em suas criações!
Como entender as limitações que ambas realidades possuem e fazer escolhas baseadas em reflexões construídas e não copiadas de estereótipos resultantes de gatilhos mentais, inibidores dos saberes e hipnotizadores dos sentidos?!
Podemos lidar e nos beneficiar com o paralelismo do mundo virtual, mas nada como sentar à mesa e conversar com os amigos sem postar nada no Instagram, nem uma frase de efeito no Twitter, ou uma atualização do Stories ou um minuto motivacional no quase novo IGTV.
Ao invés de mandarmos uma mensagem no Whatsapp para a nossa avó, podemos visitá-la, ou ao invés do Waze, nos perdermos nos caminhos e descobrirmos novos trajetos e outras paisagens... porque ainda existem pessoas que valorizam as relações “antigas” do mundo real... e outras que ainda continuam se “perdendo” até se acharem na estrada da vida, onde o GPS já ficou obsoleto e o Waze, não cobre a rota, pois o satélite não reconhece esse novo e brilhante caminho chamado VIDA REAL.
Nós não somos produtos de uma realidade paralela e muito menos de “likes e comentários” em redes sociais.
Podemos existir nas duas realidades, ou somente em uma, mas não podemos afirmar que, existir em uma realidade, elimina a sua existência em outra.
Para falar a verdade, se colocássemos na balança, o mundo virtual é resultado do mundo real, não o inverso e somente em um deles você pode morrer de verdade. Parafraseando Morpheus ao encontrar Neo, A.K.A o escolhido: Chegou a hora de fazer uma escolha, Sr. Anderson.