Pedaladas na pandemia
Marcos CAVALCANTI
Coordenador do CRIE (Centro de Referência em Inteligência Estratégica) |
O COVID-19 já contaminou mais de 7 milhões de pessoas e matou mais de 400 mil no mundo. O Brasil teve mais tempo que outros países para se preparar para a pandemia. Ela começou aqui depois do carnaval, em março, e já contaminou quase 700 mil e matou mais de 36 mil pessoas.
Na economia o impacto foi gigantesco. Aqui nos EUA mais de 40 milhões de pessoas perderam o emprego, mas eles estão começando a se recuperar. No Brasil, já estamos com 13 milhões de desempregados, mas o número ainda está aumentando. E os MEI (microempreendedores individuais) e as pequenas e médias empresas estão à beira da falência.
Quase todos já entenderam que não haverá uma volta ao "normal". A pandemia vai deixar marcas em todos nós e vai alterar a forma como trabalhamos, estudamos, moramos e cuidamos da nossa saúde.
Mas ainda tem gente, no Brasil, que acha que "tudo isto é um exagero", "que não está morrendo tanta gente assim", "que as pessoas que estão morrendo já iam morrer mesmo"...
Será?
Resolvi então ir às fontes. Ao invés de "dar palpites", que tal buscarmos dados e evidências que suportem nossas opiniões?
Fui consultar a base de dados do Registro Civil, onde se registram TODAS as mortes que ocorrem no Brasil, independente das causas. Se a COVID-19 é "uma invenção da imprensa", "uma gripezinha" e as "pessoas que morreram já iam morrer mesmo", o número total de mortes deste ano deveriam ser igual ao do ano passado, não é?
De fato, durante janeiro e fevereiro de 2020 o número total de mortos no Brasil foi praticamente o mesmo de janeiro e fevereiro de 2019: em janeiro de 2019 morreram 104 mil pessoas contra 105 mil em janeiro de 2020; em fevereiro de 2019 morreram 88 mil pesssoas e em fevereiro de 2020 morreram... 88 mil pessoas no Brasil!
Mas em março, abril e maio o número total de mortos em 2020 aumentou enormemente em relação aos mesmos meses de 2019 (vejam o gráfico): foram 26.000 mortos a mais em apenas três meses! Se comparássemos com as mortes nestes mesmos meses em 2018 a diferença ultrapassaria os 50 mil mortos!
O militar que está a frente do Ministério da Saúde, obedecendo as ordens do presidente, está tentando maquiar os números da pandemia. Como já disse aqui, manipular números de interesse público é crime de responsabilidade. Dilma sofreu impeachment porque fez isto com o orçamento, as chamadas pedaladas fiscais. O que Bolsonaro está fazendo é PEDALADA na pandemia.
E a experiência brasileira demonstra que quem dá pedaladas acaba caindo do cavalo...
Desta vez o presidente atropelou a população num arroubo autoritário sem precedentes no seu curto período no poder. E o fez sem qualquer satisfação, subestimando a nossa inteligência. Com isso, conseguiu juntar todos contra si e, caso não recue, vai ter o seu mandato abreviado.