Pensadores esquecidos: Max Stirner: O Filósofo do Egoísmo Radical
Autor: Fábio Magalhães de Mattos Júnior
Max Stirner, cujo nome real era Johann Kaspar Schmidt, foi um filósofo alemão do século XIX conhecido por suas ideias revolucionárias e provocativas sobre o egoísmo individualista. Sua obra mais influente, "O Único e Sua Propriedade" desafiou as convenções filosóficas e sociais de sua época, influenciando movimentos como o anarquismo, o existencialismo e o niilismo. Este artigo tem como intuito explorar a vida e suas ideias, destacando seu impacto no pensamento filosófico e político.
Max Stirner nasceu em 1806, em Bayreuth, na Baviera, Alemanha. Pouco se sabe sobre sua vida pessoal, e ele preferia manter sua identidade privada. Inicialmente, estudou teologia na Universidade de Berlim e tornou-se um professor, mas abandonou a carreira acadêmica para se dedicar ao pensamento e à escrita.
A sua criação mais notável, "O Único e Sua Propriedade", foi publicada em 1844. Neste livro, ele desenvolveu uma filosofia extrema centrada no conceito do "Uno”, o indivíduo soberano e autônomo que deveria ser o único mestre de si mesmo. Assim sendo, todas as instituições e ideologias que coagem o indivíduo, incluindo o Estado, a religião e a moral, são formas de opressão. A autoridade seria um elemento que limita a liberdade individual.
O pensador rejeitou as ideias de transcendência (Deus), moralidade universal e qualquer forma de idealismo em favor de uma abordagem egoísta em que o único critério para ação seria o interesse próprio. Isso o levou a negar a validade de conceitos como "bem" e "mal", no qual os via como construções arbitrárias que serviam para controlar as pessoas. Dessa forma, seu pensamento reflete uma visão relativista da moralidade, na qual o julgamento de certo e errado é baseado no impacto direto sobre a pessoa colocando-a no centro de suas decisões éticas e avaliando as ações com base em como elas afetam seu próprio bem-estar. Aquilo que contribui para o bem-estar, felicidade ou satisfação pessoal é considerado "bom", enquanto o que causa sofrimento, dor ou desconforto é considerado "mau". Seu individualismo extremo também se estendia à propriedade, argumentando que o indivíduo tinha o direito de possuir apenas o que pudesse manter por sua própria força.
As ideias do intelectual, embora vastamente ignoradas em seu tempo, tiveram um impacto duradouro no pensamento político e filosófico subsequente. Algumas das maneiras pelas quais ele influenciou o pensamento moderno incluem:
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Stirner é frequentemente considerado um precursor do anarquismo individualista, um movimento que enfatiza a autonomia do ser e a rejeição do Estado e de todas as formas de autoridade. Pensadores como Emma Goldman e Benjamin Tucker foram entusiastas de seu pensamento. As ideias de Stirner sobre a liberdade individual e a rejeição de construções morais universais encontram eco no existencialismo, especialmente nas obras de Jean-Paul Sartre e Albert Camus. O niilismo, que questiona a validade de todas as crenças e valores, encontra afinidades com as críticas de Stirner à moralidade e à autoridade. Friedrich Nietzsche, provavelmente teve algumas de suas concepções inspiradas em Stirner, e essa influência será demonstrada a seguir.
Embora Friedrich Nietzsche e Max Stirner tenham abordagens filosóficas distintas e até mesmo conflitantes em alguns aspectos, existem algumas semelhanças notáveis em seus pensamentos, principalmente em relação à crítica da universalização ética (preceito cristão desenvolvido racionalmente na filosofia Kantiana), à ênfase na individualidade e à rejeição de valores impostos pela sociedade. Ambos questionaram a moralidade tradicional e a noção de bem e mal. Nietzsche desenvolveu a ideia do "além do bem e do mal", dizendo que a moralidade convencional era uma construção social que limitava a liberdade. Stirner também rejeitou a ética universalizada, enfatizando o egoísmo absoluto como a essência de todo homem. Ambos os filósofos salientaram a importância do indivíduo e da sua singularidade. Nietzsche defendeu o "super-homem", um ser que cria seus próprios valores e se afasta das normas convencionais. Stirner postulou o "único", o sujeito autônomo que é dono de si mesmo e não está submetido a qualquer autoridade externa. Os dois rejeitaram os valores impostos pela sociedade e pela cultura. Eles alegaram que as crenças e valores tradicionais eram frequentemente usados para controlar e subjugar. Nietzsche criticou o "ressentimento" associado à moralidade, enquanto Stirner desafiou as ideologias que limitavam a liberdade. Eles dois questionaram a religião e sua influência na sociedade. Nietzsche é conhecido por seu famoso aforismo "Deus está morto", que simboliza a rejeição da autoridade religiosa. Stirner também criticou a religião, considerando-a como mais uma forma de imposição de valores e tirania. Embora essas semelhanças sejam notáveis, é importante destacar que os dois tinham diferenças significativas em suas filosofias. Por exemplo, Nietzsche estava mais preocupado com a "vontade de poder" e o "eterno retorno", enquanto Stirner enfatizava a autonomia absoluta do ser humano. Além disso, Nietzsche era mais otimista sobre a possibilidade de criar novos valores, enquanto Stirner parecia mais cético em relação a qualquer sistema.
Em resumo, ambos os sábios compartilharam uma crítica da moralidade consagrada, uma ênfase na individualidade e uma rejeição de valores impostos, mas suas abordagens específicas e os detalhes de suas ideias diferem em alguns aspectos.
Max Stirner, o filósofo do egoísmo individualista radical, desafiou as normas e convenções de seu tempo com suas ideias extremas sobre a autonomia do ser. Sua obra, "O Único e Sua Propriedade", deveria ser estudada e debatida até os dias de hoje, entusiasmando movimentos políticos e filosóficos que valorizam a liberdade individual acima de tudo. Embora suas ideias tenham sido criticadas e consideradas extremas, não se pode negar a influência duradoura que Max Stirner teve sobre vários pensadores.
Referências bibliográficas:
O Único e a Sua Propriedade; Número de páginas. 342; Idioma. Português; Editora. Antígona 2ª edição (1 janeiro 2004)