A perda da identidade é um aprendizado diário

A perda da identidade é um aprendizado diário

As ondas de pensamentos, ideias e medos de quem está procurando emprego e não está encontrando vão e vem numa constância oceânica. Tem horas que a pessoa não sabe mais quem ela é.

Em alguns dias, passa pela cabeça a antiga rotina. No meu caso, no jornal: "Despertador tocando, cafezinho, trânsito, estacionar o carro, passar na portaria, "Oi, bom Dia. Tudo bem?', 'Vamos para a reunião', 'Aquela pauta rendeu?', 'Vamos almoçar?', 'Dez minutos para o fechamento! Vamos, gente', 'Troca a foto!', 'Tem como aumentar meu espaço?', 'Tchau, até amanhã!'". Ver gente, conversar, mandar e receber e-mails, visitar pessoas e empresas, fazer entrevistas, conhecer projetos. Tudo isso é muito fascinante. Que saudade! 

Minutos depois, a onda de pensamento vem e te dá um caldo: "Boletos atrasados. Tenho que cortar a TV por assinatura. Não para comprar mais aquelas coisas que eu gostava. E amanhã, como vai ser?, Tenho um filho pequeno para criar, Vou ter que fazer 'qualquer coisa', Ele vai ter orgulho de mim um dia?".

A experiência do desemprego é uma das mais angustiantes pela qual passa o ser humano adulto. E nos afeta de uma maneira profunda mesmo. 

Estou sentindo isso de maneira muito intensa. O emprego passa a ser o centro da nossa vida enquanto estamos nele, pelo menos para a maioria das pessoas. A hora de acordar e de dormir, o padrão de vida, as roupas e os pensamentos são moldados pelo trabalho. A nossa identidade é construída em função da nossa posição, pois a pergunta que não cala em todos os lugares que vamos é: "O que você faz?"

E não ter o que dizer é horrível. Vivo em um círculo social em que ser ou estar em uma grande empresa é fundamental para ser respeitado. Eu também gosto muito disso, fui criada assim, convivi com pessoas que amam ser assim. Sinto falta. E minha identidade está meio abalada. "Fui jornalista ou ainda sou?", eu me pergunto. 

O impacto é ainda maior quando os anos dedicados àquela função foram muitos e o desemprego te pega pela primeira vez. É o meu caso. O que me resta é adquirir experiência, é aprender a valorizar cada coisa que eu tenho, é imaginar o quão diferente e melhor farei "da próxima vez". 

Enquanto essa nova chance não vem, tento colocar as ideias no lugar e fazer o possível para sobreviver. Estou assim, sobrevivendo. E aprendendo. 

Arlete Morais

Finanças l Analista Financeira l Analista de Contas a Receber l Bancária l BPO

9 a

Mas ainda bem que é uma situação que passa e assim podemos reconstruir a vida a partir do novo emprego e dar valor aos que nos rodeiam...

Pura verdade, o medo toma conta da gente ainda mais com essa politica e sem perspectiva de melhora.

Faço minha as suas palavras.

Arilton Carlos Mendonça Badaró

Engº Mecânico Master; Consultor HVAC; Economia Energética; CheckUp Predial; Engº Vendas Técnicas; Analista de Projetos

9 a

Você ainda é jovem Eleni! Tem uma vida toda e mil oportunidades pela frente. Agora imagine a angústia de um engenheiro sênior, passando dos 60, com quase 40 anos de experiência, quando o mercado fecha todas as portas e a esperança de recolocação é quase nula! É no mínimo injusto...

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