Perspectivas para o cenário econômico brasileiro: de 2019 a 2023

Perspectivas para o cenário econômico brasileiro: de 2019 a 2023

Nos últimos anos, o Brasil esteve submerso em uma crise sem precedentes. Em 2016 teve a pior recessão de sua história, e, considerando um 2015 também com resultado negativo, culminamos no período recessivo mais intenso desde 1948.

O PIB em 2018 mostrou alguns sinais de respiro, com Agropecuária, Indústria e Serviços demonstrando uma esperança de retomada ao patamar pré-crise. Porém, com as taxas de investimento em níveis baixos e uma inflação que mesmo assim mantém-se próxima ao limite superior da meta, é evidente o quão árduo pode ser o caminho para a recuperação. Com isso em mente, apresentamos nesse artigo uma análise preditiva do cenário econômico brasileiro para o período 2019-2023, sob uma perspectiva otimista e uma pessimista, buscando identificar os principais pontos em que ações corretivas devem ser tomadas nas políticas econômicas do Brasil.

Se tudo der certo? 

           Conforme o Mapa Estratégico da Indústria 2018-2022, é necessária a construção de uma economia dinâmica e competitiva. O Brasil precisa urgentemente diminuir seus gastos e aumentar sua competitividade e isso passa por duas agendas principais. Por um lado, é necessário superar as falhas cíclicas na construção de uma infraestrutura logística competitiva e estável. Pelo outro lado, é necessário facilitar a inovação e o crescimento, por meio de uma revisão do arcabouço jurídico que afasta os investidores do Brasil. Ou seja: precisamos de um país com estrutura competitiva, facilidade de investimento e segurança jurídica.

           A estrutura competitiva permitiria que nossos custos logísticos fossem diminuídos. O Brasil pode investir em modais de transporte alternativos (como novas estruturas de ferrovias e fluviais), gerando uma diminuição dos custos de transporte das empresas. A produção, hoje, ainda depende basicamente de um único modal, rodoviário, o que gera custos excessivos (e inseguranças constantes provenientes de greves ou crises do petróleo).

           A facilidade de investimento fala do ponto de vista empreendedor: hoje é muito difícil e caro inovar no Brasil. A carga tributária é robusta e complexa, afastando possíveis investidores e diminuindo fortemente nossa capacidade de inovação. Complementando esse ponto de vista, nossos investimentos de pesquisa são extremamente baixos, o que torna nossa economia mais estagnada.

           O terceiro ponto, a segurança jurídica, considera que nosso poder Judiciário ainda atua de forma altamente incerta. Dando um exemplo recente, o STJ estabeleceu recentemente que a cobrança de taxa de conveniência em vendas de ingresso online é ilegal. Mais do que isso, estabeleceu sentença que obrigaria as empresas a reembolsarem todos seus consumidores dos últimos anos. Este pequeno exemplo mostra como o poder jurídico pode, sem aviso, atacar todo um segmento de serviços. Mostra também a insegurança em se abrir novos negócios no Brasil.

           Considerando esses fatores, o cenário otimista começa com uma revisão da expectativa sobre as políticas brasileiras, tudo tendo início na política fiscal.

Quando pensamos na diminuição do gasto do governo, a Reforma da Previdência se torna o centro da discussão. Com a aprovação da reforma (afinal, estamos falando de um cenário otimista) em sua forma mais completa até julho de 2019, o governo teria em suas mãos uma economia de 1,2 trilhão de reais em 10 anos. À partir desse ponto, sua prioridade seria a concessão de crédito para fazer girar o ciclo da economia. Isso gera uma nova questão: para onde deve ir esse crédito? A reforma passa pelos pontos citados no parágrafo anterior: construção de uma infraestrutura logística robusta, que permita a transferência de valor com custos menores, e que seja a base para futuras inovações tecnológicas.

Gráfico demonstrando o crescimento do PIB em cenários considerando a aprovação ou não da Reforma da Previdência.

Como pode ser visualizado no gráfico, o cenário com a reforma aprovada já altera a previsão do PIB para 2,9% de crescimento em 2019. Os anos seguintes, em uma perspectiva conservadora, podem chegar a ter uma média de 3,02% ao ano.

Mas ao considerar um cenário otimista, podemos pensar em situações que tornem essa previsão ainda melhor. Um fator importante: a estrutura tributária. Com a reforma da previdência aprovada, o governo poderá focar seus esforços em ajustar o arcabouço de impostos brasileiro, ao mesmo tempo em que aumenta o crédito para a inovação e o empreendedorismo.

Com estas ações sendo tomadas e bem executadas, o crescimento pode ser estrondoso. O relatório do mapa estratégico da indústria menciona uma macrometa de 20% de aumento na produtividade do trabalho para 2022. Isso passa pela melhoria da gestão empresarial, inovação na indústria, qualificação profissional e internacionalização. O objetivo é aumentar a presença das empresas brasileiras no mercado internacional, com forte apoio de uma base de investimentos sólida construída no país.

Apenas para citar os outros dois setores, no Agronegócio, as reformas bem aplicadas permitiriam um crescimento de 2% ao ano em seu componente do PIB, e os serviços uma média de 3.34% ao ano.

Tabela com projeções da variação do PIB brasileiro até 2023, demonstrando também seus principais componentes.

Considerando a tabela acima, retirada do relatório O Crescimento da Economia Brasileira 2018-2023, do BNDES, podemos também fazer alguma previsão para o Emprego e a Inflação. O crescimento do PIB, aliado as altas taxas de investimento esperadas para o período (chegando ao alto índice de 19,5%), implicaria num forte giro do ciclo da economia, certamente com níveis elevados de contratação. A inflação, num cenário otimista permaneceria sob controle, principalmente com inovações brasileiras podendo ser exportadas. Podemos até arriscar um palpite para as eleições de 2022: uma reeleição ou eleição de um partido alinhado à situação atual, visto que a percepção seria de um país em franca retomada.

Concluindo a análise otimista: sabemos que o caminho para os objetivos não é simples, e que muitas mudanças de cenário podem ocorrer a cada dia, considerando a tradicional incerteza dos governos brasileiros. Independente disso, podemos esperar um futuro de crescimento estável para o Brasil do futuro.

E se tudo der errado? 

Semelhante à análise otimista, o cenário pessimista começa com a Reforma da Previdência. O que pode acontecer se a reforma não for aprovada? Tudo indica que o cenário de crise que vivemos hoje no Brasil poderia se aprofundar ainda mais, gerando uma situação insustentável, com taxas de juros altíssimas, uma recessão ainda mais profunda, o aumento do desemprego e a desvalorização ainda mais forte do Real.

O ciclo econômico não leva esse nome à toa. Os erros na aplicação das políticas piorariam nossas previsões, que dificultariam ainda mais na aplicação dessas políticas.

A falha do Brasil em se reinventar, trazendo a reforma previdenciária, a diminuição dos gastos da política fiscal, a falha na aplicação das políticas monetárias e o subsequente aumento dos juros (com atitudes, certamente, a cada momento menos prudenciais e mais radicais), levaria o Brasil para o que seria o momento mais grave de crise de sua história. Rivalizaríamos, em 2022, com a crise da hiperinflação pré Plano Real, gerando comparações internacionais com países que, hoje, parecem uma realidade distante, como a Grécia, a Venezuela e a Argentina.

Gráfico de colunas demonstrando a diferença entre o orçamento previdenciário e outros temas do governo federal, como Saúde e Educação.

Como pode ser visto no gráfico acima, a Previdência hoje supera, com folga, os outros gastos do governo federal. Sem a reforma, isso irá aumentar, com analistas sugerindo uma possível “quebra” do Brasil. Sem o ajuste de contas, não haverá arrecadação suficiente para pagar a previdência, gerando o atraso de pagamentos. Pior, poderá existir um movimento do governo de aumento de impostos para diminuir o déficit, diminuindo mais ainda o dinheiro disponível para os brasileiros. Sugerindo aqui outra ação para piorar o cenário, talvez o governo passasse a seguir o exemplo da Argentina e efetivamente imprimir dinheiro para pagar suas contas. Isso geraria um novo cenário de hiperinflação.

Na análise pessimista, nenhuma das reformas seria feita. Com a reforma tributária um sonho distante, os brasileiros pagariam mais e mais impostos. O investimento cairia (afinal, o risco do Brasil se tornaria insustentável), gerando um aumento ainda maior do desemprego. A taxa de juros SELIC tenderia a subir novamente, para patamares de 15% ao ano. Embora isso pareça ser uma boa notícia ao investidor, os gastos cada vez mais altos do governo gerariam um risco alto de inadimplência.

Com isso, o Brasil precisaria começar a recorrer à dívida externa. Com o banco mundial passando a controlar nosso sistema econômico e ditar nossas regras, podemos esperar ajustes ainda mais severos. Até esses ajustes fazerem efeito, podemos esperar um desemprego maior (com a desvalorização ainda mais acentuada da mão de obra qualificada), uma inflação completamente fora de controle e uma incerteza gritante nas análises sobre o futuro do país.

Conclusão

  Seguindo uma tendência atualmente em voga em cada texto sobre economia publicado no Brasil, A Reforma da Previdência, maior polêmica das discussões político-econômicas atuais, insere-se como o instrumento mais importante para a atuação do governo nas expectativas para o mercado em 2019.

A recuperação da economia ao patamar de antes da crise pode estar a pleno alcance de nossos atores políticos, resta saber se o governo terá a sabedoria necessária para aplicar as reformas, dando a segurança necessária na expectativa do Brasil. Podemos voltar a crescer, cabendo a todos trabalhar nesse sentido. Mais uma vez, torna-se evidente a necessidade da educação, da transmissão dessas informações. Podemos juntos construir um Brasil melhor.

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