Pesquisa de Trombofilia é para todo mundo?
Quando eu pego uma paciente com trombose após anticoncepcional, sempre eu recebo a pergunta:
Por que não testam todas as pacientes?
A minha resposta é sempre pela relação custo benefício. Às vezes pode ser difícil de entender, e para exemplificar encontrei um estudo de farmacoeconomia de 2005 que ajudou nas recomendações de investigação de trombofilia atual.
O estudo de Wu e colaboradores começa com dados assustadores: pesquisa de trombofilia de maneira indiscriminadas podem gastar US$ 433 para detectar um caso de resistência a proteína C ativada a incríveis US$ 7795 para detectar um caso de deficiência de proteína S. Estimando um custo de US$300.000.000 para prevenir uma morte por uso de anticoncepcional.
Estudos prévios de farmacoeconomia analisaram os dados em trombose venosa profunda comparando:
A diferença de custo foi US$ 279.33/ano Qualy por 3 anos e US$299.39/ano Qualy sem teste.
Outro estudo mostrou que testar trombofilia antes do uso de anticoncepcional indiscriminado X em quem tem história familiar positiva para trombose era mais custo efetivo (US$ 55.260 X US$54.820).
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Wu e colaboradores realizaram esta meta-análise comparando a investigação pré-uso de anticoagulação, gravidez, terapia de reposição hormonal e pré-cirurgia ortopédica. Como o estudo foi em 2005 foram utilizados para análise de custo enoxaparina, varfarina com o TAP, aspirina e meias de compressão.
Os resultados foram expressos por ICER (custo total/complicações prevenidas - valores em libras). Somente no cenário pré-reposição hormonal seria custo efetivo fazer o screening de trombofilia, prevenindo 42 eventos a um ICER 6824 e o pior seria no screening universal pré-anticoncepcional com o ICER 200.402.
A estratégia seletiva - testar aquela que pesquisa quem já teve trombose ou tem história familiar - foi a mais custo efetiva, reduzindo em 60% o custo nos casos de reposição hormonal (ICER de 6824 para 2447) e 64% nos casos de contracepção(200.402 para 79.085).
Referência: doi:10.1111/j.1365-2141.2005.05715.x
Esse caso exemplifica bem como enquanto prescritores, devemos estar atentos ao real benefício do que solicitamos ou prescrevemos aos nossos pacientes.
Nessa análise não foram incluídos pacientes que testaram indiscriminados e que vieram com resultado positivo e que ficam com o estigma de trombofílico sem nunca ter trombosado ou ninguém na família ter trombosado - que sabidamente é o maior fator de risco.
Quase que diariamente algum paciente reclama do aumento do plano de saúde. Muitas vezes os tratamentos e procedimentos são negados, necessitando relatórios adicionais, gerando um desgaste na relação médico-operadora, que culmina respingando na relação medico-paciente.
Se fizermos a nossa parte contribuiremos para uma medicina de qualidade e financeiramente viável.