Pesquisa e Desenvolvimento no Brasil
Introdução
A humanidade sempre busca aprimoramento desde os primórdios da antiguidade. Esta busca incessante pela melhoria contínua nos levou à descoberta do fogo, a invenção da roda, criação da agricultura e mais tarde aos inventos da Roma antiga, da revolução industrial, dos períodos pós-guerras mundiais e por fim na globalização.
Hoje estamos num ponto em que nossa existência depende de ações que melhorem o produto de forma a impactar minimamente o ambiente e o planeta.
Argumentos
Para que toda essa evolução acontecesse, o ser humano precisou inventar e se reinventar. A curiosidade e a pesquisa sempre esteviveram presentes no ser humano desde a descoberta do fogo. Sem pesquisa não haveria como um homo sapiens da "caverna" conseguir criar e reproduzir fogo através do triscar de duas pedras ou do atrito entre madeira e palha. Antes deste marco, o fogo era resultante apenas de fenômenos da natureza, tomando como exemplo a descarga elétrica de um raio que incendeia vegetação seca.
Sem pesquisa e desenvolvimento (P&D) os nossos ancestrais não conseguiriam sobreviver em um mundo tão hostil. Sua criatividade e vontade de aprimorar facilitaram suas vidas levaram à invenção de ferramentas para auxiliar na caça, pesca e demais tarefas. Essa evolução constante que nos levou até a modernidade que temos nos dias de hoje, onde tudo está praticamente às nossas mãos.
Desta forma, analogamente as empresas precisam buscar sempre aprimoramento e desenvolvimento para manterem-se competitivas. Isto é possível através dos setores de pesquisa e desenvolvimento dentro destas empresas, pois as grandes ideias vêm de pesquisadores, estudiosos e especialistas.
Uma outra maneira explorar a P&D é através da competição, como exemplo a Formula-1, onde as montadoras aplicam milhões para que seus melhores engenheiros e especialistas utilizem todo seus conhecimentos para extrair milésimos de segundo destes veículos. Posteriormente muitas destas inovações acabam sendo incorporadas em veículos convencionais, como por exemplo a suspensão ativa, controle de tração e as "borboletas no volante" para troca de marchas.
Desta forma, multinacionais precisam ter estes setores de P&D para que consigam evoluir seus produtos. Algumas multinacionais possuem grandes centros para realizar estudos, pesquisas e experimentos principalmente no ramo automotivo. Normalmente estes setores de P&D ficam situados nas matrizes ou em países onde as plantas destas multinacionais recebam algum tipo de incentivo tecnológico e/ou financeiro.
Infelizmente no Brasil não possuímos muito destes centros tecnológicos ora por falta de incentivo e ora pela cultura regional, onde o foco da maioria dos profissionais está em ser líder, gerente, diretor e para isso buscam sempre aprimoramento nas áreas de gestão de negócio, gestão de pessoas e liderança.
No Brasil a oferta de profissionais mais técnicos com formação voltada à pesquisa e com mestrado, doutorado e especialidades direcionadas às áreas técnicas é muito escassa, afinal não existe procura por este perfil de profissional no Brasil. Normalmente estes profissionais acabam migrando para o mundo acadêmico, onde acabam lecionando e realizando pequenas pesquisas quando permitido.
Isto gera uma imensa lacuna de desenvolvimento com relação aos países que incentivam este tipo de carreira e o que mais se percebe é que falta emprego para perfil profissional técnico pela falta de vagas técnicas e falta emprego também para aqueles que possuem perfil gerencial justamente pelo excesso de profissionais qualificados neste perfil.
Alinhado tudo isso, ainda possuímos brechas que permitam com que engenheiros sejam contratados como analistas, denegrindo esta classe de forma tal que desmotivem jovens a ingressar nesta carreira buscando evolução na área técnica ou até mesmo fazendo com que desistam da engenharia.
Conclusão
A longo prazo, pode ser que sejamos reféns da tecnologia proveniente de engenheiros especialistas de outros países e que multinacionais sejam apenas "importadoras" de tecnologias exteriores, sem que haja desenvolvimento no país. Indo mais a fundo, talvez produtos que sejam comercializados aqui não sejam otimizados para atender ao público alvo brasileiro e não atendam a características específicas do país, como por exemplo clima e relevo.
Tomando como consequência adicional, vejo que se houver déficit de engenheiros qualificados, normas, metodologias e legislações não serão revistas de forma a melhorarem o controle do que é comercializado e produzido no país, que vai de contrapartida ao que a humanidade busca para evoluir, que é o aprimoramento do produto e a redução do impacto ambiental do produto.
Ainda na parte de desenvolvimento, atualmente os engenheiros ou analistas por "força maior" acabam trabalhando mais com finanças e cronogramas do que com a própria engenharia em si. Melhora nos processos, nos cálculos/físicos e a automatização são colocadas em segundo plano, pois o foco principal dentro de uma equipe cada vez mais enxuta é de fornecer revisões intermináveis de cálculo econômico dos budgets e do atendimento ao cronograma sem uma análise mais profunda de gargalos processuais que acabam aumentando justamente os custos, o tempo de execução e a eficácia de um modo geral.
Concluindo, não existe desenvolvimento se não houver pesquisa, não há pesquisa se não houver pesquisadores, não há pesquisadores se este tipo de carreira não é valorizado.
Ideias e Sugestões
Uma equipe deve ser montada levando em consideração perfis técnicos e gerenciais, pois setores focados especificamente em P&D ajudarão a empresa a melhorar seus produtos e torná-los mais eficientes.
Se não é possível em um curto prazo uma reestruturação ou criação de setor específico para P&D por causa de budget ou por capacidade de pessoal, talvez uma alternativa seja reservar por exemplo uma hora por dia para que engenheiros atuem como engenheiros e não como administradores. Isto aumentaria a produtividade, melhoraria os processos, incorporaria a busca pela melhoria contínua e inovação. Os resultados seriam redução dos custos, do tempo de execução tornando o fluxo de trabalho mais eficaz.
Formadores de opinião, líderes e gestores que por ventura estejam lendo a este artigo, reflitam a respeito do que foi escrito aqui. Faz sentido em deixar o potencial e o know-how que engenheiros brasileiros possuem, tornando-os seguidores de um sistema com tarefas mais administrativas e gerencias do que realmente técnicas? Deixem seus comentários.
Obrigado.
Autor: Marcelo Semmler - Engenheiro Mecânico Automotivo - Especialista em Resistência ao Deslocamento
Fonte de Imagens: Google Search e Arquivo Pessoal
Escrevente na Tribunal de Justiça de São Paulo
3 aParabéns!! Acabei mudando de área por exatamente falta de incentivo ao desenvolvimento. =o)
Engenheiro do Produto at Volkswagen do Brasil
3 aParabéns Marcelo. Voce realmente colocou o que estamos passando. Hoje em dia estamos pensando muito no agora. Se eu corto algo hoje o resultado imediato aparece, porém pode comprometer o futuro, quer seja não realizando o trabalho ou não tendo capacidade técnica para tal. Muito bem colocada suas palavras!
Logística--
3 aParabéns!
Engenheiro de Desenvolvimento do Produto I Engenheiro Experimental I Pesquisa e Desenvolvimento I Instrutor de Treinamento Técnico I Assistência Técnica I Suporte à Engenharia de Qualidade
3 aMarcelo, artigo perfeito. Você colocou em palavras tudo aquilo que estamos passando no dia a dia em nossa profissão. Parabéns! Você matou a charada.
D.Sc. Sales & Application Manager - Hydraulic Filtration researching Green Hydrogen Electrolyzer & Diesel Biofuel.
3 aParabéns Marcelo, excelente arquivo, continue sempre assim, excedendo as expectativas!! Sempre avante ragazzo.