Pessimismo e pose
Fiz Filosofia na USP há uns 10 anos. Lá estando, sempre soube que as panelinhas não conversavam. Os kantianos vestiam-se formalmente, e não se misturavam com os sartrianos, que tinha um comportamento blasé, nem com os pessimistas, que pareciam mendigos, não tanto nas roupas, mas no comportamento. Claro que todos eles no fundo são apologetas. Gente que se mete a dar discurso em prol de sua visão de mundo. Mas, ao contrário do primeiro apologeta, Platão, em sua Apologia do mestre (Sócrates), estes nossos são mequetrefes. Não vão realmente àquilo que há de mais profundo em suas argumentações. Ficam com a pose. Vários amigos que (ainda) acredito ter defendem com unhas e dentes seus comportamentos, alguns bastante desviantes. Esse estilo de vida dos meus amigos descamba muitas vezes para o pessimismo. É como se eles, que não leram Schopenhauer, ou Kierkegaard, o primeiro, tivessem resolvido viver suas lições. Até aí nada de ruim. Ocorre que muitas vezes, e digo muitas, diviso em várias daquelas diatribes de meus amigos (às vezes bêbados) uma certa pose. Um certo derrotismo de antemão, como se estivessem condenados a terem vidas que eles próprios se deram e que penduram nas paredes de seus egos como condenação por serem seres humanos "comunes y corrientes". Isso é pose. Odeio pose. Odeio mis-en-scene. Odeio apresentações. Odeio apertos de mão mal apertados. Odeio olhares de cima a baixo. Odeio perfumes colocados só para causar impressão. Odeio tudo isso porque tudo isso é falso. E naqueles momentos em que diviso pose só me restam duas escolhas: ou achar que as colocações de meus amigos são desconhecimento ou que são meras diatribes de meus amigos. Com isso, eu, que sou lá no fundo kantiano, não me meto a julgá-los. Porque se não posso acabar entrando em discussão. E não gosto de perder. Muitos outros amigos não fazem nada disso. Vivem, e falam, e sofrem, e curtem, e penam, e pensam, e distinguem a vida de outra forma. Não caindo por aí como se fossem perdidos numa noite suja, mas defendendo sua moral como o cachorro de rua defende sua cadela. Aí é bom.