Petroleiras cortam investimentos em exploração no Brasil

• 19-10-2015

Dentro do esforço de reduzir seu plano de negócios, a Petrobras decidiu apertar de vez o cinto na exploração. Na semana passada, a estatal deu um sinal claro de que pretende diminuir o ritmo no setor, ao ficar de fora, pela primeira vez na história, de uma rodada da Agência Nacional de Petróleo (ANP). Enquanto isso, a companhia vem reduzindo suas atividades exploratórias a níveis da década de 1990, colocando um pé no freio na perfuração e campanhas sísmicas e, consequentemente, intensificando a paralisia da cadeia fornecedora do setor.

A exploração é o nicho do mercado de óleo e gás que mais emprega e deve ser um dos mais afetados pela redução dos investimentos das petroleiras, que, com caixas achatados pela queda do preço do barril do petróleo, resolveram conter seus planos de negócios no Brasil e em todo o mundo. Uma pesquisa, que será apresentada pelo Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP) hoje, mostra que o corte dos investimentos das petroleiras em exploração e produção no Brasil deve reduzir em cerca de 4 mil vagas a expectativa de geração de empregos diretos na indústria de óleo e gás em um ano, sobretudo no setor exploratório. Já o impacto direto e indireto dos cortes na geração de renda, segundo o IBP, são estimados em R$ 12,4 bilhões.

Levantamento feito pelo Valor, com base no Banco de Dados de Exploração e Produção (BDEP), da ANP, mostra que o número de poços exploratórios perfurados pela Petrobras durante os nove primeiros meses do ano (37) é o pior desde 2000 e está próximo do ritmo exploratório dos anos 1990.

Responsável pela maior parte dos investimentos em exploração do país, a estatal tem puxado para baixo o setor. Segundo Ricardo Savini, presidente da Georadar, empresa brasileira de sísmica, a retração da exploração é consequência do aperto financeiro da Petrobras e do intervalo de cinco anos sem leilões da ANP, entre 2008 e 2013, que trouxe uma descontinuidade na contratação de serviço no país.

Savini explica que o declínio exploratório já é uma realidade há alguns anos, mas eu tem se intensificado este ano. O desempenho do setor reflete nos resultados da Georadar, que já chegou a faturar cerca de R$ 600 milhões no passado e deve fechar o ano com R$ 100 milhões, menos do que os R$ 120 milhões registrados em 2014.

Outras empresas nacionais de sísmica, como a Stratageo e Geoquasar, também sentiram o golpe e, sem novos contratos, praticamente "hibernaram". Na área de perfuração, fornecedoras de sondas também começam a sentir os cortes da estatal, que, seguindo uma tendência já verificada no mercado internacional, reduziu a carteira de sondas em ao menos onze navios nos últimos meses.

O executivo adverte que o declínio exploratório pode trazer consequências para a produção no longo prazo. Embora a Petrobras tenha reservas gigantes para desenvolver no pré-sal, o executivo destaca que a redução de investimentos pode acentuar a redução da produção em áreas específicas. "Quando há um decréscimo na perfuração em uma determinada bacia, há uma diminuição da redução nessa bacia sedimentar. É uma correlação perfeita", explica.

Savini explica, no entanto, que a queda da demanda no setor reflete não somente a redução dos investimentos da Petrobras, mas do setor de uma forma geral. O executivo acredita que as encomendas devem se recuperar no ano que vem, mas destacou que os compromissos exploratórios assumidos pelas operadoras privadas na 11ª Rodada e 12ª Rodada, em 2013, estão sendo postergados "até o limite".

Para Haroldo Lima, ex-diretor-geral da ANP, os cortes da Petrobras no setor de exploração, sentidos com a ausência da estatal na 13ª Rodada, reforçam a necessidade de se estimular o crescimento de novos operadores no mercado brasileiro. "Se estivermos na expectativa de que a Petrobras vai aumentar a área exploratória brasileira, vamos dar com os burros n'água", complementou.

Lima defende que o estímulo às pequenas e médias petroleiras deveria passar não somente pela continuidade dos leilões, como também pela redução de investimentos da Petrobras em campos maduros, que, segundo ele, deveria ser conduzida pela estatal em coordenação com o governo.

Fonte: Valor Econômico/André Ramalho | Do Rio

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