Piloto de rally e de fogão
O Rally dos Sertões 2018 começou nesta semana e aproveitei para contar a história dele no site varejoemdia. Boa leitura!
Claudia Rolli
Se falar para uma mulher que ela é piloto de fogão, ela vai se ofender. Mas, para ele, é o contrário: uma honra.
Em 1982, aos 23 anos de idade, Reinaldo Varela, filho de uma família de fazendeiros de Mirandópolis, no interior de SP, decidiu ir para as pistas participar de rallys.
A estrada, o desafio e a vontade de vencer o atraíram tanto que ele e um primo usaram até o carro escondido do tio para participar de competições.
Primeiro vieram os rallys universitários – ele é formado em administração de empresas–, depois os profissionais, como os dos Sertões, até chegar ao pódio do Rally Dakar, o mais importante dos off-roads.
O Voyage usado nas corridas lá atrás era adesivado na véspera da prova, que geralmente ocorria ao sábado. No domingo, era lavado e entregue ao primo, sem o verdadeiro dono saber.
“Uma vez foi publicada uma foto minha com o carro no jornal da cidade e saímos correndo para arrancar a página do exemplar do meu tio para ele não ver”, diz o empresário, rindo.
De prêmio em prêmio, ele começou a juntar dinheiro. E, com um empréstimo da avó Iza, a dona Luiza, conseguiu dinheiro para montar o primeiro restaurante na companhia de dois primos.
Assim nascia em 1984 o São Paulo I, no bairro de Pinheiros (SP). O ambiente era de uma casa de fazenda do interior do país, assim como a comida, com gosto de “fogão à lenha”. Mais tarde a rede foi batizada de "Divino Fogão".
O investimento foi de Cr$ 30 mil (cruzeiros para quem não se recorda do cifrão da moeda à época) – em parte conseguido com a venda de carros, que eram comprados após sofrerem perda total em acidentes e reformados por ele e os sócios.
O negócio deu certo. “Sempre gostei de cozinhar. Mas não fui para a cozinha, não. Fizemos o cardápio, contratamos uma pessoa e ela foi treinar as receitas com minha avó e minha mãe”, diz o empresário.
A comida era da fazenda: arroz, feijão, carne e também diversos pratos com influência portuguesa, herdada da família.
Em 1988, Nani Scaburi Varela, casada com Reinaldo, se juntou ao time – ele a conheceu na torcida de uma das corridas em que participou.
A comida da fazenda também deu certo, e, em 1992, era aberto o primeiro restaurante no shopping Eldorado, em São Paulo.
O padrão se mantém até hoje: balcão em estilo colonial, fogão à moda antiga, panelas de barro e azulejos portugueses.
Dois anos depois, a segunda loja foi aberta no West Plaza.
“Como surgiu a oportunidade do ponto e eu não tinha dinheiro, vendi tudo que tinha, carro, casa, ia trabalhar de ônibus. Mas investimos e passei a procurar um investidor”, diz.
Assim o casal entrou no ramo das franquias, a partir de 1994, com a primeira loja no antigo Shopping Penha (hoje Continental), na zona leste de São Paulo.
O nome da rede nasceu em um concurso cultural. Uma moradora de Campinas (SP) o sugeriu e ganhou um carro. Já os Varela ganharam o “Divino Fogão”.
“O primeiro, o segundo e o terceiro franqueados estão conosco há 25 anos”, diz o empresário, ao relatar a relação de proximidade com os investidores.
Hoje são 186 lojas espalhadas pelo país, com rentabilidade que varia de 15% a 20%, na média – no segmento de franquias de alimentação, ela é em torno de 10% a 15%.
FÓRMULA
“Optei por um tipo de franquia em que não preciso fornecer os insumos. O franqueado paga os royalties e tem liberdade de escolher os fornecedores, do cardápio aos uniformes. Não ganho em cima de fornecedores”, diz.
“Isso evita um grande desgaste. Esse costuma ser o maior problema na relação entre franqueadores e franqueados. Mas isso não significa não ter de seguir as regras, os padrões de qualidade e as instruções da rede.”
O acesso também é direto ao dono da rede. Ele mesmo trata assuntos diversos com os franqueados que costumam entrar e sair de sua sala.
“Não há intermediários para resolver problemas.”
Até hoje são os interessados em abrir uma loja Divino Fogão que procuram a rede.
“Não investimos em propaganda. Sempre foi no boca a boca. O que fazíamos era comprar o espaço em shoppings em construção e depois repassar o ponto.”
A marca está em todas as regiões do país, mas ainda é no Sul que sente certa resistência dos consumidores.
“Ainda não fomos abraçados pela região”, afirma Varela, ao explicar que essa parte do país tem características regionais fortes – seja no cardápio ou na preferência pelo varejo local.
“Talvez tenhamos errado na forma de entrar na região. Em vez de levar o franqueado de São Paulo, deveríamos ter escolhido um parceiro de lá.”
A reflexão é uma marca forte na personalidade do empresário. Enquanto vai respondendo uma pergunta e outra, vai analisando os fatos que marcaram sua história nas pistas e na rede de franquia.
DO SHOPPING PARA A RUA
A rede Divino Fogão está nos shoppings das principais cidades do país, mas já prepara a abertura de sua primeira loja de rua ainda neste ano.
A novidade foi antecipada ao varejoemdia pelo presidente e fundador da marca.
“Estamos negociando com dois interessados em duas cidades do interior de São Paulo. São localidades que não têm shoppings e com demanda para oferecermos nossos serviços.”
A primeira loja de rua deve servir como projeto piloto para atingir moradores de cidades dentro e fora de São Paulo que não têm praças de alimentação à disposição como as dos shoppings centers espalhados pelo país e que hoje abrigam os restaurantes da rede.
“Estamos até avaliando se é o caso de viabilizar o negócio e ajudar a pessoa a montar a loja para poder sair o piloto desse novo formato”, afirma.
Recentemente, a rede também lançou a promoção Rally de Prêmios, que prevê o sorteio de motos e um carro, além de oferecer uma experiência para participar durante o Rally dos Sertões, do qual é patrocinadora.
A competição é o maior evento off-road do país e acontece na semana de 18 a 25 de agosto, entre Goiânia (GO) e Fortaleza (CE).
A rede de franquias também lançou uma edição especial no canal Divino Minuto, em que investe desde 2017, com receitas inspiradas na culinária regional das regiões do Rally dos Sertões.
MAIS UM
Neste ano, além das novidades no cardápio e na franquia, a coleção de troféus do empresário também ganhou "mais um".
Reinaldo Varela foi o campeão do Rally Dakar 2018, na categoria UTVs, com o parceiro Gustavo Gugelmin.
Reinaldo Varela e Gustavo Gugelmin, corredores da equipe Divino Fogão
Foram 14 etapas e mais de 8.000 km de trilhas na competição. O empresário já tem mais de 360 provas off-road disputadas no currículo – sete delas no Rally Dakar.
Varela também foi duas vezes campeão mundial de Rally Cross Country (2000 e 2013) e tem sete vitórias no Rally dos Sertões por categoria (entre 1998 e 2015).
Do que ele gosta mais?
“Rally é profissão, cozinhar é hobby.”
Acompanhe a história de empresários como o piloto Reinaldo Varela no varejoemdia. A cada semana, a trajetória de uma rede.
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