Pior do mundo desde 1950, produtividade seria a saída mais viável para o Brasil
Gustavo Sette. 29/05/2018
Já que o país está paralisado nessa crise esquizofrênica, faço aqui uma pausa nos temas de empresas familiares para falar sobre um grande vilão brasileiro: a nossa produtividade por empregado, uma das mais baixas do mundo e a que menos cresceu de 1950 para cá.
O país discute grandes mudanças, golpes, grandes culpados, projetos imensos, mas prefiro pensar em soluções graduais e pragmáticas. Ao final do artigo, veremos que cada 1% que a produtividade do brasileiro cresce injetaria 50 bi na economia e, portanto, daria uns 18 bi de arrecadação para os governos desperdiçarem.
Se você acha que 1% é muito, leia o artigo e as comparações. Estamos mais de 6% abaixo do... Peru. 20% abaixo da Colômbia. 11% abaixo do Egito. Menos da metade da Turquia, pior país europeu.
Mexer na receita ou na despesa?
A fórmula perfeita para a falência é gastar mais do que se ganha. Para entender o gasto público brasileiro, recomendo a leitura da entrevista dessa semana na Veja, com o filósofo Roberto Romano, que explica as raízes desse modelo secular, em que os municípios mandam o dinheiro para um governo central redistribuir.
O gasto público é o maior problema dessa nação amaldiçoada por maus gestores, mas também o mais difícil de resolver. Mexer na produtividade também é difícil, mas a história de vários países mostra que é possível dar saltos rápidos nesse tema: produzir mais riqueza.
A produtividade gera mais impostos para bancar nossos “monarcas”, aumenta o consumo, melhora a autoestima, traz crescimento e tudo isso traz mais produtividade.
Montei o gráfico abaixo com dados do The Conference Board. É um levantamento primoroso que mostra a produtividade de cada país, de 1950 para cá, em valores corrigidos e comparáveis. A conta é, PIB por empregado. Note que não coloquei no gráfico países grandes e desenvolvidos...
Uma situação apavorante
Pelo gráfico, em um grupo de países emergentes e/ou pequenos, o Brasil estava um pouco acima da mediana de 1950 a 1980, quando começa o descolamento. Nossa produtividade por empregado foi de 5 a 10 mil dólares de 1950 a 1974, depois bateu perto de 13 mil dólares em 1980 e continua nessa faixa até hoje. Sim, até hoje! Com toda a tecnologia, acesso a estudos e novos conhecimentos, um brasileiro produz em 2018 o mesmo que produzia em 1980.
Esse momento de descolamento fica mais claro vendo o mesmo gráfico em base 100, mostrando a evolução de cada país com base em seu ponto de partida.
Algumas comparações são aterrorizantes.
- A produtividade argentina cresceu menos que a brasileira, mas em 1950 ela já era o triplo da nossa, de forma que um brasileiro de hoje produz o equivalente a um argentino de... 1950.
- Começamos a série produzindo o triplo de um tailandês. Eles empataram conosco só em 1993 e, hoje, um tailandês produz 40% a mais que um brasileiro.
- Um brasileiro produzia o equivalente a 6 chineses em 1950. Em 1976, chegou a 8 chineses, e aí começou a rápida reação. Um chinês passou a produzir um brasileiro em 2010 e, hoje, 10 chineses produzem o equivalente a 14 brasileiros.
- É constrangedor falar de Coréia do Sul. Eles começaram produzindo metade de um brasileiro, empataram conosco na época que eu nasci (1976) e, hoje, um sul-coreano trabalha por 3,6 brasileiros.
Repito que tirei da comparação países como Alemanha, Estados Unidos, Japão... Um americano equivalia a 5 brasileiros em 1950 e essa relação continua, mas eles partiram de 24 mil dólares por empregado em 1950 e, hoje, estão em 71 mil dólares.
Achar um culpado é inútil e impossível
A agenda do país é ocupada pela busca de um CPF culpado – Lula, Temer, Parente, Neymar, Trump, Chico Buarque... Um olhar histórico mostra um país sempre medíocre em produtividade, andando na mediana de um grupo de países medianos, mas que ficou para trás no começo dos anos 80, quando a nossa produtividade congelou e os outros países começaram a reagir. Não vou explorar esse tema, só queria mostrar que essa disputa para achar o culpado é inútil. Estamos há 40 anos congelados.
O estado de inconsciência do brasileiro
Um grande entrave à nossa produtividade está nas crenças dos brasileiros. É verdade, sim, que o governo abafa o empreendedorismo, atrapalha todas as iniciativas e complica tudo da forma mais criativa possível, mas veja a lista dos países que botei no grupo comparativo... Governos também complicados, gordos, gastões e corruptos, mas muitos desses países viraram ou pelo menos melhoraram o jogo.
Recomendo fortemente um artigo da The Economist, escrito em 2014, sobre a improdutividade brasileira. O título do artigo é, “a soneca de 50 anos – trabalhadores brasileiros são gloriosamente improdutivos. Para o país crescer, precisam sair do seu estupor”.
Olhando o dicionário, estupor significa, estado de inconsciência profunda de origem orgânica, com desaparecimento da sensibilidade ao meio ambiente. O artigo cita um empresário estrangeiro que montou um restaurante em um festival de música no Brasil e, precisando de 10 funcionários para o festival, contratou 20. E só foram 10 mesmo. “No momento que você aterrissa no Brasil, começa a perder tempo”, diz esse empresário.
O brasileiro se acostumou com atrasos, filas, prazos não cumpridos e perdeu a consciência sobre a sua própria improdutividade. Semana passada, uma empresa me procurou com muita pressa em função de um serviço que precisa, e o diretor me escreveu, antes mesmo do colapso do combustível: “vamos marcar no meio de junho pois tem o feriado dia 31”.
Adiar por meio mês uma primeira conversa, que pode ser por telefone, por causa de um feriado na quinta-feira. Isso só é normal aqui, em que vivemos tanto isso que acabamos anestesiados. Quantos brasileiros já estão empolgados com uma possível emenda, da crise do petróleo para o feriado, em seguida a copa do mundo, as férias de julho, as eleições, o segundo turno, e aí o ano já acabou?
Somos improdutivos especialmente quando estamos no trabalho. De acordo com o estudo, o brasileiro trabalha, em média, 1715 horas ao ano, o que é comparável com Estados Unidos e bem acima das grandes economias europeias. Alemães, por exemplo, trabalham 20% menos HORAS, embora produzam mais do triplo de um brasileiro.
Resolver os problemas do país dando pequenos saltos na produtividade
Façamos aqui uma conta rápida. A crise dos combustíveis vai custar 10 a 12 bilhões de reais, e Brasília está em guerra para decidir quem vai pagar a conta. Como ela seria paga via produtividade?
Se a carga tributária é um terço do PIB, um aumento de R$ 35 bi no PIB daria essa arrecadação adicional. O estudo diz que o Brasil tem 106 milhões de brasileiros trabalhando, então se cada brasileiro trabalhador produzisse R$ 330 a mais por ANO, geraríamos a arrecadação adicional necessária para o governo desperdiçar à vontade.
Não se trata aqui de concordar ou mesmo perdoar a péssima e caríssima administração que o Brasil tem em todas as esferas, mas sim de pensar em formas mais pragmáticas e protagonistas de melhorar esse país. Em toda a América Latina, nossa produtividade só é melhor do que a da Bolívia, Jamaica e Da ilhota de Santa Lucia, que tem 160 mil habitantes.
Podemos sonhar em chegar ao patamar da... República Dominicana?
Não vamos falar de Alemanha, Inglaterra e nem mesmo Argentina. Será que um brasileiro poderia alcançar ao menos um dominicano, que equivale a um equatoriano, peruano ou guatemalteco?
Hoje essa diferença é de 1.300 dólares (que um dominicano produz a mais por ano que um brasileiro). Com 106 milhões de trabalhadores, nosso PIB cresceria 140 bilhões de dólares e o governo teria mais uns R$ 200 bilhões de arrecadação para jogar fora.
Como fazer para o brasileiro produzir o mesmo que um dominicano? O governo podia atrapalhar só um pouquinho a menos (exigir um papelzinho a menos das empresas, só um). As escolas, faculdades e áreas de treinamento das empresas podiam ajudar só um pouquinho (fazer os empregados se interessarem em folhear uma cartilha do SEBRAE de uma página sobre qualquer tema ligado à produtividade, já ajuda). E o cidadão podia melhorar sua postura em relação ao trabalho só um pouquinho. Imagine aquele cliente ligando às 17:58. Será que uma vez, só uma, daria para atender ao cliente e sacrificar 5 minutos, pelo bem da produtividade?
Pequenas coisas multiplicadas por 106 milhões de trabalhadores conseguem produzir resultados muito rápidos do que tentar arrumar nosso pântano político.
Founder & CEO at Poli Digital / Oficial Partner at Meta (BSP)
6 aUm tapa na cara moral a quem pinta a cara, manda mensagem em massa sobre paralização e falando que o gigante acordou, mas traz atestado do SUS, com virose pré feriado estendido e posta fotos em uma festa ...
COO at Poli Digital | Diretor de operações | Gestão Comercial e Formação de Equipes
6 aGenial!
Superintendente no Sicoob UniCentro Br
6 aParabéns pela análise. Não existe bala de prata salvadora.