Plano Safra para Restauração Ecológica: Uma Resposta às Tragédias Ambientais
À esqueda um pasto degradado e à direita um cerrado denso restaurado com o método da Floresta de sementes. Fotos: Paolo Sartorelli

Plano Safra para Restauração Ecológica: Uma Resposta às Tragédias Ambientais


Há algum tempo, venho refletindo sobre o motivo pelo qual a restauração de ecossistemas brasileiros não é uma atividade corriqueira que contribui para a economia de nossa nação, além da contribuição ecológica que essa iniciativa traria. Ao observar a tragédia no Rio Grande do Sul e outras que certamente ocorrerão no futuro, noto que a restauração de ecossistemas é sempre uma prioridade nos discursos de políticos e jornalistas, mas, tragédia após tragédia, não sai do discurso para a prática.

Para muitos profissionais, ONGs e institutos de pesquisa, um dos motivos é o custo da restauração, a falta de mão de obra e de insumos (sementes e mudas), políticas públicas, entre outros fatores. Considero isso um truísmo, pois sabemos há muito tempo que a restauração precisa de tudo isso. Parece-me que todas essas exigências recaem sobre a restauração, e que o mercado de restauração precisa estar perfeitamente organizado, com profissionais capacitados, viveiros e sementes disponíveis. Sem ter tudo isso, não se inicia a restauração em larga escala. Será mesmo?

Questiono-me se, quando a agricultura moderna começou, havia tecnologia e profissionais qualificados, mas muito aquém do que temos hoje. Ou seja, o custeio ou financiamento começou com a agricultura, evoluindo e melhorando a cada ano. Com certeza havia incertezas e carências na época. Mesmo assim, a agricultura prosperou.

Por que a restauração precisa estar perfeitamente organizada para iniciar suas atividades? Não podemos ter um plano safra com os insumos e tecnologia disponíveis? Com uma injeção financeira do Estado, essa engrenagem não poderia começar a girar, e com o dinheiro surgiriam viveiros modernos e uma rede maior de sementes? Até quando faremos mais diagnósticos de regiões, manuais de recuperação, estudos de custos e discursos bonitos, e, a cada tragédia, nada muda?

Contar apenas com recursos externos, que para leigos podem parecer uma grande fortuna, mas que são insignificantes para transformar o setor da restauração ecológica, é insuficiente. Não estou dizendo que a ajuda externa não é bem-vinda, mas ela é insuficiente. Portanto, se queremos mitigar as mudanças climáticas, é urgente que o Estado crie um plano safra para a restauração ecológica, com um valor inicial de 15 bilhões de reais, reajustado anualmente. Esse montante equivale à metade do que foi destinado ao plano safra da agricultura familiar. A oitava economia do mundo não dispõe de 15 bilhões para iniciar um plano safra de restauração ecológica?

Gráfico 1: Simulação da estimativa de invenstimentto em um plano safra da restauração ecológica


Não é razoável termos um gráfico assim de investimento anual na restauração ecológica para os próximos dez anos?

Gráfico 2: Área estimada em hectare/ano que poderia ter seu processo de rstauração iniciado.

Ressalto que não estou dizendo que o plano safra para a agricultura moderna e familiar não é necessário; são fundamentais para a economia. Além disso, auxiliam uma atividade cada vez mais arriscada devido às mudanças climáticas. Financiar o setor que vai restaurar ecossistemas degradados é tão importante quanto financiar aqueles que produzem alimentos diariamente. Os rios, as águas, os solos, o clima, a biodiversidade têm tanta importância para nossa sobrevivência quanto o alimento nosso de cada dia.

Portanto, se não aprendermos com as tragédias passadas e não criarmos um plano safra de restauração ecológica em caráter de urgência, provavelmente não haverá recursos para os planos safra da agricultura. Muito em breve, a agricultura sofrerá com a falta de restauração dos ecossistemas, que foram a base da agricultura mais pujante do mundo. Resta saber até quando será pujante.

Sei que meu singelo artigo pode parecer uma simplificação grosseira desse problema, mas meu intuito é provocar quem está lendo a refletir sobre essa necessidade emergencial. Que é para ontem.

É urgente um plano safra de restauração ecológica. Urgente.

Cito os representantes do estado, respeitosamente, Sr. Presidente, Luiz Inácio Lula da Silva e a ministra do meio ambiente Sra. Marina Silva a pensarem na minha reflexão.

Paolo Sartorelli, engenheiro florestal na Baobá Florestal



André Perbone

REPRESENTANTE TÉCNICO-COMERCIAL na Chem-Aqua, Inc.

6 m

Eu acredito que uma atitude como essa proposta pelo Paolo ajudaria muito, pois estamos perdendo a batalha contra as mudanças climáticas. Não adianta participarmos das COP, colocarmos metas e objetivos para médio e longo prazo, mas não termos uma política de incentivo. O correto seria deixar quem desmatou se virar e restaurar, mas todos sabemos que na prática isso jamais acontecerá.

Daniela Doms

Pesquisadora: Agricultura, Economia e Meio Ambiente

7 m

Excelente proposta, Paolo!! Apoiadíssimo!!

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