População Negra e as Ações do Magazine Luiza, discriminação positiva.
Estamos em um momento complicado no mundo, não bastasse uma crise sanitária causada pela Covid19, temos uma crise política e econômica advinda desse momento pandêmico no primeiro quinto do século XXI.
Estamos diante do que a ONU chamou de Década Internacional de Afrodescendentes, de 2015/2024.Com as crescentes manifestações de racismo no mundo todo, personalidades se uniram à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) em um vídeo para a campanha Unidos Contra o Racismo. No Brasil, não seria diferente, pois é preciso voltar no tempo e tentar compreender o que foi feito após a libertação dos africanos escravizados, na verdade, dos ascendentes desses africanos, já que foram séculos nesse período tenebroso.
Passado todo esse período de lutas, conquistas por espaços, sofrimento, subjugação, chegamos no ano de 2021 ainda falando sobre racismo, sobre discriminação, algo tão recorrente, o que não deveria. Qual é a dificuldade do homem, seja ela branco (caucasiano), amarelo, seja como for, em não aceitar o homem preto? Que padrão, que positivação foi essa que atesta que um está acima do outro? Quem foi o responsável por incutir, por diminuir a África a serviço da Europa? São construções sociais de um povo desenvolvido, ou do velho continente, chegando a um novo continente com suas tradições, seus nativos, suas tribos, que logo chamaram de bárbaros, que é um termo utilizado para se referir a uma pessoa tida como não-civilizada, mas sabemos que eles conseguiram entrar, pegar o povo e levar para suas colônias.
Voltando ao presente, há uma recente discussão acerca das ações afirmativas, políticas públicas, políticas privadas, para reparação de tudo que o povo africano sofreu e os problemas advindos dessa escravização para seus ascendentes, que até hoje enfrentam as marcas por onde passam, onde habitam, independentemente da sua posição, pois encontram dificuldades até mesmo para ascensão profissional, sobretudo, ascensão via escola.
Magazine Luiza foi a bola da vez com uma campanha para Trainees Negros, público alvo da campanha visando essa correção do gap existente entre as posições de liderança nas empresas, após verificarem que seu quadro atual de liderança figura em cerca de 16% (dezesseis por cento), e com essa ação, visam um quadro mais paritário, ou seja, 50%(cinquenta por cento).
E a reação da população brasileira, sobretudo de outras empresas, digo, de representantes de outras empresas em protestos, dizendo que essa é uma ação discriminatória, foi o ponto chave deste momento, pois demonstra que eles desconhecem não só as políticas públicas para promoção da equidade do povo negro, assim como os dispositivos que permitem essa diferenciação nessas ações privadas para diminuição da desigualdade entre pretos e brancos que são autorizadas por lei.
As pessoas se tornam ferozes, elas não aceitam, deixam vir sua "irracionalidade" quando o assunto é: " reparação do passado, reparação com o povo negro". Não se trata somente de melhorar a educação no país, pois isso só não basta, tão certo disso, existem cotas (ações afirmativas) para estudantes pretos, pardos, indígenas, deficientes, escola pública etc. porque o próprio governo tem ciência da sua atuação deficitária no ensino básico. Mas não basta melhorar a educação, já que mesmo com educação, ao ir para o mercado de trabalho, os negros enfrentam outras faces do racismo, um exemplo é o racismo institucional, que fica enraizado a partir do estrutural, ou seja, em uma instituição, negros não são aceitos por conta do cabelo, por não serem padrão, por não atenderem à demanda da clientela, por não terem inglês etc., ou seja, eles são vitimas de vieses inconscientes das pessoas que os contratam que já possuem consigo impressões acerca dessa população.
As empresas se atentaram a isso e começaram a promover as ações afirmativas a partir dos comitês de diversidade e inclusão, existe uma certa resistência por parte de muitos, pois as pessoas não estão acostumadas a verem os negros em posições de prestígio, já que é uma população culturalmente fora desses espaços, fora da escola e, consequentemente, em posições de subserviência, sempre servindo, sempre limpando, sempre nos bastidores. Isso mudou, e a mentalidade do povo precisa mudar também. Existe uma geração de negros mais empoderados, que foram mais preparados, que vieram embasados, que estão cientes qual o lugar deles por direito nesse país construído com suor africano. O país é dos índios, mas até deles os europeus fizeram um apagamento, como fazem em todo lugar que pisam. Assim o foi com a população africana que foi escravizada e após a suposta libertação ficou à margem, daí o termo marginalizado.
Bem, como o título sugere, nessa pandemia, quem mais sofreu foram os negros, muitos estão desempregados, quer dizer, a maioria, e enfrentam diariamente inúmeras cenas de racismo, que estão vindo a público graças ao advento da tecnologia, antes ficaria velado, mas os racistas que existem entre nós não mais têm medo, eles estão descaradamente desferindo suas impressões acerca desse povo sem nenhum receio. Por isso, o empoderamento dessa comunidade é mais que preciso e a aceitação da ancestralidade que temos é o melhor caminho.
Saber que, embora estejamos nesta sociedade, não somos bem-vindos em muitos lugares e, por isso, é preciso permanecer com a cabeça firme, pois assim é há anos, e por isso muitos lutaram por nossos direitos civis, vide casos internacionais nos EUA, Martim Luther King, Malcom X, Rosa Parks, seja no Brasil, com Zumbi, Dandara dos Palmares, assim como Luiz Gama - que foi proibido de estudar na Faculdade de Direito do Largo São Francisco - USP, da qual atualmente sou estudante, pelo simples fato dele ser negro-, Abdias do Nascimento e inúmeros outros estudiosos do assunto, continuam na luta por uma sociedade mais igualitária, ou em busca da equidade que era necessária desde o fim da escravidão.
Sendo assim, a ação da empresa Magazine Luiza é mais que necessária para enfrentamento de todas as mazelas que o povo negro continua sendo exposto por todos os lados da nossa sociedade, em todos os setores, em todas as instâncias, vide o número exacerbado de presidiários, maioria população preta/parda. Não é segredo que existem milhões de negros que sofrem preconceito diariamente, injúrias etc., assim como outros sofrem com insultos que provêm em forma de miséria, desnutrição, falta de oportunidades no acesso à educação, emprego, saúde, ficando à margem cada vez mais da sociedade, perpetuando a miséria a qual foram submetidos séculos atrás.
A discriminação positiva se manifesta no Brasil por meio das ações afirmativas que conhecemos como uma opção para promoção social com o objetivo de corrigir as desigualdades econômicas, sociais e culturais. São políticas positivas pautadas na interpretação substantiva do princípio da igualdade visando e a promoção de grupos minoritários, redistribuindo os bens sociais, incluindo pessoas que estão em situação desfavorável. Tudo se justifica pelo contexto histórico-racial e na estigmatização desse grupo ao longo dos séculos.
Portanto, o Estatuto da Igualdade Racial menciona a adoção de medidas para garantir à população negra a efetividade da igualdade de oportunidade, o combate à discriminação e outras formas de intolerância, assim como políticas públicas voltadas para a inclusão da população negra no mercado de trabalho (art. 38 e seguintes da Lei 12.288/10).
Não só a empresa Magazine Luiza, assim como muitas outras, tal como Bayer do Brasil estão neste momento se engajando para equiparação dessa posição no enfrentamento à desigualdade, e sendo assim, figura um gesto que visa a inclusão dessa população, tendo por objetivo disseminar a diversidade racial nos setores de liderança e, com isso, possibilitando a equidade, para o alcance das oportunidades, bem como enfrentando todas as formas de discriminação.
É fato que estamos caminhando para um país diferente, talvez muitos não tenham aprendido ao longo desses séculos, mas agora estamos caminhando rumo a um futuro promissor para a população negra, e mais que não ser racista, é preciso que todos tenham uma postura antirracista, e foi essa postura que a empresa Magazine Luiza adotou, independentemente dos vieses envolvidos, estão promovendo a mudança e muitas outras estão acompanhando. Logo, não reclamem, pois as vagas continuam para a população branca, que sempre as teve, em todos os processos, e em alguns casos, foram beneficiadas por elas e não perceberam, pois já estavam acostumadas com o privilégio.