Por decisão ou por inércia: como você está avançando sua carreira?
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Por decisão ou por inércia: como você está avançando sua carreira?

Vira e mexe ouço gente muito bem sucedida, com salário bem bacana, que trabalha em empresa legal, e de repente quer tomar um café comigo porque está profundamente infeliz e não sabe o que fazer (antes do café chegar na mesa eu já aviso que eu também não sei e se soubesse estaria trilionária, mas voltando ao papo). Nem eu nem nenhum guru do Nepal ou de Harvard podemos te dizer o que fazer da sua vida, com garantia de sucesso e felicidade. Por exemplo, quem pode decidir se é melhor ter dinheiro, conforto e segurança acompanhado de frustração, ou se é melhor viver apertado de grana mas mais relaxado? Só você, meu caro. E pode ser que em momentos diferentes você decida coisas diferentes, então nem você vai ter certeza absoluta pra sempre (eu sei, pouco reconfortante, não?), mas só sei que é assim. Tudo que vejo e vivencio me reforça a certeza de que é assim. Eu já escrevi sobre isso (Você pode ler o outro texto aqui), sobre esse desconforto que a dúvida sobre as próprias decisões de carreira nos traz, mas esse tema parece estar tão frequente nessa nossa era de perpétuos questionamentos que resolvi contar aqui uma história, e tentar refletir sobre o assunto por outro ângulo.

Um dia o meu melhor amigo me ligou e me disse que tinha empacado, congelado, estava sem energia pra nada, sem direção, sem vontade, stuck. Primeiro eu fiquei muito impressionada com a certeza absoluta que ele tinha quando me contou que sua vida tinha parado de repente e ele não tinha como sair do lugar. Eu sempre fui muito fã desse amigo, inteligente pra caramba, gente boa, suuuuuper estudioso (característica que admiro em todas as pessoas e que eu mesma, confesso, tenho pouca), além de ser bonito com uma esposa linda e filhos fofos. E aí eu me vejo ao telefone com um cara que eu admiro horrores, me pedindo ajuda porque todo o potencial que eu sempre falei que ele tinha havia sumido. Ele estava empregado, trabalhando, mas prostrado no sofá, com o cérebro encolhendo e ciente disso, meu amigo brilhante estava sofrendo, e me ligou porque deve ter achado que eu poderia ajudá-lo. Com 20 anos de RH, um diploma de psicologia e um cargo de diretora em multinacional, eu deveria saber o que fazer afinal. Ave Maria, como me senti insegura naquele momento! Não tem currículo que te prepare para colocar o dedo na ferida de quem a gente ama sem uma ponta de medo de fazer bobagem ou piorar tudo. Falar sobre carreira é falar sobre a vida, decisões de carreira são decisões de vida, e é uma baita responsabilidade quando alguém te pede ajuda, a gente tem que levar isso muito a sério, ainda mais quando se trata de uma pessoa que você admira. Então, confiando na força da amizade que a gente construiu, fiz o que achei que devia fazer naquele dia: respirei fundo e dei-lhe uma bronca. Um sermão mesmo, o bom e velho sacode. Lembrei de todas as realizações profissionais dele que eu tinha testemunhado, de todos os desafios que ele já tinha superado na vida, e de como todo mundo que o conhecia o admirava. Contei de todas as vezes em que eu morri de medo da vida e como ele tinha me ajudado, e que ele não podia deixar o cérebro dele na geladeira, desistir de buscar desafios e jogar a toalha assim tão jovem. (Atenção! Não tente isso em casa! Essa manobra foi feita por profissional treinado e em condições controladas!). Hoje eu acho que ele esperava justamente isso de mim: o tranco para voltar ao movimento, precisava desabafar para então se reorganizar e seguir. Fiquei de ligar no dia seguinte no mesmo horário para montarmos uma estratégia e assim fizemos. Passei a ligar todas as semanas, religiosamente no mesmo dia e mesmo horário, sempre com uma lista de tarefas que ele cumpria relutante, reclamão e esperançoso. Repassamos tudo: autoconhecimento, resgate de valores, sonhos, decisões, investimentos, paixões. Fiquei feliz de poder ajudar como catalizadora, batendo o bumbo. Eu puxava, mas o trabalho pesado era dele. Aos poucos meu amigo foi se lembrando do que ele gostava de fazer, realmente gostava de fazer, e começou a construir um plano para viabilizar a próxima etapa profissional dele (que não tinha NADA a ver com o que ele vinha fazendo nos últimos anos). Enfim, ele não "descobriu" as coisas que ele gostava, ele se lembrou delas.

Meu amigo se recompôs, se reconectou, e com o apoio da sensacional esposa (essas coisas não se faz sozinho) voltou a estudar, se aprofundou nas teorias dos assuntos que ele gosta, escreveu capítulo em livro importante, foi elogiado em Harvard (essa mesmo) onde está estudando, e está feliz. Ele ainda é novo e quando ficar velho vai ter construído uma linda carreira na área acadêmica que é o que ele gosta e faz bem, além de um ou outro pitaco que ele dá como consultor. De vez em quando trocamos figurinhas sobre projetos, teorias e práticas, sempre aprendo com ele.

Às vezes a gente quer mudar mas não consegue nem se mexer. Aí minha gente, o mais sensato a se fazer é pedir ajuda. É colocar o orgulho de lado um pouquinho, levantar a mão e falar “oi, não tô legal, não tô bem, tá difícil”. Quando a mudança está latente, mais desafiador do que lidar com a incerteza é lidar com o orgulho, com a cabeça-dura, com o não descer do salto. Esse amigo trabalhava numa empresa conhecida e rica, com várias oportunidades de aprender e se exibir. E ele paralisou. Vi muitos amigos/ executivos nessa situação, nesse dilema, quando chega um momento crucial ficam sem saber se querem mesmo meter o pé no acelerador da carreira e se jogar de cabeça. Alguns têm a lucidez de fazer um balanço antes, alguns aceleram em outra direção, outros decidem não arriscar.

Se você está desconfortável onde está mas não sabe pra onde ir, converse com alguém que você admire, peça ajuda, pense junto. Não tenha medo não. Reflexões profundas sobre si mesmo não necessariamente são uma viagem sem volta, muito pelo contrário! Tantas e tantas vezes a gente faz o balanço só pra validar o caminho em que já estamos (só que mais confiantes) e seguirmos em frente.

Meu amigo continua com várias questões, como deve ser a vida adulta. Dinheiro, tempo, direção, as dúvidas de sempre. Mas ele está em paz com a decisão que tomou, está indo bem e criando uma bela reputação na área em que atua. Eu acho (pura especulação), que um dia ele vai ser professor de Harvard e eu vou poder me exibir por ser amiga de um professor de Harvard (vocês não sabem mas eu sou uma deslumbrada com certas coisas).

Quanto a mim, eu quero participar de várias histórias como essa. Eu quero que as pessoas reflitam, questionem, e mudem (ou não), e sigam com suas vidas pra onde elas querem que a vida siga. Eu quero testemunhar caminhadas que avançaram por decisão e não por inércia.

Essa foi a história do meu melhor amigo. Espero que te inspire a refletir.

E você aí? Está avançando por decisão ou por inércia?

Elaine Miranda

Gerente de RH | Diretora de RH | Head de RH | Psicóloga | Consultora de Carreira & Recolocação | Especialista em Transição de Carreiras | Coaching | Job Hunter | Consultora em Treinamento e Desenvolvimento

1 a

Inspirador, Adriana! Adorei o texto!

Rosangela Fritscher Santos

Head de Desenvolvimento de Software

7 a

Muito bom seu artigo Adriana ! Eu acho que todos nós precisamos fazer um "balanço" de tempo em tempo para não nos arrependermos de coisas que não fizemos ! E pedir ajuda a um amigo, aquele que fale o que tem que ser falado, ou a um profissional, é um bom conselho !

Maria de Fátima Albuquerque

Consultora em Desenvolvimento Institucional

7 a

Muito bom. Passei por isso. Precisei descobrir onde ficava minha alma e encostar meu trabalho nela. Deu muito certo. Auto conhecimento, saber com segurança a que tribo você pertence... isso ajuda. Bjo Adriana, sou sua fã!

Arlene Santos

Gestão em Administração de Vendas | ADV | Adm de Vendas | Administrativo de Vendas | Planejamento Comercial | Excelência Comercial | Atendimento ao cliente

7 a

que legal este artigo Adriana, parabéns ! ... me lembrei muito das nossas conversas... bjs saudades

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