Por lideranças mais autênticas
Depois de cinco anos à frente da Nexo, e de conduzir mais de 500 entrevistas com líderes da alta gestão de empresas, elaborei algumas ideias que compartilho aqui com vocês.
Ao me debruçar sobre a realidade das organizações de dentro e de fora do Brasil, identifiquei uma profunda crise de liderança. Conversei com pessoas dos mais diversos níveis hierárquicos para entender sua visão sobre a alta gestão, e notei que alguns nomes se destacavam e ecoavam para além das baias e salas de reuniões - eram homens e mulheres tidos como inspiração e referências de liderança.
Quando conheci essas pessoas, percebi que todas tinham traços em comum: eram indivíduos extremamente autênticos, com identidades e propósitos fortes, com valores sólidos e coerência nas suas atitudes. O seu drive motivacional não eram apenas os resultados do fim do trimestre, mas sim o desenvolvimento de seus times.
O problema é que de um universo de mais de 500 líderes, eu identifiquei 9 com características como as que acabei de mencionar. Apenas 9…
Isso me deixou intrigada (e bem preocupada, confesso) - afinal, eu estava diante de organizações incríveis, que têm um alto impacto na realidade socioeconômica de seus países, mas que não fomentam lideranças autênticas.
Algo me dizia que o problema não estava nas pessoas, mas sim na forma com a qual o tema de liderança era tratado. Talvez isso se explique no fato de a grande maioria das organizações ainda reduzir essa habilidade a pequenas caixas – servil; diretiva; autoritária; inspiradora; colaborativa; e por aí vai, – como se cada líder tivesse um perfil estanque para toda e qualquer situação.
Entendemos, então, aqui na Nexo, a urgência de ressignificar o tema “liderança” e a de olhá-la de novas perspectivas. Em meio às nossas pesquisas, nos deparamos com o conceito que mais representa o nosso jeito de pensar: o de leadership signature, da Deborah Ancona, professora e pesquisadora norte-americana, e fundadora do MIT Leadership Center.
Ancona fez parte de uma vivência pessoal, quando participei de um programa no MIT em 2019. Foi nessa ocasião que pude acompanhar bem de perto o seu trabalho, absorvendo conhecimento e trocando experiências sobre o tema.
A partir de uma abordagem fenomenológica - que une teoria e prática - a pesquisadora chegou à conclusão de que, assim como cada um de nós possui impressões digitais únicas, ou como assinamos o nosso nome de maneira própria, cada pessoa também tem um jeito de liderar.
Não há certo ou errado quando o assunto é exercer a liderança. Liderar é um ato pessoal.
A melhor maneira de você liderar é a partir de quem você é - o que significa descobrir, por meio das suas experiências, personalidade, fraquezas, pontos fortes, de onde se sente mais confortável liderando.
O processo de descoberta, claro, não é simples: é necessária uma investigação profunda e contínua – não só individual, mas também coletiva – de como as pessoas se sentem quando estão ao seu lado em um projeto; ou porque você tomou as decisões que tomou em determinada situação.
Porque ter atitudes diferentes em contextos diferentes é completamente normal. Há circunstâncias que pedem uma atitude mais direcionadora, assertiva; há outras em que a atitude ideal é a colaborativa, por exemplo.
Liderança não é sobre aprisionar. É o contrário: sobre libertar.
É sobre encontrar um alinhamento entre quem você é e o que o seu time precisa, dado o contexto.
Sob as lentes da Nexo, entendemos que leadership signature é, portanto, a maneira como “assinamos” a nossa liderança - uma mistura dos valores que nos movem, com as atitudes que a situação pede e com as necessidades das pessoas ao nosso redor.
É exatamente isso que fez os 9 dos 500 e tantos líderes saltarem aos olhos de suas equipes. Nesse pequeno universo de pessoas, todas tinham uma enorme habilidade de transparecer sua identidade e seus valores para os seus times, fazendo com que eles se conectassem às suas decisões e posturas.
Mais do que adotar perfis estanques de lideranças, esses homens e mulheres tinham uma capacidade sem igual de desenvolver pessoas e desenvolver-se junto com elas. Havia autenticidade no seu jeito de agir e ser – e isso era definitivo para que os times criassem um vínculo de confiança muito forte com cada líder.
Com a esperança de que esse número aumente cada dia mais, podemos começar a nos desenvolver como líderes desde já. Um bom ponto de partida são perguntas como essas:
- quais pessoas e experiências tiveram o maior impacto no início da sua vida?
- quais são as ferramentas que você usa para exercitar a autoconsciência?
- quais são as suas motivações extrínsecas e intrínsecas?
- qual é o seu “eu autêntico”?
Perguntas e reflexões simples podem ser absolutamente transformadoras para termos mais autoconsciência acerca da nossa leadership signature.
Mas, acredite: é uma jornada que não termina - é um constante processo de autoconhecimento e aprendizado.
Sociólogo. Inteligência Natural. Sustentabilidade. Mestrando em Meio Ambiente. Consultor e Palestrante
3 aEm sociologia compreendi que liderança é um ato pessoal e um fato social. Assim como existe uma identidade cultural, há uma identidade para liderar. Ótimo texto, adorei 😊
Strategy Director | Growth Leader
3 aMuito bom!