Por que é tão difícil dizer o que queremos?

Por que é tão difícil dizer o que queremos?

Não sou especialista em comunicação, apesar de gostar muito do tema. Talvez seja apenas uma entusiasta tentando aprender a complexidade dos processos de comunicação e sua influência nas relações humanas, mas fico realmente fascinada pelo tema.

Dentro da minha atuação vejo o tempo todo processos de comunicação acontecerem, de forma positiva (com clareza, organização das ideias, redução de ruídos e dinâmica de tempo entre pergunta e resposta adequados), mas vejo ainda mais, os que mesmo com a melhor das intenções, apresentam resultados totalmente desastrosos.

Não é novidade que a comunicação não verbal é mais importante e poderosa na comunicação do que a verbal e em tempos digitais torna-se um grande desafio utilizá-la a favor do bom processo de comunicação.

Essas interações que não trazem bons resultados costumam ter alguns pontos em comum:

1.       Falta da escuta ativa – Pessoas ouvindo para responder e não para entender, ou seja, enquanto o outro fala já se inicia o processo de achar uma resposta, que em sua maioria está no campo da “defesa” ao invés de compreender profundamente antes de responder.

2.       Falta de clareza no pedido – A famosa “entrelinhas”, utilizar metáforas, ou frases prontas, esperando que o outro perceba o que está sendo dito.

3.       Falta de estado de presença – Conversa com alguém lendo mensagem no celular, ou olhando na tela do computador, ou ouvindo um áudio. É um ruído gigante que atrapalha demais o entendimento da mensagem, além de perder totalmente a capacidade de utilização da comunicação não verbal.

4.       Arrogância – Sabe aquele ser “palestrinha” que sabe de tudo? Sempre interrompe o outro para contar algo que já fez, sempre tem uma história com mensagem moral ao final de cada história. Esse comportamento mina qualquer possibilidade de construção de confiança e afasta o interlocutor.

5.       Áudios de Whats app na velocidade 5 – Até parece a música do Créu (aff). A cada dia aumenta mais a velocidade dos áudios. Não se pode perder 3 segundos a mais para tentar compreender a entonação da voz, as pausas, a ênfase em uma ou outra palavra, pontos estes que ajudam muito na correta interpretação da mensagem

Claro que existem muitos outros fatores, poderíamos ficar páginas e páginas discorrendo sobre isso, mas o que mais me intriga além destes fatores é o porquê temos tanta dificuldade em dizer o que queremos, dizer nossas necessidades em claro e bom tom.

Sempre esperamos que o outro entenda nossas mensagens e nossas dicas, mas sem deixá-las clara. Porque não conseguimos dizer aos nossos parceiros: - Gostaria de ganhar flores no dia dos namorados, ou ao nosso time – Gostaria que você enviasse uma proposta ao cliente contendo as informações X,Y ou Z?

Ao invés disso dizemos ao nosso parceiro: Não precisa de presente de Dia dos Namorados, e ficamos torcendo para ganhar flores. Dizemos ao time: Pode fazer a proposta como você achar melhor, e depois o criticamos porque não colocou a informação X, Y ou Z na proposta.

Nesse momento começa o ciclo de frustrações. Você não ganha flores, ganha bombons, mas está tentando perder uns quilos e fica frustrada e brava com seu companheiro pois concluí que não te incentiva na perda de peso. E o que era para ser uma data de conexão entre vocês, vira uma gota a mais no copo da frustração.

O mesmo acontece nas empresas. Gestor não diz claramente o que precisa em um projeto, o funcionário faz o que entendeu e depois da entrega é preciso refazer infinitas versões de revisões para chegar no ponto que o gestor esperava.

Começa-se o ciclo da improdutividade! Diversas reuniões para ajuste de material, retrabalho, expectativas não atendidas, julgamento. E lá se vai o bom clima, a relação de confiança gestor-funcionário e tantas outras coisas. Mais uma gota do copo da demissão.

Minha conclusão, (e não verdade absoluta) é que esse processo gera uma grande incongruência pois fomos tão ensinados a ser aceito pelo outro, a buscar a aprovação do outro em qualquer situação, a não chatear o outro, que deixamos de lado as nossas necessidades para não magoar ou frustrar o outro. No entanto, quando colocamos nossas necessidades de lado, a consequência é justamente chateação e frustração ao outro! Então o modo como nos comunicamos nos levam diretamente ao que buscamos evitar! Louco isso ne?

Qual o caminho então? Penso que o autoconhecimento, o tempo de olhar para você e buscar esclarecer a você mesmo o que você quer dizer ao outro antes de realmente dizer, porque você quer dizer ao outro e qual necessidade você está buscando atender quando diz isso ao outro é o caminho.

Não inventei isso, a CNV fala disso há muitos anos, e sabemos o quão difícil é praticá-la. Mas é preciso começar, é preciso dar o primeiro passo para uma comunicação mais profunda, mais real e mais conectada com os sentimentos dos interlocutores, caso contrário, continuaremos ouvindo áudios acelerados, ouvindo para responder, magoando as pessoas, aumentando as gotas no copo da frustração e nos sentir cada vez mais sozinhos.

Pequenas ações, pequenos momentos, aqueles 2 segundos de respiro antes de responder impetuosamente certamente fará grande diferença no processo de comunicação. Te convido a tenta, te convido a sua próxima interação, pensar antes de responder: O que eu realmente quero dizer? Qual a mensagem verdadeira que quero compartilhar com essa pessoa? E aí então, dizer, com todas as palavras, gentilmente, sua necessidade.

Depois, me conta como foi!

Atila Real

Gerente Comercial | Inside Sales | HighTicket | B2B & B2C | Marketing Digital | Estratégia Comercial | Gestão de Equipes | Liderança

6 m

Comunicação é o que o outro entende, e não o que você fala. Essa frase é atribuída a um monte de gente. Confesso que não sei o autor original. Mas compatilho desse conceito. Levando isso em conta, fica mais fácil se comunicar de forma assertiva. Belo artigo. Parabéns.

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