POR QUE ALGUMAS PESSOAS ATRAEM CAFAJESTES?
Tenho passado algumas décadas observando pessoas, hábitos e comportamentos. Desde criança tenho facilidade em perfilar comportamentos – não pessoas, preciso salientar – e considero um dom que tem possibilitado ajudar muitas pessoas de diversas idades ao longo da vida.
Sempre me perguntei porque algumas pessoas pareciam atrair outras cujos comportamentos lhes faziam mal, traziam dano e sofrimento. Em minha lógica simples, nunca entendi essa atração, aparentemente involuntária e indesejada. Especialmente por serem pessoas de bem, simples, indivíduos dos quais vale a pena se aproximar.
Para que o texto seja didático e proveitoso, vamos ver o significado de cafajeste?
· Pessoa a quem não se empresta importância;
· Indivíduo sem refinamento no trato social, atrevido e provocador.
Sempre me senti incomodado com o sofrimento de pessoas que pareciam alvos fáceis para este tipo de comportamento, danoso e gerador de sofrimento.
O objetivo desse texto é contribuir com pessoas que já sofreram desse mal e ainda sofrem, mas também evitar que qualquer de nós se comporte como tal. Ninguém está livre de sucumbir à tentação de reagir contra situações e comportamentos, “rebaixando” seu próprio nível para tentar responder à altura.
Fato é que ninguém tem o poder de mudar nosso comportamento, a não ser nós mesmos. Quando decidimos descer ao nível do outro, a decisão é só nossa. Não adianta colocar a culpa de nossos comportamentos reativos em outras pessoas.
Bem, a teoria é simples, mas a prática carece de uma explicação que encontrei ao longo da vida.
Relacionamentos são baseados na comunicação e na maneira como as mensagens são enviadas. Descobri que algumas pessoas se utilizam de artifícios de comunicação para tentar gerar relacionamentos. Claro, considerando a complexidade do ser humano e a diversidade de ideias, modos de vida e experiências vividas – ou sofridas – durante nossa existência, alguns artifícios podem ser válidos.
Entretanto, encontrei algo comum entre pessoas que pareciam atrair cafajestes. Vale esclarecer: não se trata de gênero, classe social ou idade. Homens e mulheres parecem sofrer desse mal com muita frequência.
Observei que estas pessoas, seja por dificuldade de se expressar, por medo de sofrer de novo ou por falta de confiança em seu conhecimento sobre o outro, descobriram que é possível “jogar” com o outro.
Já escrevi que jogos no mundo corporativo me atraem e considero valiosos para crescimento, fechamento de negócios, desenvolvimento humano e muitas outras aplicações.
Jogos como diversão nos permitem experimentar sensações diferentes, ousadas e novas. Acho o máximo.
Mas relacionamentos sadios são fundamentados na confiança. Pode levar anos para construir uma relação de confiança, e bastam alguns segundos para destruir toda essa relação.
Jogos são, basicamente, uma aplicação de estratégia e tática, necessariamente omitindo informações relevantes e, em alguns momentos, fornecendo informações distorcidas para confundir o adversário.
Tudo isto, no cenário de diversão ou de concorrência, faz parte do jogo e todos conhecem as regras. Os concorrentes entram no jogo dos negócios tentando conhecer seus oponentes e sabendo que podem receber informações distorcidas, objetivando confundir.
Usei há pouco uma palavra chave que nunca deve existir em relacionamentos: adversário. Infelizmente, por motivos diversos e pessoais, algumas pessoas tratam outros com quem pretendem se relacionar como adversários. Claro, só confiamos em pessoas que conhecemos, não há mal nenhum em esperar para se abrir. Essa prática é saudável para ambos.
Mas, como analogia, se você semear sementes de alfafa, jamais colherá uvas, maçãs ou trigo. Com seus relacionamentos acontece a mesma coisa. Se você semear sementes de alfafa, além da expectativa de só colher a mesma alfafa, quem você pensa que irá atrair?
Exatamente: animais (falo no sentido pejorativo de comportamento, como figura de linguagem) sem habilidades de comunicação e com hábitos naturalmente grosseiros, mesmo em tentativas de demonstrar carinho.
Quando a “arte” de jogar com pessoas dá algum resultado e cria dependência, torna-se o principal meio de comunicação dessas pessoas, iniciando-se um ciclo perigoso de atração cada vez maior, trazendo uma sensação de atenção, carinho (bem ao modo cafajeste) e pode culminar com uma sensação mais perigosa: você pode pensar que está ajudando alguém com problemas, passa a se sentir bem por isso e achar que está contribuindo para o bem daquela pessoa. Mas por dentro você morre um pouco a cada dia. E o cafajeste continuará sendo cafajeste.
Pessoas que se doam exageradamente em relacionamentos, sem receber contrapartidas tais como gratidão, doação, atenção, carinho e amor são como poços de água que não recebem chuva. Uma hora irão secar.
Como já disse anteriormente, somente você pode mudar isso. A responsabilidade de decidir é só sua.
É difícil confiar nas pessoas? Não!
É seguro? Também não!
Mas lembre-se que o outro também precisa confiar em você. O risco é mútuo. Relacionamentos saudáveis são caracterizados pelo ganha-ganha. Se alguém procura ganhar trazendo perdas e prejuízos ao outro, não é relacionamento que procura, mas satisfação pessoal temporária e perigosa.
Como saber se eu estou jogando com as pessoas? Voltemos à definição de jogos: uma situação onde cada jogador (adversário) esconde seu jogo, informações sobre si, suas estratégias e táticas, fornecendo informações desencontradas e distorcidas objetivando confundir o outro.
Existem aspectos de sua personalidade que você não se sente seguro em expor em alguns momentos? Não o faça! Mas não minta, nem forneça informações distorcidas.
Não sente segurança em demonstrar sentimentos, expor opiniões ou comportamentos que podem ser mal interpretados? Espere! Busque conhecer o outro, mas não se esqueça que a semente da confiança precisa ser regada com honestidade, sinceridade e transparência.
Claro que existe o risco de, mesmo mudando de atitude, ainda atrair um ou outro cafajeste esporadicamente. Ninguém está totalmente livre disso. Mas você irá atrair muitas outras pessoas que, como você, querem se relacionar, não apenas tirar proveito do outro.
Então ficará fácil identificar o cafajeste. Mas a decisão de alimentá-lo ou não continuará sendo sua.
Davis Bernardino