Por que Bolsonaro é o novo Presidente do Brasil

Por que Bolsonaro é o novo Presidente do Brasil

UM POST APARTIDÁRIO

Essa é fácil: porque o deputado Jair Messias Bolsonaro foi o único candidato a entender o novo eleitor brasileiro. Não é pouca coisa. Vamos elaborar sobre isso.

Assim como em 1989, tivemos um segundo turno disputado por candidatos com biografias e propostas radicalmente diferentes. A situação econômica, hoje como lá atrás, é caótica. Se hoje vivemos uma interminável recessão, o drama de então era a hiperinflação.

A corrupção, que era enorme, cresceu exponencialmente.

No entanto, o pleito de 2018 ficará marcado mesmo pelo surgimento de um pensamento genuinamente de direita no país – com direito a ter até um ideólogo na figura de Olavo de Carvalho. Os mais novos terão dificuldade de entender a minha surpresa. Explico.

Após 20 anos de governos militares de direita, não ser de esquerda era motivo de exorcismo político. Se você não fosse de esquerda você era considerado uma pessoa má. Acreditem, para o PT até FHC era fascista, reacionário, inimigo dos pobres e tudo mais.

Após os conturbados governos Sarney e Collor, tivemos 8 anos de governo do PSDB e mais 14 de PT, ou seja, 22 anos de socialdemocracia. Disclaimer: o PT não é um partido socialdemocrata, mas se viu forçado a governar desta forma “light”.

A democracia brasileira repaginada, pós regime militar, parecia fadada a ter um perfil de centro-esquerda, repetitivo e insosso. Isso significava a reprodução de acordos políticos espúrios em nome da governabilidade, um maior grau de atenção para com os mais necessitados e a manutenção de um capitalismo fortemente dependente do Estado.

Estado este com forte perfil intervencionista, bem ao gosto de uma sociedade que nunca reclamou da tutela imposta por seus governantes.

Acostumados a pensar desta forma, candidatos de perfil socialdemocrata – como Alckmin, Ciro, Marina, Álvaro e até Meirelles – não inovaram no discurso. Todos eram contrários às aberrações cometidas pelos últimos governos, mas suas críticas vieram com a pegada sem-sal de sempre.

O FATOR PT

Graças aos seus erros de proporções bíblicas, o PT fecundou, gerou e pariu um antagonista à sua altura na figura de Jair Bolsonaro. Mas antes vamos entender como isso se deu.

Após surfar a onda de uma economia global altamente benevolente para com países exportadores de commodities, Lula deixou-se inebriar pelo poder.

Com uma aprovação assombrosa, o ex-presidente e atual presidiário se via como um monarca absolutista. “Eu sou o Estado”, devia pensar Lula. Achando-se acima do bem e do mal, ele patrocinou o maior assalto às contas públicas do Ocidente, financiou ditaduras amigas e, sem cerimônia, elegeu uma sucessora absolutamente incapacitada para a função.

Com Dilma, a esquerda confeitou com incompetência um bolo recheado de corrupção. E o país quebrou de vez econômica e moralmente.

O NOVO ELEITOR – Finalmente, o gigante (nós) deitado eternamente em berço (nem um pouco) esplêndido acordou. Cansados da reprodução de tanta incompetência e corrupção, houve um verdadeiro levante cívico, de forma absolutamente descentralizada e sem influência do poder econômico.

Uma massa inconformada com o risco de mais 4 anos de PT, encontrou guarida num candidato fora do padrão: um deputado sem brilho, militar da reserva (isso seria um ultraje há algum tempo), rude no trato e sem qualquer receio de confrontar temas sagrados num mundo politicamente correto.

Jair Bolsonaro encarnou a antítese do PT – e da esquerda em geral. Chamou para si, de forma inegavelmente valente, a responsabilidade de solitariamente atacar as sandices do PT e ser atacado pelas hordas de inconformados com seu estilo truculento.

Fato é que apenas ele encarnou a indignação da sociedade. Justiça seja feita, João Amoedo também demonstrou esta mesma aversão, mas o seu discurso de Ursinhos Carinhosos não conquistou o imaginário popular.

Bolsonaro prometeu enfrentar a corrupção, tirar o peso do Estado das costas dos brasileiros com uma economia liberal, acabar com o mi-mi-mi politicamente correto e preservar os valores tradicionais preconizados pela cultura cristã do Brasil.

Foi desta forma que ele conquistou dezenas de milhões de desalentados com a política. E se fosse menos visceral na forma de comunicar suas crenças, teria vencido ainda no primeiro turno.

Note que ninguém precisa ser Bolsonarista para valorizar este feito: sem dinheiro, sem bancada, sem tempo de TV e sem exposição política relevante, o capitão da reserva derrotou um partido rico, com presença em todo o país, muito experiente em eleições majoritárias e liderado por um Lula mítico para tantos.

LIÇÃO – Um grande aprendizado destas eleições é que um político não precisa ser de esquerda para demonstrar repulsa pela situação política, social e econômica do Brasil. Lula fez isso com brilhantismo a vida toda, enquanto que a socialdemocracia PSDBista “educadinha” foi se desidratando.

A direita também pode e deve falar diretamente à sociedade, sem meias-palavras. O Brasil – e qualquer país – precisa tanto de uma direita forte, quanto de uma esquerda atuante. Isso ajuda a compor um tecido político mais rico, abrangente e plural.

Já os políticos tradicionais têm tudo para desaparecerem do mapa eleitoral brasileiro. As urnas deixaram claro, que quem não se indignar genuinamente perderá espaço no coração do eleitor.

Por fim, gostemos ou não do seu estilo e do que sua persona política representa, é inegável que Bolsonaro foi um fenômeno eleitoral. Fica agora o desafio de ser um fenômeno na gestão do país. Se fracassar, irá para a vala comum da história e poderá abrir as portas do inferno para o retorno de uma esquerda ainda mais raivosa em 2022.

Olha a responsabilidade, hein, Capitão, ou melhor, presidente-eleito!

Cleber Moraes

Director of Strategic Sales - Global Accounts - Industrial Vertical - Americas

6 a

Excelente!!!

Interesting times in Brazil!

Alexandra Monteiro

Diretora de Incorporação | Diretora de Relacionamento com o Cliente | Diretora de Operações | COO | Autora do Livro "Incorporação Imobiliária - Planejamento e Gestão na Prática"

6 a

Texto muito bom! Parabéns! Me isentei de votar no segundo turno, por ter sérias restrições aos dois discursos. Mas o mérito do vencedor é incontestável. Com sua “jornada do herói” intensificada, ainda mais, após o atentado sofrido. Meu desejo, agora, é que seu mérito como Presidente também seja incontestável, e de forma real, não de uma militância cega, como acontece com o PT, em sua maioria. Vamos aguardar os próximos capítulos e continuar trabalhando, que é a forma pela qual realmente colaboramos com o país.

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