Por que as coisas nos incomodam?
Adilson Aviz

Por que as coisas nos incomodam?

Muitos de nós nos vemos incomodados no cotidiano, nos incomodamos com as pessoas, com as notícias, com o trânsito e por aí vai. Por que essas coisas nos afetam tanto? Qual o poder que têm sobre nós a ponto de tirar o nosso sossego? Então, podemos aventar algumas respostas, sem querer nem de longe chegar a compreensão magma, muito pelo contrário, apenas despertar mais formas de entendimento. Podemos, por hora pedir ajuda a três pensadores, vamos lá:

1. O modo de pensar o externo – Epitecto foi um filósofo grego epicureu que viveu antes de Cristo, ele afirmava que as coisas que nos incomodam não dizem respeito a elas mesmas, mas como as vemos, isto é, a maneira como entendemos o mundo e as pessoas faz com que projetemos um olhar padronizado ao externo e como que um sensor imaginário separamos as coisas que gostamos das que não gostamos e não concordamos. Então, por essa perspectiva nos incomodamos quando nos deparamos com coisas que se chocam com aquilo que achamos ser o correto e bom, nos incomodamos com o contrário, com aquilo que rivaliza com nossas crenças e por conta disso tentamos eliminar ou desmoralizar com palavras, comentários e até mesmo com comportamentos agressivos. 

2. Falta de humor nas relações – Nietzsche, em uma época muito diferente da nossa, cheia de padrões rígidos, assim como, o modo de vida cotidiana, afirmava que a capacidade de empregar o humor nas relações marca a forma de lidar melhor com as situações. Nas pessoas em idade adulta é esperado que consigam resolver seus conflitos de forma saudável e sociável, com formas secundárias de cognição num processo contínuo de maturação dos comportamentos primários inatos a todos nós. Pensar que muitos apresentam dificuldades nesse quesito, pode nos levar a refletir sobre tantas coisas atualmente que possam estar afetando o nosso humor a ponto de fazer com que projetamos nosso desconforto às coisas.

3. A angústia de não vivermos a liberdade – Kierkegaard, pai do Existencialismo, diz que estamos constantemente lutando entre duas escolhas, a nossa e a do outro. Sartre, nosso contemporâneo, tendo Kierkegaard como base, diz que o inferno são os outros, porque a condenação vem do olhar do outro, mas ele também diz que somos condenados a sermos livres, mas como assim? A liberdade que queremos não está a nossa disposição porque queremos fazer, mas, não nos responsabilizarmos pelas conseqüências, então julgar ou condenar o Outro nos parece mais acessível já que não podemos fazer aquilo que desejamos mesmo. Nesse sentido, aprovamos a ideia de Sartre nos tornando o inferno dos outros.

Sem querer expandir a reflexão, até para instigar a procura por mais formas de compreensão, as coisas nos incomodam talvez porque estejam se chocando com a nossa “única” forma de ver o mundo, ou talvez porque o senso de urgência e as exigências da contemporaneidade estejam afetando o nosso humor por aquilo que não conseguimos produzir, ou ainda, porque em meio a tudo isso não estamos tão livres como achávamos que estávamos e isso nos perturba ainda mais quando por um instante vemos pessoas “mais felizes” ou vivendo as emoções que gostaríamos de estar vivendo. 

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