Por que e como caracterizar um padrão analítico?

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Os padrões analíticos são utilizados como uma ferramenta para identificação e/ou quantificação na rotina do Controle de Qualidade, do Desenvolvimento Analítico, na Validação, no P&D e em várias outras etapas dentro da Indústria Farmacêutica. Para isso, é necessário confiar em sua identidade e em casos onde são utilizados para quantificação, precisa-se saber exatamente sua potência, para assegurar os resultados de teor.

Tais padrões ou Substâncias Químicas de Referência (SQR) são classificados pela RDC 166/2017 como Substâncias Químicas de Referência Farmacopeicas (SQF)ou Substâncias Químicas de Referência Caracterizadas (SQC). 

Essa mesma RDC 166/2017 admite o uso de Substâncias Químicas Caracterizadas em validação de métodos analíticos, quando apresentado um relatório conclusivo para o lote, idealmente contendo pelo menos 3 técnicas de identificação e as análises plausíveis para determinação de sua potência. Sendo assim, substâncias químicas com alta pureza podem ser caracterizadas para que sejam utilizadas como uma Substância Química Caracterizadana validação. Algumas vantagens desta estratégia são a possibilidade de realização dos estudos com quantidades não limitantes de padrão e a redução de custo por mg desta substância.

Os testes a serem realizados para a caracterização de um padrão dependem do tipo de substância e de suas características físico-químicas. Em geral, são propostas análises complementares para que possa ser confirmada a sua identidade. Dentre as técnicas mais utilizadas para substâncias orgânicas, destacamos a Ressonância Magnética Nuclear, a Espectrometria de Massas de Alta resolução, a Espectroscopia na região do Infravermelho, a Análise Elementar, a Calorimetria Exploratória Diferencial, a Difração de raio-X, entre outras. Quando selecionadas adequadamente, essas análises podem trazer resultados inequívocos quanto à estrutura e até mesmo corroborar com as análises para determinação de potência.

Para a determinação da potência de um padrão, por sua vez, o foco é nas possíveis impurezas que este possa apresentar, sejam elas compostos relacionados, substâncias inorgânicas, água ou substâncias voláteis. Também neste caso, a substância deve ser avaliada individualmente para a escolha das técnicas mais adequadas de análise. Algumas opções disponíveis para a avaliação de impurezas orgânicas são a análise das substâncias relacionadas pela normalização da área cromatográfica com a subtração de todas as impurezas orgânicas possíveis (quantificação do ativo por exclusão) ou ainda, a determinação da pureza por RMN quantitativo. Neste caso, o cálculo da pureza é um pouco diferente pois considera uma comparação da concentração molar entre um próton de um padrão interno e outro próton da amostra de interesse (seria o mesmo raciocínio de quando executamos uma titulação, mas obviamente, uma técnica bem mais específica, sensível e seletiva). Como é feita uma análise pela resposta analítica observada e corrigida pela massa pesada, todas as impurezas que não representam aquele sinal já estão sendo quantificadas. Sendo assim, não é necessária a quantificação de impurezas inorgânicas ou voláteis também, pois já estão contempladas nos cálculos.

Obviamente, na seleção das técnicas tanto para a caracterização estrutural como para a determinação da potência, não é possível generalizar, sendo necessária uma avaliação prévia, pois todas as técnicas trazem vantagens e desvantagens que precisam ser mensuradas individualmente. Em todos os casos, a análise crítica do pesquisador é fundamental para construção de um certificado analítico robusto e que contemple além dos resultados obtidos, um racional de como foram selecionadas todas as técnicas. Vale lembrar que a partir da caracterização robusta de um padrão analítico, se tem resultados mais assertivos na validação.

A caracterização de substâncias de diversas naturezas é um assunto que permeia meu trabalho há vários anos e espero que as informações contidas neste artigo possam instigar ainda mais a curiosidade e despertar a importância sobre o assunto. Qualquer dúvida, entre em contato.

Um forte abraço,


Emilaine Gomes

Analista Sênior de laboratório Fisico Químico - Química Bacharelado

10 m

Excelente material Thaís! 👏👏👏👍🏻

Ótimo conteúdo Thais! Obrigada por compartilhar! E sobre caracterização de ativos de derivados vegetais? Sempre um desafio!

Evandro S.

Analista de Projetos Sênior - Indústria Farmacêutica

5 a

Bacana, obrigado pelo artigo! A dúvida que me corrói sobre a 166 é aquela "das técnicas como..", que aí algumas pessoas falam que tem que ser o "kit caracterização feliz" e outras aceitam as técnicas a+b+c. Por mim, IR e RMN-H já seriam suficientes para comprovar a estrutura, mas, o que a Anvisa tem demandado? Abraço!

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