Por que não crescemos?
O ESTADO DE SÃO PAULO - Economia e Negócios
Quarta Feira, 29 de janeiro de 2020.
Josef Barat
Algumas perguntas são intrigantes para os economistas. Por que o Brasil tem um crescimento tão medíocre do PIB, justamente quando poderíamos ter tirado partido do período de “bônus demográfico”? Por consequência, por que a renda per capita permanece praticamente estagnada há quase duas décadas, quando a taxa de crescimento demográfico caiu a ponto de ser comparável a países europeus do Mediterrâneo? Por que os resultados medíocres do crescimento, continuam tão concentrados em uma pequena minoria da população? E por que não conseguimos garantir, no longo prazo, taxas de crescimento mais condizentes com o grande potencial do país?
Como sempre, em se tratando de Economia, as causas são múltiplas, complexas e cumulativas. Uma análise dessas causas sempre será incompleta e sujeita a interpretações. Mas vale a pena fazer o exercício. Falar de crescimento é falar em manter elevada a taxa de investimento produtivo, ou seja, ter visão de longo prazo. Não se pode dissociar, de início, o ambiente econômico dos ambientes institucional, político e social. Isto porque, o bom desempenho da economia demanda estabilidade política, segurança jurídica e boa acolhida aos negócios. O ambiente institucional brasileiro, em princípio, oferece atrativo. O pais convive há mais de três décadas com uma Democracia estável e consolidada, apesar dos arroubos populistas (e autoritários) à Esquerda e à Direita. Arroubos à parte, não há um déficit relevante de institucionalidade, embora em se tratando de segurança jurídica, a nossa Suprema Corte é useira e vezeira em se expor publicamente e provocar, muitas vezes, insegurança e até perplexidade. Mas afinal, apesar de muito tardar, o Justiça tem falhado pouco.
Claro que para decisões de investimento produtivo, especialmente de recursos provenientes do exterior, o ideal seria uma segurança jurídica mais condizente com os padrões dos países desenvolvidos de origem, especialmente os europeus e norte-americanos. Mas o que temos ainda dá para atrair esse capital. Onde o bicho pega é no ambiente de negócios. É desnecessário listar os problemas que todo empresário brasileiro conhece. Mas, de todo modo, vale lembrar os componentes deste quadro surrealista e perverso: corrupção endêmica e difusa, burocracia infernal, sistema tributário que parece ter sido concebido e aperfeiçoado pelo “Chapeleiro Maluco” de Alice, precariedade das infraestruturas essenciais de comunicação e transporte, bem como a onipresença de um Estado voraz e predador. Obviamente que tudo converge para uma crescente perda de competitividade em uma economia mundial cada vez mais globalizada.
De acordo com o Relatório da Competitividade Global do Fórum Econômico Mundial – 2019, o Brasil ocupa a 71ª posição global e a 8ª na região da América Latina e Caribe. Aponta que melhorar a produtividade é de suma importância para a agenda social do país, assim como reduzir o alto desemprego e reduzir as taxas de pobreza. É reconhecido o esforço feito para simplificar significativamente a abertura e fechamento de negócios, a redução da inflação e melhoria no mercado de trabalho. O desempenho competitivo do Brasil também se beneficia de um nível de capacidade de inovação relativamente alto e do tamanho de seu mercado. Por outro lado, o país ainda permanece muito fechado e novos progressos na estabilidade macroeconômica deveriam ser acompanhados por maior abertura comercial, especialmente no que se refere às tarifas aplicadas e barreiras não-tarifárias. Obviamente, no quesito segurança pública o Brasil é motivo de relutância para investidores.
Se o Brasil quiser realmente, tanto sair do seu isolamento e se integrar mais fortemente à economia global, como se tornar mais inclusivo socialmente e sustentável ambientalmente, o governo Bolsonaro deverá caminhar mais resolutamente em direção, não só a níveis mais elevados de crescimento econômico, mas também a padrões sociais e ambientais mais altos, com uma visão estratégica e política consistente de longo prazo para alcançar esses objetivos. _________________________________________________________________________
Economista, consultor de entidades públicas e privadas e Coordenador do Núcleo de Estudos Urbanos da Associação Comercial de São Paulo.
Sócio Diretor na PLANAM-CONSULT - Planejamento, Assessoria e Monitoração de Projetos Ltda.
4 aClaudia, boa noite, Esse é exatamente o problema do nosso país. Falta de rumo, falta de perspectiva de futuro. Elites intelectuais, políticas e empresariais ancoradas em ideologias e visões do século passado, quando não dos seculos XIX e mesmo XVIII. Um atraso mental nos debates e nos temas escolhidos para debater. O que ainda salva o país é a visão destemida de certos segmentos do conhecimento, do empreendedorismo e da inovação. Abraço.
consultora
4 aNão há visão estratégica, necessária para uma atuação conjunta e consistente em busca de determinados objetivos. Não sou economista, mas fiquei impressionada com os avanços obtidos por Dubai e Cingapura, em poucas décadas. Lendo o livro do sheik de Dubai - My Vision - percebe-se a grande ênfase numa visão de futuro e a busca da excelência, trabalho duro e de longo prazo, mas com clareza de objetivos e práticas a serem adotadas. Coesão entre a atuação publica e privada. Disciplina, capacitação, desburocratização. Persistência. Estamos longe desses valores, atuando de forma desagregada e conflitiva. Sem rumo, tentando sair da bruma...