Por que o RH insiste em fazer perguntas pessoais na entrevista?
Hoje só se fala disso aqui no Linkedin. Aquela senhora que ofendeu o fiscal, dizendo que o marido não era cidadão e sim engenheiro (???) foi desligada da empresa onde trabalhava.
E eu quero aproveitar esse gancho e explicar uma coisa pra vocês.
A gente, recrutador, pergunta da sua vida pessoal na entrevista pra te conhecer. Mas te conhecer de verdade. Para além do currículo. Para além das respostas prontas.
“Ahhh Fernanda, mas é uma entrevista! Só tinham que me perguntar sobre a parte profissional, porque o pessoal não influencia em nada!”.
Huummmm. Aí é que você se engana. Tem TUDO a ver na verdade. Mas deixa eu fazer um parênteses aqui. Não estou falando sobre perguntas invasivas e antiéticas, taóquei?
Interrogatórios sobre filhos, estado civil, orientação sexual, religião, posicionamento político (e etc) são absurdos, discriminatórios, humilhantes e não tem relação alguma com o que vou falar a seguir.
Agora que estamos alinhados, vamos continuar.
Não há como separar o nosso “eu – trabalho” do nosso “eu – pessoal”. Sinto lhe informar, mas é tudo uma coisa só. A menos que você seja um psycho - extremamente frio e calculista - a forma como você age em sua vida pessoal é muito provavelmente a forma como você age em seu trabalho.
Se você é extrovertido em sua vida pessoal, você será extrovertido em seu trabalho. Se você tem dificuldades em estabelecer vínculos em um círculo pessoal, você também terá no âmbito profissional. Se você utiliza-se de arrogância para supostamente desmerecer alguém com o seu “conhecimento intelectual” - como fez a nossa colega que foi desligada - muito provavelmente você tentará fazer isso em algum momento no trabalho. Se você é ansioso, criativo, procrastinador, ligado no 220, mandão, planejado, resolvedor de problemas ... será tudo isso em sua vida pessoal, e será tudo isso também no trabalho.
É simples assim.
Claro que no trabalho a gente ajusta algumas coisas. Talvez você adote um tom de voz mais baixo, dê uma segurada nas brincadeiras, utilize um vocabulário mais formal. Mas a essência?
Não, essa não muda.
E é por isso que, em alguns casos, a terapia de grupo é mais efetiva que a individual, pois o psicólogo pode observar como a pessoa se relaciona e se expressa com os outros dentro daquele grupo terapêutico, tornando mais fácil entender como são os seus padrões de conflito e de intimidade fora dele.
E as perguntas certas, inclusive sobre a vida pessoal, também nos permite perceber isso.
Como são as relações deste candidato? Existe um padrão que se repete? O que ele evita? O que o deixa feliz? O que traz medo? O que o frustra?
Um bom recrutador entende essa dinâmica e cria uma atmosfera agradável na entrevista, possibilitando que a essência do candidato apareça naturalmente, e seja compreendida como um todo. E a partir daí o recrutador pode perceber também o quanto este candidato está aderente ao fit cultural da empresa. Se ele demonstra um perfil agressivo e competitivo, e a empresa precisa de um atingidor de metas determinado, que não se importe com embates: match! Se a empresa procura um ótimo vendedor, com alta influência, mas o candidato apresenta perfil tímido e pouco sociável: feedback negativo.
As perguntas técnicas nos dão um parte dessa avaliação. As pessoais, a outra.
E é por isso que sempre damos aqueles velhos conselhos: Seja você mesmo. Permita que o RH te conheça. Busque também saber sobre a empresa.
Escolher o seu próximo trabalho é que nem escolher um novo amigo. Tem que ter sinceridade e interesse de ambas as partes.
E aí, ajudou?
Então me fale sobre você :)
Analista de RH na Kot Engenharia
1 aFantástico
Adriana Santos
3 aIsso é a mais pura verdade...no âmbito profissional ajustamos algumas coisas, mas é bem verdade que profissional e pessoal andam de mãos dadas, amei essa colocação ...
Head of People / 70 mil seguidores / Psicólogo Organizacional / Consultor / 3 livros copublicados / Puc IAG Master / Professor Universitário
3 aPerguntas pessoais são essenciais para analisar candidatos. Não é ilegal fazer perguntas pessoais no Brasil. O limite seria "alguns tipos de perguntas". Cada pergunta possui uma razão técnica que o leigo desconhece a intenção. Existem "crenças" sobre o assunto mas é só um exercício de tudologia. Na maioria as críticas são totalmente infundadas. Um entrevistador bom deixa o entrevistado a vontade. Inclusive para dizer gentilmente "eu gostaria de não falar sobre este assunto". Em Rh temos um caminhão de gente querendo ensinar o padre a rezar missa. Foca em conquistar a vaga! Excelente post. ;)
Marinheiro de Convés
4 aMuito bom o seu texto, é verdade, somos uma só pessoa dentro e fora do trabalho. Me idetifiquei bastante.
Primeiro Oficial de Náutica | DP | Second Deck Officer | Dynamic Positioning Assistant
4 aAdorei o post,Fernanda.Já me preparando para a próxima entrevista.