Por que se tornar uma universidade inovadora e empreendedora?

Por que se tornar uma universidade inovadora e empreendedora?

A inovação e o empreendedorismo tem sido um tema e pauta recorrente das organizações e dos diálogos entre os diversos a(u)tores do ecossistema (e, por ecossistema vamos utilizar os conceitos de Tríplice Hélice de Etzkowitz e de Hélice Quadrupla de Audy e Piqué, sendo o governo, as universidades, as empresas e a sociedade civil organizada) na tentativa de construir novas possibilidades ou melhorar o que já possuímos, na busca da geração de valor e impacto junto a organizações e pessoas.

As universidades por sua vez também estão buscando adaptarem-se a esta nova realidade de mundo e tentando criar novas alternativas para se tornarem relevantes para os seus estudantes.

Buscam ou deveriam construir formações que contemplem o desenvolvimento afetivo, cognitivo e psicomotor, por meio dos domínios do conhecimento e das dimensões dos processos cognitivos, como apresentado por Karthwohl, já que o desenvolvimento dos estudantes é quem sabe o principal ativo das universidades, quando potencializa o capital humano para tornarem-se a(u)tores dos ecossistemas.

Além do movimento das inovações pedagógicas que auxiliam o desafio descrito no parágrafo anterior, há uma recorrente necessidade das universidades (manifestadas desde o século passado) quanto ao seu papel institucional como promotora da gestão do conhecimento; e, que por meio de seus ativos do conhecimento deve contribuir para a transformação de realidades, sendo protagonista deste processo, manifestando-se como uma organização inovadora e empreendedora.

Infelizmente ou felizmente estes últimos dois parágrafos que tentam descrever a vida práticas das universidades de forma genérica e recortada, se tornou quem sabe o maior desafio das universidades nos últimos 20 anos.

Temos desde 2014 aprofundado os estudos nas áreas de inovação, empreendedorismo e educação empreendedora nas universidades e temos trazido a pauta de que as universidades necessitam ser um ecossistema de inovação e empreendedorismo, para que de alguma forma possam atender os desafios da formação de cidadãos do futuro e de profissionais atualizados para atuação no presente, possibilitando assim, o desenvolvimento sustentável da própria universidade, de seus alunos e do ecossistema.

Mas realmente o que ser uma universidades inovadora e empreendedora?

A universidade inovadora e empreendedora é uma instituição que deve contribuir para o desenvolvimento humano, social, econômico, ambiental e por meio da gestão do conhecimento, a partir de estratégias que possibilitem a valorização da ciência e do reconhecimento dos demais tipos de conhecimento, seja protagonista da transformação junto aos demais a(u)tores do ecossistema de forma inovadora e empreendedora, gerando impacto positivo.

Quando trazemos as universidades como ecossistemas de inovação e empreendedorismo, compreendemos que mesmo esta sendo uma das "hélices", possui uma complexidade que de alguma forma permite a elaboração de sistemas de inovação e empreendedorismo, bem como, da construção de um ecossistema próprio.

Isto não se dá apenas pela diversidade das áreas de conhecimento e suas especificações, gerando sistemas próprios, mas principalmente pelas tipologias de inovação e empreendedorismo que podem estar contidas neste ecossistema, como por exemplo: inovação pedagógica ou acadêmica; empreendedorismo acadêmico; a inovação por meio de spin offs universitárias; gestão e governança da inovação organizacional; ambientes de inovação e empreendedorismo; o desenvolvimento de startups e outras formas que podem se manifestar a partir do relacionamento dos a(u)tores internos em rede com os a(u)tores externos.

Por mais que de forma subliminar já tenhamos trazido uma resposta a pergunta título desta postagem, cabe ressaltá-la novamente para pensarmos o "Por que se tornar uma universidade inovadora e empreendedora?"

Entendemos os desafios contemporâneos e o quanto boa parte das universidades tem inovado e empreendido para superar os momentos que estamos vivendo; e, vamos tentar trazer 6 possíveis respostas (compreendendo que existem mais respostas, mas para não deixar o texto tão longo) que podem lhe ajudar a compreender o porque que temos falado sobre este tema nas universidades.

a) Aderência e relevância: uma universidade inovadora e empreendedora em virtude da sua constate conexão e interação com os demais a(u)tores do ecossistema consegue compreender as demandas de conhecimento e por meio dos seus ativos de conhecimento propiciar o desenvolvimento de atividades de ensino, pesquisa e extensão de forma sinergica e aderentes as necessidades humanas, do mercado e da sociedade, conduzindo assim, seus estudantes e professores para o desenvolvimento de práticas pedagógicas inovadoras geradoras de soluções que possam ser aplicadas junto ao ecossistema.

b) Capitalização do conhecimento: uma universidade inovadora e empreendedora conhece e reconhece os seus ativos do conhecimento a partir da gestão do capital humano (professores, pesquisadores, técnicos, estudantes, gestores, etc) construindo um portfolio de conhecimentos e competências que possam ser aplicadas junto ao ecossistema.

Esta capitalização aliada a compreensão de aderência e relevância, possibilita a geração de novas receitas para a universidade (e não apenas as receitas oriundas de mensalidades, subvenções, empréstimos, investimentos ou fomentos públicos), contribuindo para a sustentabilidade econômico-financeira, a valorização de professores e pesquisadores a partir de modelos de receitas compartilhadas; e, da valorização da ciência a partir da interação e da atuação em rede com as diversas áreas de conhecimento e com os a(u)tores do ecossistema.

c) Aumento da atratividade e da permanência dos acadêmicos: uma universidade inovadora e empreendedora consegue a partir da aderência e relevância conhecer as demandas do ecossistema; e, por meio de seus ativos de conhecimento construir soluções pautadas na experimentação e na aplicação do conhecimento para o atendimento de problemas reais.

Programas acadêmicos inovadores não se pautam apenas na construção de cursos, disciplinas, atividades acadêmicas ou modelos phigital, mas na união de todas as oportunidades existentes da gestão do conhecimento nos mais diversos ambientes de aprendizagem, possibilitando com que os estudantes possam definir os seus itinerário, trilhas formativas e com quem devem se relacionar.

Desta forma, o estudante não se matricula em uma determinada disciplina, tópico, mas se candidata para atuar nos projetos, desafios e problemas que são apresentados pela universidade em formato de marketplace, onde iram atuar, aprender e construir em todo o momento da sua permanência na universidade.

Isto pode lhe gerar resultados financeiros, econômicos e principalmente conhecimentos e experiências que irão lhe credenciar para uma posição no mercado ou na construção do seu próprio negócio.

d) Empregabilidade e/ou Empreendedor: uma universidade inovadora e empreendedora possibilita por meio de seus programas, ambientes, ativos do conhecimento e relacionamentos com o ecossistema competências para que estudantes, professores, pesquisadores, técnicos possam gerar um grau de empregabilidade ao longo da vida, a partir de skills essenciais e liquid skills, reduzindo as mismatch skills e aumentando a empregabilidade e o intraempreendedorismo.

Desta forma o estudante-futuro profissional vai adquirindo ao longo da sua jornada credenciais baseadas em experiências de aplicação do conhecimento geradoras de valor e impacto. A pergunta do empregador não será quais os certificados ou diplomas que o estudante possui, mas o que lhe credencia para auxiliar organizações a resolverem problemas dos consumidores, ou desenvolver inovações que possam gerar vantagem competitiva.

Na perspectiva empreendedora, a universidade deve compreender que a inovação e o empreendedorismo devem ser tratados de forma transversal, tanto na perspectiva acadêmica, quanto na gestão universitária.

Deve possibilitar aos estudantes, professores e pesquisadores a possibilidade do desenvolvimento de comportamentos inovadores e empreendedores, na construção de startups acadêmicas e spin offs universitárias a partir de problemas reais do ecossistema e de programas ofertados pela universidade em ambientes de coworking.

As startups são ferramentas para o desenvolvimento de competências para inovar e empreender, sendo uma estratégia de aprendizagem; não devendo ser consideradas como um fim da ação do estudante-empreendedor.

Para o professor as spin offs são um meio para o compartilhamento, transferência e capitalização do conhecimento a partir dos resultados das pesquisas aplicadas ao ecossistema, possibilitando novas formas de capitalizar o conhecimento e gerar sustentabilidade para si próprio e para a universidade.

De modo geral, estas formas além de contribuir para a empregabilidade ou para o empreendedorismo, auxiliam na atratividade e permanência de estudantes, professores e pesquisadores, na capitalização do conhecimento gerando aderência e relevância.

e) Campus Universitário: uma universidade inovadora e empreendedora entende o seu campus universitário físico como um grande lab e uma UniverCidade.

O campus como um lab está pautado em um ambiente de experimentação, de interação entre as diversas áreas do conhecimento em rede, visto que o modelo phigital de aprendizagem compreende os espaços físicos como ambientes para as atividades mão-na-massa, já que as aulas expositivas podem ser realizadas a partir das ferramentas online.

O campus a partir de um conceito de UniverCidade (e não de cidade universitária) possibilita com que o campus se transforme em uma cidade, já que além de um laboratório de experiências mão-na-massa o campus deverá ser um ambientes de convivência e de viver.

Imagine que você é um estudante que possui uma startups no coworking do campus, ou trabalha em uma empresa incubada, utiliza a academia de fitness (lab do Curso de Educação Física), se alimenta no restaurante da universidade (lab dos Cursos de Nutrição e Gastronomia); leva seu pet no Hospital Veterinário (Lab do Curso de Medicina Veterinária) e mora em um coliving dentro do campus. Ou seja, o campus se transforma em um grande living lab.

De certa forma este modelo (com menos funcionalidades destacadas neste texto) já acontecem nas universidades Norte Americanas, e o que nos salta aos olhos é que em alguns lugares você não consegue identificar o que é campus, o que é empresa, o que é bairro. Ou seja, se a universidade é o principal ponto de vínculo do estudante ou professor a percepção que ele possui é que tudo faz parte da universidade.

Desta forma as universidades nunca se tornaram campus fantasmas, um outro texto que escrevi em 2017, quando retornei de uma imersão na Babson College e na cidade de Boston.

Uma outra questão interessante é que algumas empresas inovadoras chamam as suas sede de campus, como acontece com a Apple, o Google e tantas outras, ou seja, compreender a importância do campus como um a ambiente de gestão do conhecimento, experimentação e convivência, já que, boa parte destas empresas além de inovadoras são intensivas em conhecimento, assim como, as universidades.

Neste texto não vou abordar as diversas possibilidades do universo digital, mas você pode conhecer o artigo que escrevi sobre a Metaversidade: as universidades e as várias realidades, neste link. Mas antes de fechar este tema, cabe ressaltar que as universidades devem ser grandes e potentes ambientes de BA.

E por fim (que na verdade eu teria mais elementos para tentar responder a pergunta, mas creio que o texto já está bem grande), e não menos importante.

f) Do EGOssitema para o ECOssistema: uma universidade inovadora e empreendedora devem transcender o EGOssistema para o ECOssistema, já que em muitos casos as universidades estão fechadas em si mesmo, assim como, os seus professores e pesquisadores, promovendo egossistema sem atuar na perspectivas do ecossistema.

Compreender que a universidade é um ecossistema de inovação e empreendedorismo, sendo um a(u)tor de um ecossistema maior requer um entendimento de que o conhecimento científico é apenas um dos tipos de conhecimento.

Esta abertura, flexibilidade, reconhecimento da importância do outro e da sua valorização faz com que a universidade esteja sempre aberta e disposta a contribuir para o desenvolvimento e para o compartilhamento.

Este posicionamento propicia a inovação aberta a partir do desenvolvimento da ciência, da tecnologia e inovação, reverberando as potencialidades, valores e soluções que uma universidade inovadora e empreendedora possui ou pode co-construir.

Muitas são as respostas para esta pergunta e de alguma forma aqui tentamos trazer algumas delas. Temos ajudado universidades nestes desafios, na busca de transformar universidades em ecossistemas de inovação e empreendedorismo.

Vamos trocar experiências?


Katianny Estival

Empreendedora social.Professora da UESC/Bahia, nas áreas de gestão e empreendedorismo social. Pesquisadora e extensionista no Escritório de Projetos e Aceleradora de Empreendimentos Femininos @epec_uesc

2 a

Muito bom professor, compartilhando com colegas para discussões sobre renovação de cursos!

EZAIR José MEURER Junior

Advogado | Doutor em Direito UFSC | Presidente OAB Subseção Palhoça/SC (2022/2024) | Processualista Civil membro do IBDP e IASC | Possui publicações jurídicas.

2 a

👏🏻👏🏻👏🏻

Nedisson Luis Gessi

CEO LETUS® | Facilitador LEGO® Serious Play® | Consultor AGQ | Learning Experience Designer | Management 3.0 Certified | Team Building Certified

2 a

Concordo plenamente

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