Por que um texto sobre vírus nunca saiu da minha cabeça?
O texto é uma linguagem viva. Ele por si só é uma experiência única de conteúdo que se diferencia de outras justamente por necessitar de um trabalho conjunto: eu escrevo um parágrafo aqui, você imagina ou interpreta aí.
E tá, eu sei, estamos na era da IA, com o Chat GPT e uma série de aplicativos e ferramentas que conseguem escrever textos, editá-los, mandar para a sua família, ser seu terapeuta, etc.
Mas aqui, quero fazer uma reflexão: eu não quero provar que o texto feito por IA é melhor ou pior que uma obra humana. Este post representa a minha volta ao LinkedIN (pelo menos, por enquanto) e também é um enaltecimento ao que eu acho que é um bom texto.
Hoje, eu vou tentar explicar o porquê um texto sobre vírus publicado na Superinteressante em 2020, nunca saiu da minha cabeça. Vamos lá?
As bases para um bom texto
Acredito que todo mundo que já pesquisou sobre o que significa um bom texto conhece a dupla: coerência e coesão. Para deixar claro logo no início, a primeira tem relação com a organização das partes para formar o todo, ou seja, dar sentido.
É basicamente a escolha correta das palavras em uma frase ou parágrafo para formar um significado para o leitor (me senti meio professora de português agora).
Por exemplo, você não vai escrever: João comprou um carro. Hoje fez 15ºC — Essas duas frases juntas não fazem sentindo, não é? Pois é a coerência que evita escrever enunciados que não têm significado algum para o que o texto propõem.
Já a coesão representa os elementos que dão continuidade, ajudando a ligar as ideias apresentadas. Sabe as conjunções? Elas são as nossas aliadas quando o assunto é coesão, afinal, são esses elementos que auxiliam a juntar as frases e parágrafos no texto.
Além da dupla dinâmica, colocar exemplos que reforcem e tragam um conceito mais prático do assunto é um fator muito importante. Além de juntar frases diretas e indiretas.
Se você não sabe do que estou falando, aqui vai uma dica: enquanto uma está relacionada com a ordem direta (sujeito + predicado + objeto). A segunda é sobre mudar as posições dos elementos, sempre lembrando que não se separa sujeito de predicado.
Exemplo:
Paulo foi ao mercado enquanto estava doente — frase direta
Enquanto estava doente, Paulo foi ao mercado — frase indireta
Vírus: vida, obra e outras coisas
Eu não me lembro exatamente o dia em que salvei este texto da Superinteressante para ler. Acho que foi porque estava todo mundo apreensivo com as notícias da Covid-19 e eu também queria entender mais sobre o assunto.
Não li logo de cara, eu salvei para um dia ler e de fato, li.
É um texto enorme, um dossiê não só sobre a Covid-19, mas sobre vírus de uma maneira geral. Pelo tanto de palavras (são por volta de 5.000), é claro que a primeira reação é deixar para lá.
No entanto, acho que é por isso que esse texto é tão marcante: não é só um compilado de palavras, ele realmente traz informações interessantes e isso te motiva a continuar a leitura.
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Porém, para ser mais direta sobre os elementos que fazem esse texto ser tão especial, eu separei alguns tópicos. Vamos lá?
Exemplos e comparações
Isso é um recurso muito bom para deixar o texto mais dinâmico e apresentar para o leitor a ideia que você quer passar. Há bastante disso no texto: logo no início, você já encontra uma “comparação” do funcionamento do vírus de computador Tierra com o modus operandi de um vírus orgânico. Em outra parte, ele fala sobre um aplicativo de celular e o programa Photoshop, comparando a quantidade de linhas de código de ambos.
Linguagem mais informal
Nem sempre funciona, depende do tipo de texto e leitor. Claro que quem procura pela Superinteressante, mesmo que seja alguém que goste de assuntos científicos, é um leitor leigo, portanto, é importante que a linguagem seja o menos técnica possível.
No texto, é visível que há um cuidado em simplificar os assuntos complexos. Inclusive, você vai encontrar expressões como “graças a uma mexidinha no DNA”, que dão um tom de mais familiar ao assunto.
Informação a todo instante
Em nenhuma parte do texto, quando é trazido um novo termo ou assunto, o leitor fica sem alguma informação nova. Por exemplo, quando bactérias são citadas, o autor busca trazer o dado de quantas existem e até explica a sua relação com a origem do vírus.
Em outra parte, quando cita as proteínas, ele explica a quantidade disponível. Logo, como o texto é sempre reabastecido de informação nos parágrafos, ele não fica redundante.
Narração
Quando se trata de narração, esse texto é uma aula.
Isso já começa na introdução — você vai perceber como o escritor nos guia para a história do surgimento do vírus, utilizando, especialmente, uma outra história: do vírus Tierra.
E acredito que há um detalhe muito interessante aqui: essa habilidade para narrar foi crucial para que a introdução ficasse tão envolvente. Você vai criando as imagens dos acontecimentos na sua cabeça e se sente motivado para continuar a leitura.
Conclusão
Não é incomum que o foco dos textos na internet seja voltado para a quantidade de palavras. Até porque, quem escreve sabe o quanto isso é um padrão até para precificar o nosso trabalho. Porém, não adianta nada escrever um conteúdo enxuto ou extenso se não for bem feito.
Acho que esse texto da Superinteressante representa bem o que é um bom conteúdo, porque existe um equilíbrio de informações interessantes e há o uso de recursos que estimulam a imaginação do leitor como a narração, exemplos e comparações.
Bem, com esse post, inicia a minha volta a essa rede.
Até a próxima ;)
Ps.:
Ah clique aqui se você tem interesse em ler o texto sobre vírus!