PORQUE ALGUMAS EMPRESAS QUEBRAM?
“A incapacidade do sistema mecânico de fornecer combustível suficiente para permitir o funcionamento correto do motor, é chamado de PANE SECA." Wikipédia
Foi durante um processo seletivo interno, visando uma promoção à gerência regional, que me deparei com uma realidade dura e verdadeiramente lamentável sobre meu histórico profissional. Com um currículo que me trazia confiança, devido às capacitações e uma experiência de quase 30 anos no mercado, os recrutadores me confrontavam com uma importante observação, gerando em mim um misto de insegurança e curiosidade. Em três décadas de minha vivência corporativa, metade delas tinha se passado em empresas que não existiam mais. Em 15 anos de carreira eu tinha trabalhado em empresas que já haviam decretado falência.
“De 2000 a 2021, mais da metade das empresas listadas na revista Fortune 500 desapareceram...até 2025 estima-se que 50% das que existem hoje também devem desaparecer. " Deloitte -2019
Minha insegurança surgiu por acreditar em uma verdade que em segundos passou de vantagem (a longa experiência) a desvantagem (o cara das empresas que quebram) .... Senti-me forçado a dar uma explicação, e acabei saindo com um argumento ingênuo - “faliram, mas não foi minha culpa! ”.
Já a curiosidade despertou em mim um desejo grande de entender o que levam empresas em setores de atuação idênticos, riscos de mercados similares, poderes econômicos iguais, terem sucesso e outras não.
Hoje meu entender é mais claro e consigo avaliar, por exemplo, a oportunidade que tive de vivenciar um ciclo de expansão organizacional que não levava em consideração decisões sustentadas para o negócio. O “brilho” ofuscante do crescimento, não nos deixava ver a realidade nua e crua, almejando mercados no qual não estávamos preparados para atuar. Ao indagar a fundadora sobre o risco de uma das aquisições, lembro-me até hoje a reposta que tive – “Não estou lhe perguntando se iremos inaugurar, estou lhe perguntando quando iremos inaugurar...”. Mesmo diante de dados que nos mostravam o risco da operação, a empresa manteve o plano. Dois anos depois, essa foi uma das “cerejas do bolo” amargo da recuperação judicial, culminando em sequência no pedido de falência.
“O problema do sucesso é quando ele se transforma em arrogância. Há arrogância em achar que, quando as intenções são boas, de alguma forma, todas nossas decisões são boas. Más decisões tomadas com boas intenções ainda são más decisões". Jim Collins
Empreendendo e assessorando empresas, comecei a me familiarizar com a verdadeira realidade de se ter um negócio próprio, essa “loucura” que é empreender. O quão difícil é ser alguém inconformado com sua realidade atual e buscar toda manhã resultados diferentes, mudanças, inovações e motivação por um propósito sustentado. Encarar, na grande parte do tempo, ventos contrários oriundos do governo, da concorrência, dos fornecedores, dos clientes, dos funcionários, dos amigos e até mesmo dos familiares. Mantendo-se firme, resiliente, disciplinado e persistente... uma batalha longe de ser fácil.
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Nessa jornada percebi que, assim como um o medidor de nível de combustível no painel de um veículo, a empresa dá sinais de uma “Pane Seca” se aproximando. É fato que, o que quebra uma organização é a fragilidade de seu caixa, mas antes do “tanque secar”, existem sinais prévios de problemas acontecendo. E encarar a realidade nua crua é uma das orientações do livro Empresas Feitas Para Vencer (Good to great), do professor e autor americano Jim Collins.
É sobre minhas descobertas, recordações e insigths, ao ler a trilogia de Jim, que surge meu desejo de compartilhar com você, em pequenos artigos, as principais lições que tirei dos livros Feitas Para Durar, Empresas Feitas Para Vencer e Como as Gigantes Caem. É dessa forma que acredito na possibilidade de juntos contribuirmos, compartilhando conhecimento, o intuito de apoiar nossas organizações a não sofrerem o Efeito Pane Seca.
"A grandeza de uma companhia não é uma questão de circunstâncias, mas de um resultado de escolhas." Jim Collins
Então vamos lá...ouso nesse desafio iniciar com um spoiler do próximo artigo inspirado em Ioda, mestre Jedi da franquia cinematográfica Guerra nas Estrelas – “Faça ou não faça, tentar não existe. ” Como Jim Collins alerta, “O Bom é Inimigo do Ótimo”, empresas excelentes não possuem somente foco prioritário no que fazer, elas se concentram também no que não fazer e no que parar de fazer. O que me faz recordar de outro livro excelente, A Estratégia do Oceano Azul, W. Chan Kim e Renée Maubourgne, um guia para estratégias eficazes que apresenta a intrigante Matriz eliminar-reduzir-elevar-criar.
O que nossa empresa representa? Qual problema do cliente ela tem propósito em resolver? Sugiro que nós gestores consideremos a importância de um plano estratégico, mas que tenhamos também total empenho em criarmos mecanismos que reforçam e dão vida ao propósito central da corporação, estimulando a mudança e a liberdade com responsabilidade. Esforçar-se para que todos entendam no que somos realmente excelentes. Liderar infundindo na empresa o próprio senso de propósito dela e não o seu, para que esse propósito possa ser traduzido em ação, em execução. Fomentar mecanismos que dêem tempo e espaço para criatividade, que sejam duradouros, funcionando mesmo que você não esteja presente (ou deixe de existir) e que ganhem por escala, tocando o maior número de pessoas todos os dias, girando como uma espécie de volante que vai ganhando força e velocidade a cada volta.
Nos encontramos em breve...Grande abraço.