Porque a "Escola de Princesas" não faz sentido
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Porque a "Escola de Princesas" não faz sentido

Nem mesmo quando eu era uma pequena garotinha, me imaginei vivendo como uma princesa: eu nasci em 1980. Brinquei de boneca, de "escolinha", fiz balé por um tempo mas nunca idealizei viver um conto de fadas.

E vivo num mundo que nem de longe é um conto de fadas.

Principalmente para quem é menina, garota, mulher: recentemente soubemos que o Brasil, é o pior país da América Latina para ser MENINA [ Dados do relatório divulgado pela organização internacional Save The Children ] que levam em consideração fatores como escolaridade, gravidez na adolescência, casamento infantil, mortalidade materna e representação de mulheres nos parlamentos. O Brasil se encontra no 102º , atrás de Índia e Paquistão ( conhecidos pela forte cultura machista ) 

Por que estou falando sobre isso?

Pois bem. Poderia ilustrar aqui, com um milhão de exemplos, porque precisamos botar luz nestes temas.

Por que precisamos empoderar meninas, garotas e mulheres, dar voz para que falem e exponham o que passam?

Já existem boas iniciativas que colaboram para que nós, mulheres, não fiquemos ali na sombra e ocupemos espaços, De forma natural, espontânea de igual para igual. As mídias sociais cumprem um papel importante na disseminação de ações como as relacionadas ao #primeiroassédio ( onde mulheres publicavam sobre os abusos sofridos durante as diversas fases da vida ) Observem o #cloud de palavras mais citadas relacionadas ao uso da hashtag :

O Portal ThinkOlga criou a hashtag #primeiroassédio e deu vazão para que milhares de meninas, mulheres falassem. Os números relacionadas ao twittaço em torno do tema passou de 82mil!

Vamos agora ao que me faz dedicar tempo para este tema: você já ouviu falar sobre a "Escola de Princesas" ? O vídeo vai te colocar dentro do tema:

 

Pois bem: existe uma escola de princesas no Brasil. A primeira delas, foi fundada em 2013 por uma psicopedagoga chamada Nathalia de Mesquita. "Numa noite eu tive um sonho que eu trabalhava numa escola de princesas, e eu achei aquilo maravilhoso, achei o lugar diferente, eu pensava: se eu tivesse uma filha, era isso que eu gostaria de ensinar para ela."

Esse assunto voltou a tona, com força nesta semana: uma nova unidade da Escola de Princesas está sendo aberta: aqui em São Paulo.

'O sonho de toda menina é tornar-se uma princesa' é o mote da escola'

Tentando verdadeiramente entender qual o intuito deste tipo de iniciativa, fui atrás de matérias e informações e pude assistir um vídeo, de uma entrevista feita com a Natalhia pelo Estadão.

Para ilustrar o propósito da ideia, vou transcrever alguns trechos das falas ditas pela Srª. Nathalia* criadora da Escola de Princesas e pela mãe de uma das garotas que frequentam a escola , Srª. Lidiane de Melo* para repórter:

  • "Ela desde criança, entender que existem papéis que cabem a ELA né: Com o toque feminino, que são os detalhes, eu acho MUITO IMPORTANTE, porque facilita meu trabalho como mãe" | Mãe**
  • "...coloco aulas simples: arrumar a sua cama, organizar o seu guarda-roupa, fazer uma mala, até coisas assim, ir a um salão de beleza, aprender assim a se arrumar, se maquiar" | Criadora*
  • "... regrinha: sempre , às vezes, nunca" | Criadora*
  • "Eu vejo que a escola ela contribui porque ela FORMA ESSA MULHER, e ela contribui na organização dessa mulher, desde já, com uma casa organizada, com diretrizes, ela pode facilitar a vida da sua ajudante doméstica" ( ?????) | Mãe**
  • "A princesa vem para cá,ela vem realmente pelo sonhos, mas a gente PROCURA COISAS DA VIDA REAL, tem uma palestra que a gente fala de identidade, ou faz uma culinária alguma coisa, aí tem o "chá de princesas"...que eu faço o chá , a gente faz o encontro de princesas , que aí é o passeio de limusine."  ( ???????????????)
  • "Eu não tinha uma postura, eu queria fazer assim, certo" | Aluna da escola (????)
  • "...ela sabe o que ela quer colocar na mesa, ela sabe o que ela quer comer, e eu acredito que ela não vai dividir grandes funções com o marido, porque ela VAI PEDIR que o marido traga aquela flor ..." | Mãe**

Fui pesquisar qual a grade curricular desta tal Escola de Princesas vejam a a seguir, a quantidade de etapas e a faixa etária de alunas que a escola aceita:

Agora observe os módulos das aulas:

Nem sei dizer quanto LAMENTO por uma coisa dessas. Essa grade curricular e a faixa etária das garotas, distoa completamente do que seja básico para uma criança.

Outro ponto: porque RAIOS as tarefas do lar estão sendo atribuídas para MENINAS E MULHERES? Como se isso fosse dever único e exclusivo delas?

Que vida real é essa, onde passeios de meninas são feitos em LIMUSINE?

“E de repente a vida te vira do avesso, e você descobre que o avesso, é o seu lado certo.”

Em contrapartida, podemos ver iniciativas como essa, no Chile:

A ideia é QUEBRAR PADRÕES DE GÊNERO. A iniciativa partiu do Escritório de Proteção de Direitos de Iquiaque, no norte do Chile.

A "Escola de desprincesamento" é voltada para meninas de 9 a 15 anos de idade.

"Buscamos dar a elas ferramentas para que elas cresçam como meninas livres de preconceitos, empoderadas e com a convicção de que são capazes de mudar o mundo, e que não precisam de um homem do lado para isso", explica o coordenador do Escritório de Proteção de Direitos da Infância do município, Yury Bustamante.

As atividades são ministradas em 6 módulos na Casa de Cultura da cidade: há debates, aulas de defesa pessoal, cantorias e atividades manuais.

A ideia é que as meninas reflitam sobre o conceito de ser mulher, beleza e felicidade sem que haja um "príncipe" ( ou qualquer outra coisa do gênero ) que seja correlato a esse conceito.) <3

E aí? O que nós temos com isso?!

 

Nós temos TUDO com isso. Precisamos ser capazes de olhar ao redor e refletir sobre esses acontecimentos todos. Não é apenas a tal "Escola de Princesas" que representa uma postura completamente DISTANTE do que meninas, garotas e mulheres precisam se preocupar na vida, há questões ligadas ao preconceito, assédio, a falta de representatividade feminina no cenário profissional em cargos de gerência ou direção.

São inúmeros fatores, Cada qual reflete uma infinidade de pequenos feitos que PRECISAM ser revistos, precisam ser FALADOS para gerar impacto e assim ganhar VOZ.

Por favor, não reforcem comportamentos que coloquem meninas e garotas inseridas num contexto que favorece submissão, dependência, culpa.

 

Eu poderia ficar aqui falando sobre esse tema, destrinchar com inúmeros dados e fatos, quão grave e importante é não fecharmos os olhos para essas questões: mas acredito que o repertório desse artigo já seja uma boa semente ( senão ninguém volta mais aqui par ame ler rs )

Como sempre, sigo aberta a dialogar: e adoro os comentários. Eles sempre contribuem para que as discussões ampliem horizontes!

Por fim , último recado:

Abraços, Tatti ...

Tatti Maeda | Digital Marketing Consulting | Palestrante [ Social Media e Inovação Digital ] , Content Marketing, Professora , #mãecomfilho apaixonada, sendo a mulher que desejo ser!

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Aline Andrade de Melo

Consultora de Mídia Online - Social/Performance

7 a

Escola de princesas nada mais é do que a forma que as mães procuram para educar suas filhas, esquecendo que isso é papel delas mesma juntos (se possível) com os pais. Uma criança deve receber esses valores pela FAMÍLIA e não por terceiros. Ok, sei que os valores são refletidos em todo lugar, porém, o que essa escola ensina são os valores básicos que deveriam ser aprendidos com os responsáveis.

Mariana Filippini Cacciacarro

Psicóloga, Doutora e Mestre em Psicologia Clínica, Especialista em Terapia de Família e Casal

8 a

Obrigada, Tati!

Francisco C.

CEO - Inteligência de Mercado | GeoMarketing | Expansão de Negócios

8 a

Parabéns Tatti pela semente da informação e empoderamento!

TARCILA MIGUEL OLIANI

Gerente de projetos na Compulaser Grafica e Editora Ltda

8 a

Esse tipo de instituição é um retrocesso!!! As crianças precisam conhecer os valores morais, senso de colaboração com o próximo, e principalmente a serem generosas e carinhosas umas com as outras... Precisam aprender a construir... Aprender a "SER" e não "TER"... Muitos pais estão sufocando seus filhos com aparatos tecnológicos e esquecem de estabelecer relacionamento... Precisamos instruir as crianças para serem HUMANAS, com HUMANIDADE... Meninas... meninos... são só crianças... chega de sexicismo.

Juliana Botelho

Especialista em Comunicação Interna e Endomarketing

8 a

Excelente, muito esclarecedor!! É inacreditável que em pleno século 21 ainda existam mulheres que procurem este tipo de instituição para suas filhas. Precisamos falar cada vez mais, sobre o empoderamento feminino. Parabéns pelo texto!

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