PORVIR DO EU QUE TRABALHA
Podemos sem duvidas dizer que um fator que define grande parte do ser humano é o trabalho, se usarmos da história da humanidade poderemos ver que as práticas laborais foram de extrema importância para a formação da sociedade, para organizar os grupos humanos, sendo através do trabalho que o homem transformou seu ambiente, e com ele se transformou, conhecendo mais, aprendendo mais, e exercendo outra de suas características, o construir-se a si mesmo. (Paschoalin, 2012). Desta forma, o trabalho deveria ser algo prazeroso e realizador para a humanidade, visto que é a prática que ajuda a socialização e a autoconstrução do sujeito, todavia as coisas não são bem assim, pois, nas ultimas décadas por motivos socioeconômicos o trabalhador é tido apenas como mão de obra, não como indivíduo, além de problemas como desemprego, más condições de trabalho ou perca / falta de benefícios necessários ao trabalhador, tornando-se ainda mais difícil a auto realização no contexto laboral. (PASCHOALIN, 2012).
A luz do pensamento de Christophe Dejours, Mendes (1995) explica que a forma de convivência e desenvolvimento dentro do contexto de trabalho oferece um impacto bastante significativo sobre a mente do indivíduo, em muitos casos podemos relacionar isto ao encontro abrupto de organização do trabalho e a história individual, onde toda uma vida de desejos e esperanças do trabalhador é desmerecida pela organização. Frente a tal pensamento podemos dizer que o indivíduo que trabalha se vê muitas vezes obrigado a deixar muitos de seus valores históricos e pessoais para acompanhar um impositivo desenvolvimento organizacional e deveras se encontra em contradição com seu eu íntimo, vestindo-se de um eu que se apresenta frente ao trabalho que desenvolve, sendo este eu um julgador diário de seus fazeres e que trazendo por vezes certo desconforto que produz o desvalor que divide o ser do fazer.
Vivenciamos hoje tempos de incertezas, frente a global desestabilização de nossa sociedade no enfrentamento a pandemia que se segue, tal momento de nossa história, nos faz perceber que apesar de todos os esforços em treinar, integrar, enculturar as pessoas que compõe as equipes de trabalho, vemos a luz dos acontecimentos que não conseguiu-se resultados satisfatórios nos trabalhos home office. Tal fato nos faz indagar, as Empresas estarão preparadas (almenos buscarão se preparar), para uma pós pandemia e os resultados incalculáveis de um novo eu que trabalhará? Tal pergunta se resume ao fato de que com todo esse isolamento social, os indivíduos (Trabalhadores) ao passo do limiar reflexivo de sua existência, do prelúdio daquilo que deixou de ser em detrimento do seu trabalho, frente ao porvir (mesmo que incerto) após o seu maior enfrentamento a incerteza futura.
Fatos como este, nos levam a reflexão de como nos comportaremos frente ao mundo do trabalho, o eu comigo, a nós com nós mesmos, o eu com a organização do trabalho e principalmente as organizações do trabalho com seu principal patrimônio, o ser que faz? É sabido que vivemos já em tempos globalizados e em meio a todas as tecnologias que nos cercam, porém, nosso presente nos mostrou que não estamos minimamente preparados para um distanciamento de nossos postos de trabalho! O pedreiro não fará seu trabalho longe do canteiro de sua obra, más o que dizer de um vendedor ou representante comercial? O quero aqui dizer, é que a exemplo do pedreiro, este não necessitará de tantos entraves burocráticos e administrativos para desenvolver seu trabalho (ou ele faz ou não), já um vendedor ou representante precisará por vezes passar pela aprovação de superiores, preencher documentos (ter acesso a sistemas), que muitas vezes entende minimamente ou desconhece, ou seja, seu home office não lhe será produtivo e desta forma lhe trará maiores preocupações ou ainda o desemprego.
O trabalho precisará transformar-se mais uma vez, o trabalhador e o trabalho necessitará tornar-se um só, o empregado precisará ter conhecimento do todo em seu trabalho e, seu trabalho deverá ser uma extensão de si, pois, o que constitui e/ou caracteriza um trabalho? Seria unicamente a atividade produtiva de quem vende sua força laboral, sem ter participação na propriedade dos meios de produção e nos produtos do trabalho, a não ser o salário?
Está aí uma boa discussão filosófica.