Príncipe Danilo e o corte de cabelo militar
Danilo Alvim, provavelmente nunca imaginou ao longo de sua juventude cheia de percalços, que no futuro seria para muitos a personificação de força e elegância. Valores tão caros na sociedade brasileira dos anos 40 e 50. Muito menos ter seu nome associado a um herói, após dezenas de fraturas na perna, em um acidente que o inutilizou por dois anos. Contrariando tudo e todos, voltou ao “seu campo de batalha”. Sua tão falada elegância, derivava do fato de
ser um dos poucos a conseguir manter a cabeça erguida enquanto defendia seu “front” ou quando liderava os seus comandados em direção a defesa adversária. Para milhares de pessoas e muitos que apenas ouviram falar dos seus feitos era popularmente conhecido como “o príncipe”.
Mesmo estando a milhares de quilômetros dos estádios de futebol do Rio de Janeiro, palco das campanhas do lendário Expresso da Vitória, do Vasco da Gama, um dos times defendidos pelo “príncipe Danilo”, qual a sua relação com os jovens estudantes, vestidos em suas fardas assemelhadas ao uniforme policial do Colégio da Polícia Militar, que ocupavam em grande número a Rua Tabira, na cidade do Recife. Aliás, qual a relação existente entre o famoso jogador de futebol e uma parte significativa do efetivo da Polícia Militar de Pernambuco, na década de 70, em pleno Regime Militar. O jogador, que chorou copiosamente na final da copa do mundo de 50, mesmo sendo derrotado em sua mais importante batalha, ditou moda no ambiente policial militar pernambucano.
A relação entre mundos tão distantes estava no corte de cabelo estilo militar, que de tão parecido com o famoso jogador de futebol se tornou comum entre os estudantes e os milicianos. Ao longo da História nunca existiu apenas um padrão para o corte de cabelo militar. Um modelo tido como referência surgiu ao longo das duas grandes guerras, sendo definido como a forma mais tradicional, que exigia um corte limpo, com as laterais quase raspadas por igual e o topo com um comprimento de no máximo 4 cm. Sendo referência para a maioria da forças militarizadas no mundo. A escolha passa por uma série de praticidades: combina com todo tipo de cabelo, padroniza o homem, dispensa vaidades, economiza nos gastos com produtos de limpeza, ajuda no processo de identificação, além de ser prático em tempos de guerras.
No caso dos alunos do Colégio da Polícia Militar, estes eram reconhecidos e se
reconheciam dentro e fora do espaço escolar, Tal reconhecimento ultrapassava os limites do padronizado fardamento. Estava implícito no corte de cabelo militar (príncipe Danilo). Sendo incorporado, mesmo entre os mais jovens o que na tradição militar vem a ser conhecido como o espírito de corpo, ou seja, sentimento de identidade de onde derivam modelos de conduta para o conjunto. O processo instigado pela adesão aos valores inerentes e característicos dos policiais militares no desempenho de suas funções e a significativa identificação dos integrantes do Colégio da Polícia Militar como participantes de um grupo social, fortaleceu no passado o projeto da Polícia Militar de organizar um colégio, que este ano completa 50 anos, conforme os princípios da ética policial, através de um conjunto de regras produzidas e reproduzidas de forma continuada.
André Carneiro de Albuquerque
Mestre em História Militar / Autor do livro: Capitães do Fim do Mundo
a.c.albuquerque@hotmail.com / andre@historiasolidaria.com.br